Por José Zeferino Pedrozo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (FAESC) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR/SC)

Resultado de processos de colonização e da iniciativa dos empreendedores privados, ao longo das décadas, a economia catarinense organizou-se em polos: agroindustrial (Oeste), eletrometalmecânico (Norte), madeireiro (Planalto), têxtil (Vale do Itajaí), mineral (Sul), tecnológico (Capital) e turístico (praticamente todo o Estado). Podemos afirmar que em todas essas regiões existe um modelo catarinense caracterizado por dois fatores: dimensões (pequenas) e eficiência (alta).

Santa Catarina ostenta indicadores admiráveis: é a 20ª unidade da Federação brasileira em território e a 10ª em população, a primeira em expectativa de vida, com as menores taxas de analfabetismo e mortalidade infantil do País. Sua economia é diversificada com excelente desempenho nos setores da indústria, do extrativismo vegetal e mineral, agricultura, pecuária, pesca e turismo. Situa-se entre os cinco Estados mais ricos do Brasil.

O paradigma “pequeno e eficiente” revela-se em várias áreas. Pequenas cidades (apenas treze têm mais de 100 mil habitantes), pequenas propriedades rurais (quase 90% são minifúndios) e pequenos negócios (mais de 570 mil microempresas operam em território barriga-verde).

A contribuição do setor primário, mesmo fundado na predominância do pequeno, é destaque internacional. A maior parte dos 190 mil estabelecimentos rurais é de pequeno porte e somente consegue manter a viabilidade econômica em razão do regime de policultura. Ou seja, alta variedade em pequenas áreas, consorciando atividades nas quais o Estado ocupa um lugar de destaque, como milho, soja, fumo, mandioca, feijão, arroz, banana, batata inglesa, alho, cebola, tomate, trigo, maçã, uva, aveia e cevada, além da extraordinária produção de suínos, aves e bovinos de leite e de corte.

A perpetuação desse modelo requer atenção e assistência para se manter posição. Se tomarmos a cadeia produtiva da avicultura, na qual sempre pontificamos, percebemos que nos últimos anos o Paraná assumiu a liderança nacional na produção e na exportação. Sim, eles têm maior área agricultável e maior produção de milho – base de toda a cadeia da proteína animal. Além disso, fortíssimos incentivos à empreendimentos agroindustriais ampliaram enormemente o parque de processamento industrial de carnes.

Em Santa Catarina, os projetos de novas grandes agroindústrias perderam ímpeto e as pequenas foram colhidas pelas violentas e leais crises de abastecimento do milho, muitas desaparecendo ou sendo absorvidas pelos grandes grupos.

Essas perorações levam a uma questão: o modelo “pequeno e eficiente” estaria em perigo?

Num mundo em contínua mudança, abalado por transformações disruptivas e orientado para a produção em escala, a saída para a manutenção do modelo “pequeno e eficiente” estaria na agregação de conhecimento. O conhecimento pode levar à especialização e a especialização, a um diferencial competitivo. Nesse aspecto, é imperioso reconhecer os maciços e bem-sucedidos investimentos em qualificação e requalificação dos pequenos empreendedores do campo e da cidade oportunizados pelo Sistema S, como Sescoop, Senar e Sebrae. A qualidade do capital humano catarinense vocacionado para o trabalho – herança das etnias italiana, alemã, portuguesa, entre outras – aliada aos recursos naturais produziu condições excepcionais para a absorção desse conhecimento.

Mas os desafios são gigantes. Um deles é reduzir a dependência externa do milho, principal insumo, que exige a importação do Centro-Oeste brasileiro ou do Exterior de 3 milhões de toneladas por ano. Há dez anos Santa Catarina cultivava mais de 800 mil hectares, hoje não passa de 400 mil hectares. Todos os programas em busca da autossuficiência fracassaram, mas, é preciso recolocar esse tema na pauta da sociedade econômica catarinense para frear seus efeitos deletérios, entre eles, a transferência da agroindústria da carne para o Brasil central. É vital proteger o modelo catarinense.