As boas perspectivas para o setor de carnes estão levando as maiores produtoras de proteína animal do Brasil a reforçarem investimentos. A JBS contratou 3,1 mil pessoas no Estado do Rio Grande do Sul desde março, está com outras 400 vagas abertas e deve investir R$ 500 milhões em solo gaúcho nos próximos dois anos, dentro de um plano nacional de R$ 8 bilhões a serem injetados até 2025.

A BRF, que desde o início da pandemia já contratou cerca de 1 mil pessoas no RS, deverá abrir mais 600 posições até dezembro. Ao todo, os frigoríficos abriram mais de 5 mil novos postos de trabalho no Estado desde o início da pandemia.

Em Santa Catarina, a cooperativa Aurora Alimentos contratou funcionários de uma indústria têxtil que havia demitido em massa no início da pandemia. E está em pleno vapor. Esse aumento das equipes vem garantindo o abastecimento da população e cumprindo medidas de preservação da saúde em todo o contexto operacional.

A AveNutri, com sede em Londrina, no Paraná, vai investir em torno de R$ 400 milhões em uma nova unidade industrial na cidade de Vista Gaúcha, no Rio Grande do Sul. O frigorífico PJB, fundado em 2019, em Vista Gaúcha, dono da marca AveNutri, pretende construir uma planta frigorífica de aves, fábrica de ração e incubatório.

Com os investimentos, o objetivo é abater até 210 mil aves ao dia, em três etapas. Inicialmente 60 mil aves, na segunda etapa 120 mil aves e, por último, 210 mil aves.  A estimativa é de que a unidade quando em plena operação gere 2 mil empregos diretos. O empreendimento também deverá agregar 270 aviários, pelo sistema de integração. A maior parte das aves da produção será destinada ao mercado externo, como a China.

A equipe do Suino.com conversou com o consultor Fabricio Delgado, Veterinário e Mestre em Produção Animal com mais de 25 anos de experiência em agroindústrias.

Para Delgado, o atual momento da suinocultura e da avicultura favoreceu duas grandes oportunidades à produção de alimentos de origem animal. “A primeira oportunidade veio a partir da ocorrência de peste suína na China, forçando o pais a importar proteína; outro caso foi a pandemia, que atingiu em cheio a produção nos maiores países produtores como Estados Unidos, com dezenas de plantas fechadas”. 

No caso da China, reitera Delgado, que detinha 50% do rebanho mundial de suínos e um consumo de 50 Kg/habitante/ano, a necessidade de compra foi imediata e em grande escala. “A pandemia e a responsabilidade de produzir alimentos mais seguros, colocou o Brasil num posto privilegiado”, afirmou.

Para Delgado, o Brasil vem se preparando com programas de excelência operacional na cadeia de produção de aves e suínos. “Hoje, temos uma cadeia interdependente mais organizada e preparada para atender o cliente final, seja ele árabe que busca frango pequeno e abate Halal, ou Japão, que compra cortes manuais ou ainda a China, que busca o que tem disponível”.

Segundo Delgado, o Brasil fez a lição de casa quando investiu em bem-estar animal, controle da salmonela nas etapas de produção como fator de qualidade e redução do uso de antibióticos. “Esses três pontos marcaram a preparação do setor para a maturidade”. Para o consultor, a palavra da vez é a ‘servitização’ como um novo modelo de negócio, ou seja, a capacidade de criar estratégias para servir o consumidor.

“A tendência de consumo que poderia ser uma ameaça aos mercados tradicionais, na pandemia se reverteu graças a essa capacidade de atender as famílias, com novos hábitos”, afirma Delgado. Ele cita como exemplo, no mercado interno, produtos embalados e congelados um a um que facilitam a vida desse novo consumidor. “Chamo atenção ainda da possibilidade de venda direta ao consumidor, como fizeram alguns pequenos frigoríficos através dos seus canais de venda na internet. “Tudo isso serviu para nos alertar que podemos criar caminhos para chegar até o cliente.  Precisamos agora comunicar e mostrar tudo que a agroindústria está fazendo, de forma clara e transparente”, finalizou Delgado.

Equipe Suino.com