Nos dois primeiros meses de 2018 a suinocultura brasileira precisou lidar com a volatilidade dos números. As vendas se mantiveram em crescimento devido ao mercado Chinês, que importou 162% a mais neste período do que o registrado em 2017. As compras de outros mercados também se ampliaram, como é o caso da Argentina, Uruguai e Chile, redutos que diminuíram os efeitos do embrago russo às importações de carne suína brasileira.

As vendas de carne suína (considerando todos os produtos, entre in natura e processados) para o exterior totalizaram 155,2 mil toneladas no primeiro trimestre de 2018, conforme informou a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).  Segundo o levantamento, o número foi 13,4% inferior ao obtido nos três primeiros meses de 2017, com 179,2 mil toneladas. Em receita, o desempenho das vendas no acumulado do ano chegou a US$ 315,3 milhões, número 21,9% inferior aos US$ 403,7 milhões registrados entre janeiro e março do ano passado.

Em forte expansão, as vendas de carne suína para a China somaram 39,2 mil toneladas no primeiro trimestre deste ano, resultado 152% superior às 15,5 mil toneladas embarcadas no ano passado.  No mesmo período, Hong Kong foi destino de 46,4 mil toneladas, 23% a mais que as 37,7 mil toneladas embarcadas em 2017.

Brasil, Estados Unidos e Canadá continuarão sendo destaques mundiais no que diz respeito a produção e exportação de carne suína. “Além destes países a União Europeia também deve apresentar recuperação na oferta da proteína de suíno em 2018. Entre as regiões destacadas, os Estados Unidos devem apresentar o maior crescimento na oferta e, consequentemente, sofrerão maior pressão para encontrar consumidores e escoar a oferta adicional que estará disponível durante o ano”, explica o analista sênior do Rabobank Brasil, Adolfo Fontes, que também atua no desenvolvimento de pesquisas na área de proteína animal.

É importante destacar que por ser um ano eleitoral e, especialmente, um ano de baixa previsibilidade, é possível observarmos um ambiente com momentos de instabilidade no cenário político e no mercado de câmbio, o que pode gerar reflexos pontuais no mercado de carnes. De toda forma, Fontes ilustra que 2018 parece ser um ano mais promissor para a cadeia de carnes no Brasil. “Porém, isso não significa que não tenhamos volatilidade. Na realidade, maior volatilidade parece ser o contexto mais possível para 2018”.

Os desafios do setor

A alta concentração das exportações de carne suína para Rússia continua a ser um fator de atenção para o setor. Como já ocorreu anteriormente, essa dependência volta a assombrar a suinocultura em 2018, mesmo que pontualmente. “De toda forma, com o objetivo de aumentar as exportações e diminuir a concentração de volume em poucos destinos, o Brasil já busca por novos mercados. Nesse sentido, foi anunciado, em outubro de 2017, a aprovação de plantas brasileiras para exportar carne suína para a Coréia do Sul. Porém, dada a necessidade de finalizar alguns processos relacionados a protocolos sanitários, os embarques ainda não foram iniciados”, o que deve ocorrer brevemente, conforme relatado por Adolfo.

Além disso, o Brasil tem aumentado as exportações para países vizinhos. A Argentina, por exemplo, aumentou suas importações de carne suína brasileira em quase 30% em 2017, e o Uruguai em cerca de 10% no mesmo período. O setor aposta na manutenção desses mercados para 2018. O cenário interno também apresenta um potencial relevante para crescimento no consumo de carne suína, já que ainda temos uma média relativamente baixa. Nesse sentido, associações do setor têm realizado um trabalho bastante interessante de informar os benefícios do consumo da carne suína. “Os pontos citados são específicos do setor de carne suína. Porém, outras questões poderiam ser citadas como gargalos estruturais, como logística e carga tributária, que impactam praticamente todas as atividades do país”, frisa o analista.

Com o tema “CARNE DO FUTURO”, a edição 2018 da PORKEXPO será realizada em dois dias, 26 e 27 de setembro, no Hotel Recanto Cataratas Thermas Resort & Convention, em Foz do Iguaçu, no Paraná. A região estratégica representa um importante polo para o desenvolvimento da suinocultura brasileira, como destaca Marcelo. “Cerca de 60% da produção de suínos no Brasil está na região Sul, então temos uma grande representatividade nesta área”. De acordo com dados levantados no Mapeamento da Suinocultura Brasileira (ABCS, 2015) a localidade reúne plantas industriais com alta tecnologia e cooperativas que vem modernizando e expandindo sua operação nos últimos anos, trazendo uma ampliação no plantel brasileiro e maior participação do produto nacional em países como China e Hong Kong, por exemplo.

Uma participação que pode aumentar ainda mais no gigante mercado Chinês. Já que os embarques brasileiros de carne suína devem crescer devido a provável elevação da tarifa de importação da China aos Estados Unidos. “Este é o momento de aproveitar as oportunidades, não podemos focar apenas nas portas fechadas, precisamos buscar abrir janelas, procurando por novos mercados, e mostrando ao mundo que a nossa carne suína é a melhor. E a PORKEXPO solidifica isto, mesmo em um ano difícil, política e economicamente, já estamos com a casa cheia, porque o setor se transforma a medida em que investimos nele”, complementa a diretora da Safewayagro, organizadora do evento e presidente da PORKEXPO 2018, Flávia Roppa.

Além de discutir o tema “CARNE DO FUTURO”, o evento contará com as palestras do IX Congresso Internacional de Suinocultura. Os participantes da PorkExpo 2018 terão acesso a uma série de eventos paralelos, como: Cursos nas áreas de Produção, Nutrição e Sanidade; Feira de negócios; Reuniões técnicas de empresas; Melhores trabalhos científicos; Prêmio Melhores do Ano da Suinocultura e a “Chopada” nos estandes na noite do dia 27.

Adolfo Fontes

Adolfo Fontes é analista sênior do Rabobank Brasil e atua no desenvolvimento de pesquisas na área de proteína animal. Antes de ingressar no Rabobank, o executivo ocupou por cinco anos o cargo de coordenador de inteligência de mercado para uma grande empresa líder no setor de nutrição animal, além de ter atuado na área de pesquisa e consultoria para outras empresas.

Adolfo também atua como palestrante em consultoria e inteligência de mercado e é coautor do livro “Inteligência de Mercado: Conceitos, Ferramentas e Aplicações”, publicado pela Saint Paul Press. O analista é graduado em Propaganda e Marketing pela Universidade Paulista e pós-graduado em inteligência de mercado pela FIA-USP. Fontes é atualmente pós-graduando no programa de Mestrado Profissional da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo e possui um MBA em Economia pela mesma instituição.

Fonte: PorkExpo