As micotoxinas são substâncias químicas tóxicas produzidas por fungos que, na criação de suínos, podem causar prejuízos econômicos e sanitários. Esse foi um dos temas discutidos no Painel Sanidade do 13º Simpósio Brasil Sul de Suinocultura (SBSS), nesta quinta-feira (12). O médico veterinário, mestre em Medicina Veterinária Preventiva e doutor em Microbiologia Paulo Dilkin palestrou sobre “O que não vemos: micotoxinas e suas interações (vacinas, performance, CDRS, desafios entéricos)”. O evento foi promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet).

Dilkin explicou que os fungos se desenvolvem bem e produzem as maiores concentrações de micotoxinas em regiões de climas tropicais e subtropicais, como o brasileiro, e possuem preferências por determinados substratos para se nutrirem. Crescem bem e contaminam cereais, principalmente amendoim, milho, aveia, trigo, cevada, sorgo e arroz.

Por serem contaminantes que nem sempre são visíveis, sua identificação, seu gerenciamento e seu controle se tornam complexos. O especialista expôs que o crescimento fúngico e a produção de micotoxinas em cereais podem ocorrer nas diversas fases do desenvolvimento, desde a maturação, colheita, transporte e processamento, até o armazenamento dos grãos. “Por isso, a secagem dos cereais é de fundamental importância para mitigar o desenvolvimento fúngico e a contaminação”.

Existem mais de 500 micotoxinas conhecidas que causam efeitos tóxicos em animais. O maior problema se refere aos prejuízos relacionados aos diversos órgãos e sistemas dos suínos, implicando na diminuição do desempenho produtivo. “As manifestações agudas da intoxicação são raras e ocorrem quando os indivíduos consomem alimentos com concentrações altas de micotoxinas. As lesões dependem de cada micotoxina, porém as mais encontradas dizem respeito às hepatites, hemorragias, nefrites e necrose das mucosas digestivas”, explicou Dilkin.

Por outro lado, a micotoxicose crônica é frequente. Ocorre quando existe um consumo de alimento com concentrações moderadas a baixas de contaminação. De acordo com o palestrante, cerca de 80% das dietas destinadas aos suínos estão contaminadas. “Nesses casos, os animais apresentam um quadro caracterizado pela redução da qualidade intestinal, imunossupressão, diminuição da eficiência reprodutiva, diminuição da conversão alimentar, taxa de crescimento e ganho de peso”, relatou.

As micotoxinas afetam primeiramente o sistema imunológico dos animais. O diagnóstico de intoxicações pode ser realizado pela observação dos sinais clínicos, dados produtivos do plantel e análise de dados ambientais referentes à colheita e armazenagem dos cereais utilizados na dieta dos suínos. Porém, o palestrante destacou que o diagnóstico definitivo sempre deve ser realizado através da análise da presença das micotoxinas na dieta dos suínos intoxicados.

Tratamento

O tratamento da micotoxicose suína é um grande desafio para a agroindústria. De acordo com Dilkin, a primeira medida a ser adotada nas intoxicações agudas é a substituição da dieta contaminada. “A adição de aditivos antimicotoxinas nas dietas constitui uma prática corriqueira de proteção dos suínos. Bons níveis nutricionais da dieta, aliados a um bom manejo, atendendo os requisitos de bem-estar animal, são importantes para recuperar o quadro clínico”.

O especialista explicou que, para o gerenciamento de micotoxinas, é importante estabelecer um plano amostral, adaptado conforme as condições de cada empresa, coletar amostras representativas que precisam ser analisadas e, a partir do resultado, interpretar como está o desempenho dos animais no campo e decidir se é necessário usar aditivos antimicotoxinas no alimento dos animais. “Além disso, é necessário armazenar o alimento de uma forma muito adequada. A solução é cuidar bem dos alimentos e, ainda, avaliar a possibilidade de usar os aditivos antimicotoxinas”.

Dilkin reforçou que, para mitigar os efeitos tóxicos, devem ser implementadas medidas de cuidado desde o cultivo dos cereais e manejo que inviabilizem o crescimento fúngico. A secagem e estocagem devem ser feitas em armazéns adequados para cada tipo de cereal. “Além disso, um programa de gerenciamento e controle de micotoxinas deve ser implementado na agroindústria suinícola. O monitoramento de micotoxinas em cereais e subprodutos com técnicas de amostragem adequadas e análises micotoxicológicas antes de sua utilização também é uma boa prática. O emprego de ácidos orgânicos pode auxiliar na conservação dos alimentos, quando permanecem por períodos prolongados estocados, especialmente em situações de risco. Por fim, a utilização de aditivos antimicotoxinas atualmente constitui a única medida realmente eficaz para conter os efeitos tóxicos das micotoxinas presentes nas dietas de suínos”, salientou o palestrante.

12ª Brasil Sul Pig Fair

Paralelamente ao 13º SBSS, ocorreu a 12ª Brasil Sul Pig Fair virtual. Participaram da feira em torno de 60 empresas de tecnologia, sanidade, nutrição, genética, aditivos e equipamentos para suinocultura. A feira foi um espaço onde as empresas geradoras de tecnologias apresentaram suas novidades e seus produtos, permitindo a construção de networking e o aprimoramento técnico dos congressistas.

Apoio

O 13º SBSS teve apoio da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), do Conselho Regional de Medicina Veterinária de SC (CRMV/SC), da Embrapa, da Prefeitura de Chapecó, da Unochapecó e da Sociedade Catarinense de Medicina Veterinária (Somevesc).

Fonte: MB Comunicação