A área de soja coberta por seguro agrícola no Brasil pode mais que dobrar na safra 2020/21, chegando a 10 milhões de hectares pela primeira vez, alavancada pelo impulso dos preços rentáveis em vendas antecipadas de aproximadamente metade da produção antes mesmo do início do plantio.

O diretor do Departamento de Gestão de Riscos do Ministério da Agricultura, Pedro Loyola, disse em entrevista à Reuters que “considerando o comportamento de contratações do ano passado e a conjuntura deste ano, pode ser que a soja cresça 150% em área segurada”.

Loyola acredita que a previsão indica que a área segurada com a oleaginosa deve alcançar 10 milhões de hectares, com 120 mil apólices e 32,5 bilhões de reais em valor segurado.

Em 2019, foram 38.669 apólices, 4 milhões de hectares de soja e 10,9 bilhões de reais em valor segurado.

Sobre a expectativa de crescimento, ele respondeu: “Essa estimativa depende do comportamento de contratação, mas começou forte este ano e tudo indica que podemos chegar próximos do estimado”.

Se conseguir esse aumento, a área segurada com soja no Brasil poderá somar mais de 25% da área plantada, projetada para atingir cerca de 38 milhões de hectares.

Loyola afirmou ainda que essa ferramenta de proteção da renda do produtor é uma das prioridades do Ministério da Agricultura, que tem destinado mais recursos para as subvenções do prêmio do seguro no Plano Safra.

O orçamento federal para subsídio de seguro rural passou de 440 milhões de reais no ano passado para 955 milhões em 2020, ampliando o suporte contra pragas, doenças e, principalmente, intempéries climáticas na lavoura, comentou Loyola.

Vendas antecipadas

O valor mais alto de subvenção e a boa situação do produtor, que está em uma posição mais favorável de remuneração e custos, auxiliam na adoção de mais políticas no planejamento da safra, como o seguro, disse o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Bartolomeu Braz.

Na esteira da demanda chinesa após exportações firmes ao longo do ano e ajuste na oferta, os preços da soja já superaram 130 reais por saca no porto de Paranaguá (PR) neste mês e se aproximam do recorde em termos reais (deflacionados), conforme levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

O produtor também acelerou as vendas antecipadas da safra 2020/21 e pode começar o plantio, em setembro, com mais da metade da produção estimada comercializada, afirmou o presidente da Aprosoja.

Sobre o risco assumido pelos agricultores com o nível de antecipação nas vendas e, como consequência, maior procura por seguro rural, Braz tranquilizou: “Essas vendas futuras têm que ser entregues, então isso precisa ser mitigado”.

Seguradoras

A estrutura brasileira de seguro agrícola ainda é muito distante de concorrentes como os Estados Unidos, onde cerca de 90% da área de plantio é segurada, destacou o presidente da Comissão de Seguro Rural da Federação Nacional dos Seguros Gerais (FenSeg), Joaquim Neto.

O percentual no país ainda é de 10%, mas uma ampliação na demanda vinda do setor de grãos de verão já pode ser notada.

“Os cultivos de inverno são de maior risco, por estiagem, ocorrência de geadas, e historicamente já há maior interesse por contratar o seguro para essas culturas. Mas o que temos visto nos últimos anos, principalmente no Centro-Oeste, é que os agricultores têm demandado seguro para os grãos de verão, principalmente a soja”, explicou.

Ele ainda ressaltou o interesse de produtores de soja no Norte e Nordeste, nos Estados que compõem a região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e oeste da Bahia) que contam com um projeto específico do governo para fomento à contratação de seguro.

Ainda segundo Neto, as seguradoras registraram um aumento de 25,2% na captação de prêmios com seguro rural (valor que se paga para adquirir o seguro) durante o primeiro semestre.

A projeção da FenSeg para 2020 é de crescimento de 35% na captação de prêmios neste setor, em reação aos os 5,311 bilhões de reais captados em 2019.

“O agricultor tem tido bons valores na comercialização dos seus produtores e tem investido mais em tecnologia, o que faz com que a expectativa de produção dele aumente… e o risco acaba sendo maior. Acreditamos que isso tudo tem sim corroborado e ainda deve dar continuidade ao aumento de contratação de seguro agrícola”, afirmou.

Fonte: REuters