Presidente da entidade que representa mais de oito mil suinocultores catarinenses explica os fatores que impactam no aumento da proteína animal aos consumidores

Uma reclamação recorrente entre os consumidores brasileiros nas últimas semanas é a alta no preço das carnes em várias regiões do país, que está perto dos 30%. Na era da conectividade, as pessoas reagem de forma raivosa ou utilizam o bom humor para manifestarem seu descontentamento. “Vendo ou troco por terreno”, estampa um ‘meme’ com a foto de um pedaço de picanha em baixo da frase, compartilhado certamente para milhares de grupos do WhatsApp.

Com as exportações em ascensão, o valor da proteína animal nas gôndolas dos supermercados também está em alta. Mas o que talvez a maioria da população não saiba é que o produtor de proteína animal precisou trabalhar por vários anos no vermelho para abastecer o mercado interno e internacional.

Lutas para manter a atividade viva

A Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS) precisou investir tempo e recursos nos últimos anos para participar de audiências com lideranças estaduais e nacionais com o objetivo de diminuir as cargas tributárias às famílias rurais, insumos com preço justo, dentre outras demandas emergenciais. “A carne não nasce na gôndola do supermercado. Para que o produto chegue com qualidade na mesa do consumidor, o sistema produtivo precisou encarar uma série de dificuldades”, desta o presidente da ACCS, Losivanio Luiz de Lorenzi.

Com base em dados coletados pela ACCS, nos últimos cinco anos o produtor integrado teve um prejuízo médio de R$ 0,42. Já o independente obteve a estreita margem de lucro de R$ 0,20 — o que é pouco diante de toda a instabilidade que o mercado oferece.

Em Santa Catarina, os suinocultores que conseguiram sobreviver aos períodos de “vacas magras” precisaram recorrer a financiamentos e renegociações das dívidas. A grande maioria aproveita o atual cenário positivo para colocar as finanças em dia ou fazer os investimentos necessários nas granjas.

“Hoje o que está salvando o nosso mercado é a China, que teve o seu rebanho dizimado pela Peste Suína Africana. O Chile tem comprado muita carne suína do nosso país, em especial, de Santa Catarina”, diz Losivanio.

Outro fator que desencadeia o aumento de preço das carnes nos supermercados é o alto custo de produção. “Hoje a saca do milho está próximo dos R$ 50 e a tonelada do farelo de soja R$ 1.300,00. Esse custo é repassado ao consumidor. Porém se a gente analisar o aumento pago ao produtor e o reajuste nas gôndolas dos supermercados, vamos perceber que a culpa não é nossa”.

Peste suína africana pelo mundo

De acordo com o presidente da ACCS, a demanda mundial por carnes brasileiras vai aumentar já que a Peste Suína Africana está dizimando rebanhos, principalmente no continente asiático. “Hoje são 17 países notificados pela OIE”, lembra.

Conforme a Embrapa Suínos e Aves, a PSA é uma doença altamente contagiosa, causada por um vírus composto por DNA fita dupla, pertencente à família Asfarviridae. A doença não acomete o homem, sendo exclusiva de suídeos domésticos e asselvajados (javalis e cruzamentos com suínos domésticos).

Alerta aos produtores

O presidente da ACCS comemora o atual cenário positivo para os produtores de proteína animal, mas pede cautela. “Precisamos ter cautela em ampliar o nosso plantel. A China é um país avançado em tecnologia e no futuro vai conseguir frear a PSA e retomar a produção. Nesse cenário, para onde iríamos enviar o excedente da produção brasileira?”, questiona Losivanio.

Fonte: ACCS