No dia 1º de setembro entra em vigor a instrução normativa editada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) que reconhece como livres de febre aftosa sem vacinação os estados do Acre, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia e parte dos territórios do Amazonas e Mato Grosso. No Acre, a parceria entre a Embrapa e o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) permitiu organizar as informações sobre o rebanho bovino de 3,4 milhões de cabeçase os dados sistematizados subsidiaram a emissão de relatórios enviados ao Mapa, requisito para o processo.

“Foi possível identificar que 95,2% das propriedades rurais do Estado possuem até 500 cabeças de gado. São 22.070 pequenas e médias unidades produtivas que concentram 1,900 mil cabeças de gado, quantitativo que representa 56% do rebanho do Acre”, afirma o pesquisador da Embrapa Acre, Judson Valentim.

O conhecimento detalhado dos dados sobre a evolução e movimentação dos rebanhos pecuários do Acre também trouxe benefícios para a ciência, permitindo à Embrapa focar suas pesquisas nos segmentos mais importantes desta cadeia produtiva. “Em 2019, a pecuária gerou um Valor Bruto da Produção (VBP) de aproximadamente R$ 1 bilhão de reais e foi responsável por cerca de 50% de todo o VBP agropecuário do Acre”, destaca Valentim.

Para o presidente do Idaf, José Francisco Thum, a organização de informações, como a geolocalização de propriedades rurais e a análise de trânsito de animais, foi fundamental no processo de obtenção da área livre de aftosa sem vacinação e a Embrapa teve um papel importantíssimo nesse trabalho. “Por meio de um acordo de cooperação entre as duas instituições foi possível realizar algumas análises exigidas pelo Mapa para que a equipe pudesse tomar a ecisão com maior segurança, baseada sempre em critérios técnicos”, conta.

Há 15 anos o Acre foi considerado área livre de aftosa, mas com exigência de vacinação de todo rebanho duas vezes por ano. O Mapa editou, no dia 11 de agosto, instrução normativa que desobriga o Acre da necessidade de vacinação do rebanho. “Isso significará a ampliação das possiblidades de acesso da carne produzida no Estado, a mercados externos que remuneram melhor um produto de qualidade, com certificação sanitária e produzido à pasto. Tanto a boa infraestrutura de fiscalização do Idaf como a gestão eficiente das informações do rebanho foram exigências do Mapa para garantir a efetividade do sistema de governança sanitária local”, afirma o pesquisador da Embrapa Acre, Judson Valentim.

Pequenas e médias propriedades
Atualmente, cerca de 80% dos 25 mil produtores rurais acreanos envolvidos com a atividade pecuária trabalham com a venda de bezerros. São comercializados cerca de 550 mil bezerros por ano, segundo dados levantados pela equipe do Idaf. Os animais são vendidos para médios e grandes produtores, que atuam com as fases de recria e engorda.

As propriedades com rebanhos de até quinhentas cabeças, status de produção pecuária predominante no Acre, desenvolvem, principalmente, a atividade de cria. “Com a certificação sanitária, certamente haverá maior demanda e valorização da produção de bezerros, uma importante fonte de renda familiar”, comenta Valentim.

Mercado de carne
No contexto do mercado de carnes, o reconhecimento de Área Livre Sem Vacinação possibilitará ao Acre, futuramente, alcançar novos mercados internacionais. De acordo com o presidente do Idaf, alguns países exigem essa condição sanitária e a instrução normativa do Mapa é um passo importante para o reconhecimento pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).

“Quando conseguirmos esse reconhecimento na esfera internacional estaremos aptos a oferecer os produtos de origem animal do Acre para outros países. Com essa abertura, haverá uma tendência natural de valorização do rebanho acreano e, com isso, uma melhor remuneração para os rodutores rurais do Estado, bem como um maior aperfeiçoamento do segmento pecuário e mais investimentos no setor agroindustrial, o que ampliará o uso de novas tecnologias no campo”, comenta Thum.

Para o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Acre, Assueiro Veronez, o status de zona Livre Aftosa significa ganhos na qualidade de carne e na confiança sanitária no produto. “O consumidor passou a ser muito exigente e conquistar mercados assim irá resultar em ganhos para toda a cadeia produtiva. Nós temos nichos muito valorizados que não compram a carne brasileira porque se pressupõe que havendo vacinação, é possível que o vírus esteja circulando e muitos países não querem correr o risco de introduzir o vírus em seu território”, comenta.

Segundo Assueiro , são cerca de 40 anos de trabalho e parceria entre produtores rurais e poder público para que se chegasse nesse estágio. “Hoje nós temos o Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Acre (Fundepec) que arrecada recursos do produtor rural sempre que ele comercializa gado e esse fundo tem apoiado o Idaf com contratações de técnicos e infraestrutura. Agora precisamos trabalhar com o objetivo de manter esse status sem vacinação e para isso vamos precisar de atenção veterinária refinada e de um sistema de vigilância atuante”, comenta.

De acordo com o secretário de Produção e Agronegócio do Acre, Edivan Azevedo, os benefícios vão além dos ganhos econômicos. “Ao se fortalecer, a atividade pecuária gera renda, empregos e impostos, permitindo maior investimento na recuperação de áreas degradadas e já alteradas, que podem adotar o sistema integração lavoura e pecuária (ILP), integração lavoura pecuária e floresta (Ilpf) e plantio direto, tecnologias geradas pela Embrapa e que estão disponíveis para aplicação no campo com apoio da extensão rural ofertada pelo Governo do Estado”, afirma.

A Embrapa atua para gerar e disponibilizar soluções de inovação para os produtores rurais, com foco na adoção de boas práticas de formação e manejo de pastagens, inclusive com uso de pastos consorciados com leguminosas como o amendoim forrageiro. “Também são prioridades da empresa as pesquisas para elevar o padrão genético dos rebanhos, utilizando touros melhoradores ou práticas de inseminação e cruzamentos industriais, e para melhorar a nutrição e manejo sanitário dos rebanhos, bem como o gerenciamento das propriedades rurais” , complementa Valentim.


Fonte: Embrapa Acre