Investidores, cases de sucesso e recursos financeiros continuam a possibilitar a criação de soluções inovadoras para melhorar a realidade no campo. Dados do Banco Mundial mostram que em 2019, cerca de 30 mil agtechs (startups do agro) receberam US$ 20 bilhões em investimentos. Os aportes foram maiores que o PIB de 75 países.

Estudo realizado pela AgFunder indica que, no ano passado, as 30 mil startups de tecnologia agroalimentar em todo o mundo fecharam 1,9 mil acordos. Já os investimentos de capital de risco em geral caíram 16% pelas incertezas relacionadas à guerra comercial Estados Unidos e China, ao Brexit, à economia chinesa enfraquecida e à pandemia de Covid-19.

Os projetos elaborados pelas agtechs também favorecem a geração de empregos, o lucro e a sustentabilidade para aqueles que compram suas soluções.

Especialistas afirmam que a atividade agrícola está deixando de ser imprecisa para ingressar em uma fase de processos técnicos praticamente infalíveis, baseados em softwares, sensores, scanners e aparelhos autônomos como drones e satélites.

“Uma das grandes revoluções que tem ocorrido no agro brasileiro e mundial é a evolução das inovações via startups, empresas jovens que tem propostas para a solução de problemas específicos do cotidiano do produtor rural e das cadeias agroindustriais”, destaca o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e professor da USP/Ribeirão Preto, Marcos Fava Neves.

Nesse ambiente, ele ressalta a importância do “investidor anjo”, ou seja, aquele que aplica recursos em diversas startups, com expectativa de retorno financeiro. “Sem a presença dos anjos, seria mais difícil para os empreendedores, que estão procurando resolver problemas, atingirem seus objetivos”, afirma.

Startups brasileiras

O Brasil foi o 12° principal destino de investimentos em agtechs no ano passado, com pouco mais de US$ 200 milhões, ou 150% a mais que em 2018, segundo o estudo Radar Agtech Brasil. Com isso, a cada ano, há um interesse crescente e recíproco entre agtechs e investidores.

Elaborado pela SP Ventures, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Homo Ludens Research and Consulting, o Radar AgTech Brasil revela que o Brasil conta atualmente com 1125 startups focadas no agronegócio, abrangendo todas as fases da cadeia produtiva.

Em 2019, segundo o estudo, eram 196 agtechs antes da porteira; 397 dentro da porteira e 592 depois das fazendas. No entanto, para o sócio da SP Ventures, Francisco Jardim, esses números ainda estão longe do teto.

“Numa análise de tendência de cinco anos, ainda temos muito a crescer. O agro, que representa hoje 21% do PIB, tem uma fatia muito menor de capital de investimento. Mas todas as cadeias do setor estão crescendo em termos de tecnologia”.

Jardim também chama a atenção para o surgimento de uma indústria de serviços financeiros para o agro pautada por tecnologia, as AgFintechs, que elaboram soluções para resolver problemas de logística, por exemplo. “A revolução digital é hoje o carro-chefe do setor”, afirma.

Polos de atividade

Dados do Radar Agtech mostram que a maior parte das startups está concentrada na região Sudeste. São Paulo tem 590, ou seja, mais da metade do total no País. O Paraná está em segundo lugar, com 102 agtechs, seguido por Minas Gerais, com 99; Rio Grande do Sul (89) e Santa Catarina (70).

Pompeo Scola, um dos investidores e criadores da aceleradora Cyklo, em Luiz Eduardo Magalhães, na Bahia, afirma que a região do Matopiba, com suas grandes áreas produtivas, oferece um ambiente bastante favorável para a inovação.

“A maior parte dos cotistas da aceleradora são pessoas do agronegócio, que optaram pela inovação. Uma aceleradora desse tipo precisa estar ao lado de onde as coisas acontecem, ou seja, no campo. (O Matopiba) é uma região muito inovadora e promissora, onde há muitas startups oferecendo seus serviços”.

No Sul do Brasil, Guilherme Kudiess, da Ventiur Aceleradora, afirma que, apesar da grande estiagem que tem prejudicado as lavouras da região, o mercado de investimentos em agtechs continua em alta.

“Tivemos uma pequena baixa no número de investidores, porque alguns perderam dinheiro na Bolsa e ficaram receosos com a falta de liquidez, mas as startups não param, principalmente aquelas que têm serviços na área de logística. No entanto, outras que trabalham com agricultura familiar e hortifrútis tiveram impacto negativo”.

Pandemia

Kudiess ressalta ainda que a pandemia de Covid-19 não teve grande impacto no desempenho das aceleradoras, pois segundo ele, “desde cedo elas estão preparadas para se adaptar aos acontecimentos, pois vivem num ambiente de extremas incertezas, e seus modelos de negócios podem ser mudados de forma rápida e barata”.

Jardim, da SP Ventures, lembra que tecnologias são adotadas em momentos de crise, para redução de custos e otimização de processos. “O agro vai passar fortalecido por essa pandemia, e haverá um processo de aceleração de uma série de tendências nas quais as agtechs já estavam trabalhando, a fim de solucionar os problemas do setor, e o agro digital é uma delas”.

Soluções

De maneira geral, as agtechs atuam em várias frentes, tanto no tipo de segmento quanto nas soluções que oferecem ao mercado, incluindo desde análises laboratoriais, serviços de economia compartilhada e IoT (Internet das Coisas), à elaboração de novos tipos de alimentos e processos nas áreas de biodiversidade e logística.

Outro bom exemplo de inovação, e que vem ganhando espaço no mundo, é a agricultura de precisão. Consultores americanos estimam um crescimento de 82,8% desse mercado até 2025. Segundo os analistas, o setor já movimenta anualmente US$ 7 bilhões, e em cinco anos deve chegar a US$ 12,8 bilhões, com crescimento médio de 12,7% por período.

Riscos

Porém, assim como em todo negócio, as startups também oferecem riscos. Um estudo da agtech Farm indica que até 74% das startups brasileiras não duram mais do que cinco anos. Segundo a pesquisa, para alcançar o sucesso é preciso considerar fatores como momento oportuno, solução, mercado, concorrência, entre outros. Seja como for, o investidor precisa estar bem informado e ficar atento às oportunidades.

Anjos

“É fundamental que todo investidor participe de uma rede, porque lá ele poderá encontrar muito conhecimento compartilhado, além de outros investidores mais experientes, e aprender muito com isso. Também há um conjunto de boas práticas que podem explicar todo o processo, incluindo desde trâmites legislativos à seleção de startups”, destaca Maria Rita Bueno, diretora da Anjos do Brasil.

Para ela, a presença de um co-investidor também é importante. “Você não consegue montar um portfólio de maneira mais fácil e não consegue agregar tanto valor aos empreendedores, se investir sozinho. Além disso, pedimos aos investidores para dispor de pelo menos 50 mil reais ao ano para as startups, pois é um investimento de alto risco, apesar das possibilidades de retorno”.

Maria Rita afirma ainda que “as agtechs estão inseridas em um mercado grande, em transformação, e que necessita de inovações”.

“Para investir numa agtech é necessário ver o cenário macro. Esse investimento vai nos levar a um mercado bastante específico. É preciso perceber o time que está envolvido nessa operação, o quanto essas pessoas conhecem do mercado para conseguir operacionalizar o projeto que está no papel”, diz William Cordeiro, diretor da GV Angels.

Recentemente, duas agtechs brasileiras – Agrosmart e Solinftec – foram reconhecidas entre as 50 maiores do mundo com o melhor potencial de crescimento, e uma delas poderá ser a primeira ‘unicórnio’ do agro brasileiro, ou seja, aquela que consegue acumular US$ 1 bilhão no mercado. A expectativa dos investidores é que o número de empresas nessa categoria se multiplique nos próximos anos.

Fontes: Dr.Agro/AG Evolution