A fase 1 do acordo comercial entre Estados Unidos e China deve ter efeitos limitados nas exportações de aves e suínos do Brasil para o gigante asiático, avalia o vice-presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin. “Nesse texto, não há menção de redução de cotas ou de tarifas da China à carne dos EUA, embora essas reduções ainda possam acontecer”, disse ele ao Broadcast Agro.

“Além disso, houve alguns mecanismos no texto que a China já implementou no Brasil. Por exemplo, falou-se em facilitação de habilitação de plantas dos EUA. No ano passado, nós já tivemos plantas habilitadas via videoconferência”, afirmou, ressaltando a boa relação que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, cultivou com o gigante asiático.

Ele disse, ainda, que a demanda chinesa é tão volumosa que pode absorver as exportações de Brasil e Estados Unidos. A China tem aumentado suas importações de proteína animal em decorrência da peste suína africana, que vem dizimando os plantéis locais de suínos. “Os EUA até podem vender mais para a China, mas a demanda reprimida na Ásia ainda é muito maior do que a nossa capacidade de exportação”, afirmou Santin, lembrando que outros países do continente, como Vietnã, também são fortemente afetados pela doença e têm a mesma necessidade de importar carne.

Santin vê as medidas sanitárias incluídas no acordo EUA-China como algo que também pode beneficiar o Brasil. “Os mecanismos colocados com os EUA podem ser um modelo de trabalho que a China vai implantar no resto do mundo”. O documento divulgado inclui um protocolo bilateral para uniformização dos processos em relação a doenças de frango, como gripe aviária, cooperação na área de peste suína, uniformização de padrões de idade e uso de ractopamina em bovinos, além de preenchimento de cotas tarifárias e aprovação de eventos transgênicos.

Nós não temos influenza aviária e somos livres de peste suína africana”, lembrou o executivo da ABPA. “Mas mesmo assim, quando o acordo faz referência a organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), entre outros, percebe-se que estão criando um ambiente em que a China deve respeitar as regras globais. Provavelmente, elas valerão para nós também”, completou.

No último ano, as exportações para a China ajudaram a elevar o volume embarcado pelo Brasil. O País aumentou em 15,7% o volume embarcado de carne suína in natura em 2019 ante 2018, para 635,5 mil toneladas; a receita subiu ainda mais, 56,2%, para US$ 1,741 bilhão.

Por: Augusto Decker
Fonte: Estadão Conteúdo