A agricultura e o agronegócio pontificaram de forma exponencial neste esdrúxulo ano – para o bem e para o mal – de 2020. As conjunturas do mercado mundial e as condições cambiais tornaram as exportações altamente competitivas e rentáveis, turbinando a balança comercial.

A eclosão de doenças e epizootias em vários países exigiu o sacrifício de planteis, a paralisação da produção e a retirada do mercado mundial de alguns importantes fornecedores de proteínas. As doenças grassaram na China, obrigando o gigante asiático a condenar milhões de toneladas de carne e, por via de consequência, ampliar as importações.

Esses fatores, aliados à disputa comercial entre Estados Unidos e China, beneficiaram o Brasil. As exportações verde-amarelas de carnes e grãos se agigantaram. No plano interno, o pagamento do auxílio emergencial a mais de 65 milhões de brasileiros (mediante desembolso governamental superior a R$ 212 bilhões)  estimularam o consumo e mitigaram os efeitos deletérios do desemprego.

Frente a esse novo cenário, o setor primário da economia cumpriu e cumpre de forma excepcional o compromisso de produzir com eficiência e qualidade alimentos para abastecer o País e sustentar os crescentes superávits da balança comercial. As condicionantes típicas desse quadro de pandemia, como era de se esperar, influenciaram diretamente o mercado de grãos.

O câmbio favorável e os bons preços internacionais inflados pela China estimularam as exportações de milho e soja. Mais de 80 milhões de toneladas foram embarcadas neste ano e as próximas duas safras já estão negociadas no mercado futuro. Obviamente que o encarecimento dos grãos e seu maciço escoamento ao mercado mundial preocupa a indústria da carne – em especial a avicultura e a suinocultura industrial – pois esses grãos são insumos essenciais e constituem parcela majoritária na formação de custos.

O equilíbrio no abastecimento interno de grãos deve ser uma preocupação geral, inclusive porque o sistema de produção integrada de aves e suínos – altamente demandante de milho e soja – reúne milhares de produtores rurais e agroindústrias em uma parceria que tem mais de 50 anos em Santa Catarina. Qualquer proposta que surja nesse sentido não deve e não pode distorcer as leis de livre mercado porque, quando isso ocorre, quem paga a conta é quem produz. Nesse particular, talvez fosse oportuno rever a política de armazenagem e de estoques reguladores.

Avaliações otimistas projetam um cenário para 2021 no qual, novamente, a agricultura e o agronegócio protagonizarão uma nova escalada de crescimento. Mas é preciso cautela. Há sérias preocupações sobre o desempenho do consumo no mercado doméstico, visto que não haverá mais o auxílio emergencial e o Governo Federal enfrentará desdobramentos da crise fiscal que já é aguda. Com a esperada superação da pandemia, deve iniciar a retomada  do crescimento econômico, mas é difícil prever se será lenta e gradual ou em “V” como acredita o Ministério da Economia. Por outro lado, as propostas de reforma tributária em discussão no Congresso incluem novas formas de tributação do agro. Além disso, é razoável supor que as extraordinariamente positivas condições do mercado externo não perpetuarão.

Essas questões exigem ação e reflexão. De qualquer forma, não há dúvidas, o agro continua sendo a locomotiva da economia nacional.?

Por José Zeferino Predozo – Presidente da Faesc e do Senar/SC