Por Mateus Merlo Coelho, Consultor de Serviços Técnicos de bovinos de corte na Agroceres Multimix

Nos últimos meses e, mais intensamente, nos últimos dias, temos presenciado um movimento considerável de pessoas que atuam nos mais diversos segmentos da economia nos procurando com a intenção de investir em pecuária de corte. Desde aqueles que já tinha um “pé no campo”, mas atuam em outra atividade; até aqueles que nunca tinham pisado em uma fazenda com o intuito de encará-la como negócio. A pergunta que fica é: o que tem determinado esse movimento?

Um breve histórico…

Na última década, o país conviveu com uma crise econômica, que elevou a inflação e a taxa de juros. Esse cenário é hostil para o empreendedorismo, abertura de novos negócios, e faz com que investidores aportem seu capital no mercado financeiro, principalmente na renda fixa (Tesouro direto, CDB, CDI, etc.), com bons rendimentos. Com a mudança da política econômica veio o controle da inflação e a queda da taxa de juros. A renda fixa deixou de ser atrativa. Nesse momento, muitas pessoas já começaram a buscar alternativas. Boa parte recorreu à bolsa de valores (B3), que começou a escalar verticalmente, batendo recordes desde 2019, e todos que colocavam dinheiro em ações e fundos de investimentos, mesmo que com pouco conhecimento, estavam ganhando dinheiro. Nesse mesmo contexto o mercado do boi gordo, muito influenciado pela crescente demanda externa, pela alta do dólar e por uma perspectiva de melhora na economia do país, elevou seus patamares de preço. A arroba que vinha sendo cotada próximo de R$150,00 em junho/2019, chegou a alcançar valores superiores a R$ 220,00, em novembro/2019. Despertando o interesse de muita gente.

Entramos no ano de 2020 e com ele a pandemia do COVID-19, a bolsa despencou e a renda fixa não atraiu. Em contrapartida, o boi passa quase ileso, estável. Ocorreu aumento da volatilidade de preços, mas em nenhuma hora sucumbiu. A reposição então, se manteve muito firme.

Isso nos faz relembrar que trabalhamos num segmento primordial da sociedade: a cadeia alimentícia. Sanamos a necessidade primária do ser humano. Ninguém desempenha bem o seu papel na sociedade, muito menos salva outras vidas, sem antes estar bem nutrido. É mais do que claro que em momentos de crise, de instabilidade, o agro ainda é o setor mais resiliente.

A tal da pecuária de corte

A pecuária de corte representou, em 2019, 8,5% do PIB nacional (ABIEC, 2020). Ou seja, R$1,00 a cada R$12,00 gerados pelo país são frutos dessa cadeia. De forma intrínseca, é uma atividade historicamente tida como segura, tem alta liquidez, baixo risco financeiro e rentabilidade de modesta a mediana. Mas esse panorama tem mudado. Atualmente, o que encanta na pecuária é que ela não é mais “travada”. Há grande diversificação de sistemas de produção, os quais podem ser dos mais tradicionais, extensivos e pouco rentáveis; até sistemas intensivos a pasto ou confinados, com aumento de riscos financeiros, mas com possibilidade de se obter alta rentabilidade. Sendo que, há a possibilidade de incrementos de intensificação em todas as fases do ciclo (cria, recria e engorda). Nesse sentido, a pecuária de corte se mostra uma atividade multifacetada, que comporta todos os perfis de investidores, dos mais conservadores aos mais arrojados.

Para dar números a essa conversa, o “Sumário Beef Report 2020” da ABIEC traz o perfil do desembolso e o custo por @ produzida em diversos sistemas de produção e em níveis crescentes de intensificação, no de 2019. No quadro, está reportada a situação das fazendas que atuam com ciclo completo. Pode-se observar que sistemas mais extrativistas produzem menos arrobas e a um custo unitário mais elevado. Além disso, o perfil de seu desembolso é mais voltado aos custos fixos (mão de obra, administrativo, manutenção, depreciação…) do que aos custos variáveis (nutrição, adubação, tratos culturais, reprodução…). Já as fazendas mais tecnificadas tendem a diluir seus custos fixos pela alta produtividade e aportarem mais capital em custos variáveis.

Athenagro

Ao se compilar os custos de produção unitários da @ e a produtividade média de cada cenário apresentado, pode-se extrapolar e projetar a lucratividade do sistema. Para isso, foi considerado um valor genérico de @ do boi gordo de R$200,00, no qual esses custos não tenham aumentado de 2019 para 2020. Assim, notamos que, nitidamente, há um distanciamento considerável dos cenários em termos de lucro/hectare/ano. Vale ressaltar que o emprego de tecnologias, visando a intensificação, mas de forma desordenada, má planejada e gerida, leva o produtor ao fracasso repentino.

Por isso, antes de entrar na atividade, o investidor deve conhecê-la. A atividade rural é distinta da indústria e do comércio. Ela é prazerosa, mas não é simples, a pecuária lida com animais que respondem diferentemente dentro de uma mesma condição e ainda com intempéries climáticas. Além disso, é influenciada por uma cultura secular, que não evoluiu na velocidade do avanço tecnológico. Na pecuária, 2+2 tendem a ser 4, mas não necessariamente são.

As perguntas que ficam são: Qual o anseio do investidor? Quanto ele espera ganhar? Quais riscos ele está disposto a enfrentar? Quanto ele conhece e quanto está disponível para se dedicar à atividade?

Assim como é dever do corretor de investimentos ou do gerente de banco traçar o perfil do seu cliente e casá-lo com os investimentos que lhe são indicados, nós, como profissionais da pecuária, devemos guiar o novo investidor para o caminho mais compatível com seus anseios. Mas este é um assunto que abordaremos em uma outra conversa.

Nutrição Animal – Agroceres Multimix