Por Andréia Adami- Pesquisadora da área de Macroeconomia do Cepea

 

A Liga Árabe (ou Estados Árabes) é uma organização de países árabes fundada em março de 1945 no Cairo, com o objetivo de reforçar e coordenar os laços econômicos, sociais, políticos e culturais entre seus membros, assim como mediar disputas entre eles. Atualmente, a Liga Árabe compreende 22 países da região do Oriente Médio e Norte da África, que possuem, juntos, uma população superior a 400 milhões.

Com população ainda jovem e taxa de natalidade de aproximadamente 2%, acima das de países em desenvolvimento, como o Brasil (cuja taxa de crescimento populacional está abaixo de 1%), a região necessita assegurar condições favoráveis à segurança alimentar.

Devido à posição geográfica, esses países têm condições de solo e clima que limitam a capacidade de produzir alimentos em quantidade suficiente para atender a toda a sua população, o que os torna dependentes da importação de alimentos. Nos últimos anos, a região tem passado por importantes transformações e alguns países, como os Emirados Árabes Unidos, têm apresentado importante papel de liderança, tanto política quanto econômica, e no desenvolvimento tecnológico da região.

Um dos objetivos da Liga é fomentar negócios de interesses com outros países. Nesse sentido, há expectativa de que esses países tenham interesses em acelerar investimentos para estimular o crescimento econômico da região com maior abertura ao resto do mundo e foco na segurança alimentar. Nesse sentido, o Brasil aparece como um player importante no fornecimento de alimentos para os árabes, já que é um dos poucos em condições de aumentar a área plantanda.

Esses 22 países árabes são grandes importadores de alimentos e bebidas – em 2017, as compras externas da Liga somaram 100 bilhões de dólares. A relação comercial com o Brasil tem se fortalecido nos últimos anos e, em 2017, a corrente de comércio do com os países da região foi da ordem de 20 bilhões de dólares. O Brasil faturou mais de US$ 13,5 bilhões com as exportações aos países Árabes, enquanto gastou 6,5 bilhões de dólares na importação de produtos da região.

Do total exportado pelo Brasil, mais de 70% das mercadorias são produtos do agronegócio, o que coloca a região na terceira posição entre os destinos mais importantes do setor, ficando atrás apenas da China e da Europa. O açúcar e a carne se destacam na pauta de importações dos países da Liga Árabe, sendo que, juntos, representaram mais de 60% das importações de produtos brasileiros em 2017.

Ainda assim, esses países também têm importado produtos de maior valor agregado, como os têxteis. Há interesse da comunidade árabe em intensificar as compras de alimentos brasileiros. Com isso, há espaço para fomentar as vendas da grande maioria dos produtos em que o Brasil se destaca como grande grande exportador mundial, como no caso das principais frutas: manga, mamão, melão, uva, banana, laranja; suco de laranja; além de café e cereais.

O Brasil e os países da região têm um histórico de boas relações, tanto comerciais como institucionais, e de convivência harmoniosa de brasileiros com os imigrantes árabes. Tendo em conta a importância das relações comerciais do Brasil com a Liga Árabe e a disposição desses em intensificar investimentos em infraestrutura e logística, por meio de fundos soberanos de investimento, políticas comerciais devem ser desenhadas, levando-se em conta os ganhos dessas trocas para ambos, e com respeito às diferentes crenças, costumes e soberania dos países.