Por Arthur Rodrigo Ribeiro*

“Com a disparada das matérias primas e a valorização das proteínas o mercado passa a olhar para um copo d’água meio cheio”. Foi com esta perspectiva que o CEO da Polinutri, Paulo Roberto Andrade, deu as boas-vindas para os mais de 170 profissionais da cadeia de produção de proteína animal presentes no Web Debate Polinutri realizado em novembro. “Apesar de lutarmos com os aumentos de mercado impulsionados pelo dólar, vemos as proteínas, em geral, respondendo de maneira positiva e, em partes, absorvendo os custos de produção”, analisa o CEO.

Um evento ímpar, organizado pelo time de marketing da Polinutri e conduzido pelo Diretor Comercial e Marketing da companhia, Otavio Fregonesi, que trouxe conjunturas para diversas cadeias de produtivas apresentadas por um dos mais cotados especialistas de mercado do agronegócio, o Engenheiro Agrônomo e Doutor em Economia Aplicada, Alexandre Mendonça de Barros, da MB Agro.

“Um ano cheio de excepcionalidades”, iniciou o consultor, com destaque para os mercados de soja e milho. Antes de entrar no eixo central da demanda apontada pelos clientes Polinutri, o profissional resumiu o momento atual. “Com a pandemia houve um aumento do ritmo das exportações jamais visto em outras geografias e agora vemos as consequências nas formações dos preços internos”, apontou.

Cenário que contribui com o aumento generalizado dos preços de alimentos em todo o mundo em função da corrida supermercadista – estocagem de alimentos – e em outros casos países que foram penalizados pela deficiência na distribuição. “Com o fechamento do Food Service toda a demanda se voltou para o Varejo que pressionado impulsionou a alta de preços dos alimentos. Setor que se adaptou de forma ágil. Somente os dois grandes varejistas nacionais contrataram 10 mil pessoas para atender a demanda e digitalizaram de forma muito rápida seus processos para otimizar suas operações”, pontuou.

No entanto, o principal canal de consumo de carne ao redor do mundo é o Food Service que impactado negativamente moldou a formação dos preços das carnes. O exemplo dado foi a interrupção de 40% dos abates de suínos e bovinos nos Estados Unidos por causa da Covid-19. “Até recentemente a indústria americana estava perdendo 50 dólares por cabeça, um problema muito sério”, inseriu Alexandre.

Fatores que geraram tendência inequívoca de queda. “Prova disso foram registrados nos últimos dois meses, quando os preços dos grãos passaram a subir em dólar”, alinhou e continuou: “Resultado de uma situação macroeconômica externa e interna. Ou seja, jamais vimos um elevado ritmo de exportações e alta do dólar, mas sem a valorização da nossa moeda, o Real. Não vemos e nem tivemos alívio nesta relação, fato também inédito.”

O movimento interno de tendência de elevação se deu pela depreciação do câmbio e com isso o cenário ideal para as exportações brasileiras. “Temos que ter em mente que isso não está relacionado a elevação dos preços em reais das commodities, mas a do barateamento da logística nacional em dólar. Outro fato nunca visto e que teve um peso na formação de preços das commodities”, incluiu Alexandre.

Na sua avaliação, aos olhos dos chineses, com a soja a US$ 8,40/bushel e milho US$ 3,00/bushel, valores muito abaixo da história recente, e os baixos custos logísticos compuseram a fórmula perfeita para compra de lotes de soja em uma velocidade sem precedentes. “Fato que pegou o mercado doméstico de surpresa em um primeiro momento”, enalteceu e atestou a posição apontando que o Brasil exportou recentemente 45 milhões de toneladas de soja em um período de três meses. “Uma quantia representativa já que este foi o mesmo volume exportado pelos Estados Unidos durante todo o ano de 2019”, lembrou.

Outro elemento que deve ser levado em consideração nesta composição foi o mercado interno. Segundo o consultor, o Auxílio Emergencial foi responsável pela injeção de um montante mensal de 50 bilhões de reais na economia. “Ao compararmos com o Bolsa Família, criado em outra gestão, o programa foi e é responsável pela inserção de 33 bi ao ano. Portanto, estamos vendo uma transferência de renda jamais vista, mesmo com a queda real da massa salarial”, discorreu.

Já os motivos pelos quais não há depreciação do câmbio, na avaliação do consultor, estão amparados em dois fatores: baixa taxa de juros e os preços dos produtos em geral. “A Selic pela primeira vez na história chegou a 2%. Já a inflação ocorre pelo desabastecimento dos estoques. Isso gera desconfiança e ela impacta nos investimentos. Acompanhamos investidores externos deixando de arbitrar devido a Selic, inflação e volatilidade de câmbio. Vimos sair do Brasil quase 40 bilhões de dólares por conta deste cenário”, citou. E por fim, não menos importante, o déficit público, próximo de R$ 800 milhões. Esses são alguns elementos citados pelo consultor que resultam no baixo fluxo de entrada de dólar no Brasil. Uma química que resultou na depreciação do câmbio e na alta dos preços dos produtos em dólares. “Todos ingredientes macroeconômicos que determinam os altos preços dos grãos que estamos vendo”, alinhou.

Já pelo lado fundamentos dos mercados agrícolas, o consultor considerou a Peste Suína Africana (PSA) na China principal responsável pelas altas. Problema sanitário que impactou na drástica redução do rebanho suíno e de matrizes daquele país, mais de 40% do plantel do maior produtor da carne mais consumida do mundo, que de um rebanho de 350 milhões de cabeça, devido aos abates sanitários, mantiveram algo próximo a 200 milhões. Cenário que exigiu estabilização do mercado acarretando em compras descomunais. “Hoje estão virando quase que 40% das importações mundiais de carne suína e 1/3 das importações mundiais de carne vermelha”, informou Alexandre e destacou que este movimento foi o principal responsável pela explosão de preços do suíno e da arroba no mercado doméstico.

Entretanto, tudo indica para uma retomada. “Dados de setembro apontam para uma retomada de 27 milhões de matrizes e o estabelecimento do rebanho próximo de 260 milhões de animais”, discorreu em meio a um recente trabalho realizado pela sua equipe que aponta grandes famílias chinesas investindo na suinocultura chinesa. “Esse retorno revela a dimensão da grande pressão por compra de grãos pela China para um rebanho que com tecnologia embarcada, diferentemente do passado”, enalteceu e sugeriu: “Em caso de 100% de restabelecimento do plantel a China precisará de 25 a 30 milhões de toneladas por ano. Por isso já compraram a safra de 21, 22 e com vistas para 23.”

Uma questão que o consultor deixou no ar foi: “Será que os chineses também demandarão milho”. Isso porque o país possui uma cota de importação 7,2 milhões de milho, mas que nunca foi cumprida. Atualmente, informou Alexandre, o país produz e consome 260 milhões. “Nos últimos dois meses eles compraram dos Estados Unidos mais de 16 milhões de toneladas de milho e sorgo num passo de três semanas”, adiantou o consultor e adicionou: “Há algo diferente acontecendo na China. Não achamos difícil os chineses terem que importar 20 e 30 milhões de toneladas de milho com vistas à 2021. Se assim for haverá um novo comprador, o maior de todos, no mercado mundial do milho que é hoje de aproximadamente 1,2 bilhão de toneladas, podendo gerar disruptura em algum dos países players, no caso Estados Unidos (55 milhões de toneladas), Brasil (42), Ucrânia e Argentina (32 a 34).”

Em riste aos estoques de grãos (soja e milho 20/21) o consultor acredita que os olhos estarão voltados para a América do Sul. “O Brasil teria potencial para colher uma safra de 133 milhões de toneladas de soja e Argentina 54, mas dependerá da força da La Ninã e fatores adicionais – lê-se econômicos –, em especial do nosso vizinho”, projetou baseado em suas análises e expectativas de mercado. Para a oferta e demanda da commodity milho, suas projeções indicam uma safra mundial 2020/21 de 1.159 bilhão. “Embora haja riscos devido as condições climáticas – efeito La Ninã – os preços tendem a seguir elevados”, analisou.

Outro componente que fez puxar a curva ascendente foi a compra de commodities por fundos de investimentos devido a mudança da política monetária americana que passou a aceitar inflação acima da meta de 2% devido a queda do PIB e a alta de desemprego. “Quando o dólar perde valor os grandes fundos optam por compras de ativos cotados em dólar, em geral commodities, em função do seu ciclo de recuperação”, salientou Alexandre Mendonça de Barros.

O que afaga este caldeirão de elementos que vem ditando o cenário mundial, na leitura do consultor, está na recuperação econômica para 2021. Isso pela retomada – ainda que lenta – do Food Service e da normalidade dos demais segmentos econômicos com a chegada da vacina, conjuntura que, na sua avaliação, demandará das cadeias produtivas mais alimentos. “Demanda ainda maior que neste ano e por esta razão projetamos também tendências de alta de preços”, destacou.

Renato Felix, Coordenador de Compras da Polinutri, corrobora as projeções. “Essas commodities balizam a produção de proteína animal e quando avaliamos os coprodutos também percebemos consideráveis altas. Por isso destaco que este é um momento de atenção onde informações de qualidade passam a ser ferramentas valiosas para as melhores tomadas de decisão.”

Todos esses elementos dão elementos para sustentar os negócios de forma mais clara: “Nossas expectativas são de um 2021, mesmo ainda cheio de incertezas, muito mais positivo devido a possibilidade da chegada de uma vacina e por conta da recuperação da economia nacional vista no último trimestre, até mais rápido do que as previsões sugeridas no início da pandemia. Razões pelas quais projetamos ganhos para todo o setor do agro”, encerra Paulo Roberto Andrade.

Para Otavio Fregonesi, o resultado do evento imprimiu o compromisso da Polinutri com seus clientes e fornecedores. “Queremos nossos clientes muito bem embasados, não só com as questões nutricionais, core da nossa companhia, mas com a prosperidade dos seus negócios e por isso trouxemos este Web Debate Polinutri”, finalizou.

*Arthur Rodrigo Ribeiro é jornalista profissional – MTB 50.777, Assessor de Comunicação Polinutri, editor de revistas do segmento e fundador da Agência Giracom especializada em Comunicação & Marketing Agro

Foto-Alexandre Mendonça de Barros

Fonte: Assessoria de Imprensa