Existe uma nova ordem mundial?

A mídia ansiosa, cercada de fake news; a diversidade aflorada; o cuidado com a saúde; a renovação da ética e a paranoia em “sempre fazer a coisa certa”, tem pautado os últimos acontecimentos do nosso dia a dia. Alguns fatos tem de ser listados para compreendermos o que está por vir e como isso pode implicar no futuro da produção de proteína animal.

  1. A geração Z continua avançando

E serão cerca de um terço da população do planeta e um quinto da força de trabalho em 2020. “Pela primeira vez na história moderna, cinco gerações trabalharão lado a lado”, diz Michael Dell, CEO e presidente da Dell Technologies. Teremos que aprender a trabalhar nossas diferenças.

Ao contrário do que muitos pensam, essa nova geração não é egoísta e individualista. Possuem competências que, quando desenvolvidas, trazem resultados brilhantes e, como grupo, estão sintonizados para o desenvolvimento humano e do planeta. Com isso, a segurança alimentar vira foco e é uma preocupação crítica no negócio avícola.

– Startups estão desenvolvendo materiais antimicrobianos que não exibem odor ou manchas em ambientes agressivos e eliminam vírus e bactérias em seu contato, além disso o uso de ferramentas avançadas de análise de dados e bioinformática para detecção e identificação de sorotipos de Salmonella spp. em amostras retiradas de carcaça está fazendo com que esse tipo de contaminação não chegue mais aos mercados;

– Probióticos estão substituindo os antibióticos, como antimicrobianos contra patógenos e protótipos geneticamente trabalhados por seleção estão tendo especificidade para combater Salmonella, Campylobacter e Clostridium;

– Estão desenvolvendo vacinas contra a coccidiose em uma plataforma de tecnologia que insere genes para antígenos específicos em plantas de milho;

– Misturas Fitogênicas estão sendo criadas para controlar quimicamente os receptores específicos de bactérias e romper fisicamente a cutícula da célula como moduladores de flora intestinal. As misturas são compostas de terpenos que ocorrem naturalmente em plantas;

– A tecnologia de edição de gene CRISPR insere um biomarcador no DNA de pintos machos de poedeiras criando uma assinatura óptica em embriões detectáveis ​​na operação de incubação. Após a varredura dos ovos que serão incubados, aqueles com embriões machos são desviados para a produção de alimentos, evitando assim a incubação e posterior descarte desses animais. Está em desenvolvimento o uso da nanotecnologia para detecção de vírus com um dispositivo de nanotubo que pode capturar o vírus da gripe aviária para detecção precoce.

Todas essas inovações já são fruto dessa mescla de gerações.

  1. A África Subsariana será o novo “Eldorado da proteína animal”

A busca por terras agriculturáveis, a riqueza de seus minérios e a visão de uma economia emergente, faz com que, em breve, a África seja a aposta para novos investimentos a médio e longo prazos. A Ásia já utilizou 80% das terras agriculturáveis potenciais. A China está na dianteira com investimentos pesados e compra de terras e minas na República Democrática do Congo, Angola e Sudão, para que atendam seus interesses de crescimento. Nos próximos anos, o consumo de carnes na África ainda estará bem longe dos 93 kg de um australiano ou dos 78 kg de um brasileiro. Estima-se, hoje, que o consumo per capita de carnes de um africano está por volta de 14 kg e que, com esses investimentos e a diminuição dos conflitos, esse consumo aumente rapidamente e o continente se torne uma oportunidade viável para a expansão do consumo de proteína animal.

  1. O mundo no momento só tem uma certeza: ocorrerá uma retração econômica

“A crescente desigualdade, uma força de trabalho pouco adaptada às rápidas mudanças tecnológicas, a instabilidade política e a enorme carga de endividamento dos governos, corporações e indivíduos, tem levado os economistas preverem uma desaceleração global para 2020,” adverte o economista Dambisa Moyo. Com esse panorama, as empresas se preparam para a próxima recessão. Muitas multinacionais estão reduzindo a força de trabalho, preventivamente, para permanecerem enxutos e preservarem os lucros caso ocorra uma recessão; estão trabalhando demissões estratégicas, oferecendo opções de compra de ações da própria empresa apenas para funcionários mais experientes, ou seja, os mais caros. Fusões, fechamento de plantas, diminuição do plantel e, consequentemente, dos seus quadros de funcionários, são ações preventivas de grandes empresas de proteína animal que está ocorrendo nesse momento.

  1. Aprender já não basta

Os profissionais vão ter que se concentrar em ações. Após a explosão do setor de aprendizado com seus MBAs, especializações, mestrados, doutorados, pós-docs. e todos os treinamentos, simpósios e cursos por que passamos, estamos mentalmente exaustos e não sabemos o que fazer com tanta informação. Acabou a era do “algo a mais”. Está na hora de pôr em prática e ter foco no que aprendemos, de forma consistente e não na forma on-line e superficial que nos abarrota de informações desnecessárias e, muitas vezes, de origem duvidosa. O uso de informação imprópria e a falta de ética faz com que a “queda de executivos”, pelo mau comportamento, não pare de aumentar. Os profissionais terão que ser cada vez mais questionadores. Em um mercado de trabalho restrito, o profissional pode se dar ao luxo de ter princípios. Esse instinto é particularmente potente entre os trabalhadores da geração Y e Z que carregam um idealismo que entra em choque com os gerentes corporativos. A pensadora de gestão Whitney Johnson diz que “a próxima tendência é focar na melhoria do nosso comportamento, não apenas no nosso conhecimento, a fim de aplicar essas lições ao nosso trabalho e à vida pessoal”. Essas novas gerações estão sendo consideradas a nova consciência da corporação e estão moldando os conceitos de produção: cage free, orgânico, antibiotic free, entre outros em nosso setor.

  1. A IA (inteligência artificial) estará em todo lugar

E está cada vez mais presente no seu cotidiano de trabalho. “Essas tecnologias estão sendo incorporadas em uma maior quantidade de ferramentas que utilizamos todos os dias e quando elas se tornam invisíveis é sinal que realmente estão causando um grande impacto”, diz Sharon O’Dea, cofundadora da consultoria de comunicações Lithos Partners e uma das Top Voices do LinkedIn. A quantidade crescente e a complexidade dos dados disponíveis que uma empresa avícola dispõe não é tarefa fácil de se analisar (termo conhecido como “big data”), no entanto é uma grande oportunidade. Então, é apropriado que inovações tenham lidado com esse desafio.

O uso de sensores e softwares com unidades movidas à energia solar informam os níveis CO², amônia, consumo de alimento, consumo de água, temperatura, umidade, peso diário dos animais e sensação térmica por meio de portais da web e aplicativo móvel para produtores, fábricas de ração e integrações. Softwares de modelagem simulam o consumo de água, energia, esgoto e mão de obra, rendimentos e produtividade de plantas de processamento de aves. Os modelos simulam todos os processos que requerem uso de água. Projetado como uma ferramenta de tomada de decisão com recursos preditivos, utilizando módulos para processos de mão de obra, água, energia e águas residuais. Os softwares de Controle Estatístico de Processo (CEP) usam dados de aprendizado estatísticos e dados baseados em histórico, bem como resultados em nível de fábrica, logística, granjas, incubatórios e frigoríficos, para modelar dinamicamente a cadeia e prever resultados. Eles permitem a identificação e resposta mais rápidas e precisas a possíveis mudanças nas variáveis ​​que afetam a segurança alimentar ou os resultados da produção em toda a cadeia de fornecimento de aves. O gerenciamento de dados com o uso da tecnologia blockchain para rastreabilidade faz o gerenciamento da cadeia de valor e usa análise preditiva e de aprendizagem profunda para exibir os KPIs e prever o desempenho futuro em toda a cadeia de suprimentos. Uma visão integrada dos dados operacionais permite que o produto acabado seja rastreado através da cadeia de valor em um nível minucioso de detalhes. A plataforma baseada em nuvem usa a tecnologia blockchain e redes neurais de aprendizagem para monitorar as operações de aves em larga escala e entre regiões. Os softwares de modelagem de programação não linear fazem simulações de cenários e auxiliam as tomadas de decisões em tempos de crise e de máximo rendimento econômico.

 

  1. O escritório está ficando vazio

Com a superpopulação das cidades e o aumento dos preços de moradia, os empregadores terão que pagar mais para que seus funcionários possam residir em áreas urbanas. Algumas empresas abrirão um escritório em uma cidade menor; outras permitirão que os funcionários trabalhem em casa; as agroindústrias estão tirando seus escritórios das grandes cidades e pulverizando em estações no interior, onde concentram suas operações. Segundo Glenn Kelman, CEO da Redfin, “a própria existência do escritório começou a declinar anos atrás com o desastroso projeto sem paredes, um aglomerado de pessoas usando fones de ouvido e enviando mensagens loucamente – para citarmos apenas alguns problemas. Mais recentemente, o movimento para dar aos pais que trabalham mais flexibilidade fez com que os gerentes hesitassem em avaliar com base no comparecimento ao local de trabalho. E agora, Slack, Github, Jira e outras ferramentas para equipes virtuais estão sendo adotadas por trabalhadores de todas as indústrias. As pessoas terão mais tempo para trabalhar e para se divertir”. Nesse sentido, os gastos com serviços e o consumo de alimentos tendem a aumentar conforme a sociedade tenha mais tempo livre para lazer.

  1. Uma guerra fria entre EUA e China será travada

E não é as das commodities como milho, soja ou o “complexo carnes” como esperamos. Apesar das atuais tensões, as economias dos EUA e da China estão muito interligadas para que uma guerra comercial aumente verdadeiramente no curto prazo. Uma guerra fria é mais provável em cinco ou dez anos, quando uma recessão econômica e uma animosidade sustentada desfizerem esses laços. “A luta que está sendo travada hoje é a da tecnologia: os chineses com seu modelo de IA e os americanos com outro modelo de IA. Os chineses com a internet deles e os americanos com a nossa internet”, diz Ian Bremmer. A disputa desses mercados e da captura de informações de bilhões de consumidores é hoje o principal alvo das duas potencias. Isso dará alguma trégua aos mercados de commodities e trará vantagens para países como o Brasil, para transformar milho e soja em valor agregado como proteína animal.

  1. A luta contra a pobreza extrema aumentará

Nos últimos 25 anos, mais de um bilhão de pessoas saíram da pobreza extrema, e a taxa de pobreza global está no nível mais baixo já registrado na história, de acordo com o Banco Mundial. Os investimentos na África Subsariana, o desenvolvimento da Índia e até mesmo o Brasil em sua retomada de crescimento, retiram os cidadãos da margem da sociedade e é o que os economistas chamam de investimento em “capital humano”. Para isso, “é preciso priorizar investimentos em saúde e educação, e não apenas em infraestrutura, quando países de fora fizerem seus investimentos”, diz Stephen Yeboah, o ganês fundador da Commodity Monitor. Essa é uma forma de garantir maior crescimento orgânico de consumo de proteína animal a nível mundial.

  1. O que importa no trabalho é sua humanidade

A humanidade se tornará o nosso maior valor. Quando os robôs tomarem todos os nossos empregos, o que nos restará? Sim, a nossa criatividade e a capacidade de relacionamento serão cada vez mais importantes para nossa carreira, pois são elementos que não podem ser automatizados. Segundo Isabelle Roughol, “os dados do LinkedIn mostram que as maiores lacunas de habilidades, a diferença entre o que os empregadores procuram e o que os trabalhadores possuem, ainda estão relacionadas às habilidades sociais: a comunicação oral está no topo do estudo Emerging Jobs, seguido de perto por gestão de pessoas, gestão do tempo e liderança. Para os empregadores, isso significa: cuidar de seus funcionários como pessoas inteiras, não apenas como executores de tarefas”. Já a robótica e a automação geraram intenso interesse pelo seu potencial para reduzir o trabalho. Estar de plantão 24 horas por dia, 7 dias por semana e relatar os dados acumulados, é hoje o principal entrave e motivo da alta rotatividade nas Agroindústrias, em um processo de produção que não para. Para isso, estão sendo desenvolvidos robôs, como os que “navegam” no chão dos aviários, usando sensores de imagem e aprendizado binário, tendo a capacidade de detectar e recolher ovos no chão, detectar temperaturas ambientais fora do conforto térmico das aves, gases como CO² e amônia e níveis de intensidade de luz. Robôs autônomos suspensos no teto do aviário dispõem de inteligência artificial e sensores que avaliam as condições do ambiente, saúde, bem-estar e falhas de equipamentos, e planejam continuar adicionando recursos, incluindo a remoção de aves mortas e a análise da umidade da cama. No abatedouro, a detecção com visão de câmeras de alta velocidade é capaz de detectar e classificar filés de peito em velocidades normais de linha, sem entrar em contato ou danificar os filés. A rigidez muscular é medida e quando detectado peito amadeirado os filés caem em um transportador e são destinados à graxaria.

  1. Nem tente adivinhar o preço do milho!

Os mercados de commodities permanecerão imprevisíveis. As pessoas que fazem previsões sobre o futuro dos preços de commodities têm um ponto em comum: elas estão todas erradas. Nenhuma das previsões de consumo de milho para produção de etanol se concretizaram. A descoberta do xisto alterou completamente o mercado do petróleo e praticamente garantiu um estoque gigantesco aos EUA. A revolução dos automóveis híbridos e elétricos vão empurrar ainda para mais distante essa previsão. Os céticos, porém, suspeitam que pode haver secas, enchentes e todo o tipo de catástrofes climáticas capazes de alterar o mercado de commodities,como os conhecidos El Niño ou La Niña. Acredito que essa seja a verdade máxima sobre o mercado de commodities: ele desafia todas as tentativas de previsão, e mais ainda, de seu controle, diz Bethany McLean, autora do livro Saudi America: The Truth About Fracking and How It’s Changing the World. O que realmente importa para o mercado de proteína animal é que os estoques de passagem estão altos e as produtividades crescentes, ou não?

  1. Você consumirá aquele inseto na salada

O setor de varejo já está se acostumando com a ideia, o que significa que você será o próximo: a Sainsbury’s, no Reino Unido; a Provigo, no Canadá; e o Carrefour, na Espanha, colocaram insetos em suas saladas no ano passado. Insetos têm mais proteína do que qualquer outra carne e são anunciados como um modo ecologicamente correto de alimentar uma população crescente. Eles serão transformados em farinha rica em proteína ou usados para alimentação animal em larga escala, substituindo soja e farinhas de origem animal. “Pode contar que, se eu tivesse meio bilhão de dólares para investir agora, uma grande parte seria alocada para essa área emergente”, diz o futurista e Top Voice do LinkedIn QuHarrison Terry. “Atualmente, mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo consomem insetos regularmente como fonte de proteína. No entanto, estima-se que o total do setor é de apenas US$ 406 milhões. Falta apenas um produto de grande sucesso para tornar este setor multibilionário”.

  1. O número de pessoas no mundo que não consomem proteína animal é crescente

Estima-se hoje que 12% da população mundial seja vegetariana, ovo-lácteo-vegetariana ou vegana, por opção. E essa tendência está crescendo de forma exponencial. Impulsionada pela ideologia das novas gerações, as questões como: maus tratos aos animais, que toda a vida deve ser preservada, entre outros conceitos de preservação e bem-estar animal está ganhando cada vez mais adeptos. Como exemplo disso, a empresa americana Beyond Meats, que faz versões de carnes vegetais, conhecida por desenvolver em laboratório hambúrguer, frango e salsicha 100% vegetais, espera sair do seu primeiro dia na Bolsa valendo US$ 1 bilhão. Com a oferta pública, a Beyond Meat será a primeira empresa que fabrica carne com base vegetal a ser listada na Bolsa. Entre as rivais que devem seguir o exemplo está startup Impossible Burger, conhecida pelo seu hambúrguer que “sangra”. A Beyond Meat mira um mercado em ascensão nos EUA. Segundo estudo feito pela consultoria Nielsen, encomendada pela Associação Plant Based Food, os americanos gastaram US$ 670 milhões em carnes de base vegetal no primeiro semestre do ano passado. O reflexo é visto nos ganhos da própria empresa. Quando entrou no mercado, em 2016, a companhia tinha uma receita de US$ 16,2 milhões, dois anos depois, a cifra chegou a US$ 88 milhões.

E aí gostou? Eu quero ouvir a sua opinião, quais são suas ideias e previsões para o futuro do mercado de proteína animal?

Fonte: Nutrição Animal – Agroceres Multimix