Por João Carlos de Angelo, zootecnista, gerente Negócios e técnico Aves & Suínos Grupo Guabi Nutrição e Saúde Animal- Campinas/SP

O Brasil, um dos principais players no segmento de aves e suínos, difunde inovação e tecnologia em todas as áreas do ciclo de produção. O país tem foco multidisciplinar e possui estratégias reconhecidas de controles sanitários, que visam atender as rigorosas barreiras fitossanitárias internacionais, criar condições para o crescimento sustentável e prover proteínas globalmente, o que torna esta cadeia um dos principais pilares da economia brasileira.

Dentro deste setor produtivo merece ser ressaltada a importância dos laboratórios na construção da confiabilidade na cadeia tecnológica de produção animal. Estes contribuem de forma ampla fornecendo laudos técnicos de controles físico-químicos, bromatológicos, microbiológicos, ausência de resíduos e contaminantes, diagnósticos sorológicos e virológicos para identificar doenças e eficácia de vacinação. As validações concedidas possibilitam que as proteínas, de origem animal, sejam colocadas na mesa dos consumidores com qualidade e segurança.

Em todas as fases produtivas, há muitas variáveis que devem ser avaliadas, analisadas, conhecidas, controladas e corrigidas, pois a agroindústria necessita ter um panorama completo das áreas produtivas.  Em adição, necessita aplicar medidas corretivas eficazes e assertivas para construir índices zootécnicos potencializados, otimizar a lucratividade, perenidade e crescimento da empresa. Os níveis de controles analíticos aplicados para garantir a rastreabilidade, atender as instruções normativas (IN´s) e segurança do produto final são utilizados em todo processo produtivo, como nas áreas de nutrição, maternidade, incubatórios, granjas e frigoríficos, o monitoramento minucioso destes elos da cadeia são primordiais para alcançar a eficácia desejada nos vários processos envolvidos. Dentro deste contexto a nutrição representa aproximadamente 65% dos custos de produção e esta área exerce papel fundamental para o máximo aproveitamento do potencial genético das aves e suínos.

Dentre as ferramentas disponíveis, na busca da nutrição de precisão, merece destaque os controles das matérias-primas (MP´s). Por meio destes controles é possível monitorar a qualidade físico-química, sendo que as análises bromatológicas (proteína, extrato etéreo, cálcio, fósforo, fibra, umidade e ácidos graxos) e perfis de aminoácidos (metionina, lisina, treonina, triptofano e demais aminoácidos) são determinantes para estabelecer ou corrigir as matrizes nutricionais dos ingredientes. São estes resultados analíticos que validam a composição química de lotes de ingredientes de origem vegetal e animal utilizados na composição de rações.

Partindo do princípio que há grande variabilidade nutricional nos ingredientes de origem vegetal ou animal, controles por lote são fundamentais. Dependendo da origem, forma de produção, da adubação ou extração, as MP´s podem apresentar níveis nutricionais diferentes do “standard” de recebimento. Estas variações podem provocar desvios nos níveis nutricionais e desempenho zootécnico, caso o monitoramento técnico não seja assíduo.

As informações dos resultados analíticos permitem ao nutricionista alimentar de forma precisa seu sistema de formulação, com devida precisão, acurácia e segurança. Na sequência, é fundamental realizar a análise do produto acabado para checar se os níveis nutricionais previamente definidos são obtidos ao final do processo. Estes procedimentos permitem garantir que não houve variações nos níveis nutricionais oriundas da inclusão, mistura e/ou processamento.

Dentro deste contexto, os micro-ingredientes como as vitaminas, minerais, sucedâneos lácteos e aditivos, que farão parte do “premix” e “núcleo” devem receber especial atenção e requerem monitoramento analítico. É necessário monitorar os lotes de vitaminas, minerais, aminoácidos, melhoradores de desempenho, anticoccidianos, antioxidantes, sucedâneos lácteos, antibióticos, enzimas e demais aditivos para checar se os níveis de garantia e os limites aceitáveis de metais pesados estão dentro dos padrões permitidos. Por fim, estes “premixes” e “núcleos” são igualmente responsáveis pelo êxito das fórmulas enviadas para as fábricas de rações e, juntamente com os macro-ingredientes (fonte de energia, proteína, fibra, cálcio, fósforo e sódio) compõem a responsabilidade pelo retorno em desempenho zootécnico e garantia do bom statussanitário.

As análises para controle de micotoxinas (aflatoxinas, fumonisinas, zearalenona, tricotecenos e ocratoxina) são fundamentais para assegurar à qualidade do lote de matérias primas recebidas e da ração produzida. Esta classe de contaminação proporciona grandes perdas econômicas em função de causarem redução no ganho de peso, piora da conversão alimentar, desuniformidade nos lotes, imunossupressão, incidência de hemorragia petequiais e hematomas, problemas de qualidade na casca dos ovos, queda de postura, eclodibilidade e problema reprodutivo nas matrizes suínas. Contudo, o monitoramento analítico proporciona condições para o nutricionista elaborar um planejamento estratégico com medidas efetivas para mitigar o impacto das micotoxicoses.

As análises de MP´s são um dos principais pontos a serem observados no setor da nutrição animal, pois além de qualificar a composição química, possibilitam verificar a pureza, sejam elas de natureza orgânica ou inorgânica.

Dentro de todo o ciclo de produção, desde o recebimento das MP´s, alojamento das aves ou suínos, das fases de produção até o abate, os controles analíticos se fazem presentes por meio de análises imprescindíveis. Tais análises permitem verificar a presença de microrganismos patogênicos (Salmonella spp, Clostrium perfrigens, Escherichia coli, Stapylococcus aureus, Psedoumonas aeruginosa, Enterobactérias, Bacillus, Micoplasma, Coliformes Totais, bactérias, bolores e leveduras, entre outros) por meio do diagnóstico laboratorial microbiológico, determinados por avaliações bacteriológicas, sorológicas, micológicas, virológicas e biológicas moleculares com objetivo de garantir a sanidade do plantel e a segurança alimentar do consumidor.

Destaque especial deve ser dado para as análises de detecção de resíduos químicos em carnes, ovos e leite. O uso de antimicrobianos para animais de produção tem sido motivo de preocupação quanto à segurança alimentar por parte da opinião pública, em função dos possíveis riscos da presença de resíduos destes compostos nos alimentos em níveis prejudiciais à saúde humana ou que possam sugerir indução de resistência bacteriana.

A comprovação que não há violações nos níveis aceitáveis de resíduos é fato chave para evitar embargos a carne brasileira ou desconfianças no mercado interno. A saúde dos consumidores está relacionada com a segurança na qualidade desses alimentos, sendo fundamental garantir que a quantidade de resíduos presentes nos produtos derivados de animais medicados com produtos farmacêuticos de uso veterinário seja menor do que os valores de limites máximos de resíduos (LMR) estabelecidos para cada princípio ativo específico.

Entende-se por LMR de um fármaco, ou de seus metabólitos, a concentração máxima de resíduos considerada segura à saúde dos consumidores, preconizada pelas agências regulatórias – como o Codex alimentarius, Agência Européia (EMEA) e Agência Japonesa (Japan Positive List – JPL), assim atendendo as legislações vigentes. Com base nos resultados dos LMR, o período de carência pode ser determinado para o abate de animais medicados, destinados ao consumo humano.

Em recente workshop em Chapecó/SC, sobre Resíduos Químicos em Produtos Cárneos, as principais moléculas eleitas de interesse para pesquisa na cadeia de suínos foram as beta-agonista, antimicrobiano, antiparasitário, contaminantes inorgânicos, sulfonamidas e dioxina. Em avicultura, as que receberam maior interesse foram os anticoccidianos, antimicrobiano, contaminantes inorgânicos, roxarsone, antiparasitário (benzimidazois), dioxina e organoclorados.

Neste sentido, se torna cada vez mais importante o segmento contar com laboratórios credenciados para determinações de resíduos químicos dentro do Plano Nacional para Controle de Resíduos (PNCRC) do MAPA, bem como atender às mais exigentes normas internacionais, empregando metodologias aceitas e reconhecidas pelos principais órgãos reguladores internacionais (FDA, EMEA, CODEX e FAO), incluindo o método multirresíduos.

É de responsabilidade do segmento laboratorial produzir laudos analíticos seguros e confiáveis, por meio das qualificações dos seus profissionais, infraestrutura e tecnologias empregadas. Na área de nutrição e frigoríficos é possível contar com tecnologias como: NIR´s, Cromatografia em Fase Gasosa e Líquida, Espectrometria de Massa acoplada ao HPLC e Plasma Induzido. Estes laudos subsidiam Agroindústria e são instrumentos obrigatórios nas tomadas de decisão nos pontos críticos de controle, ou melhor, nos “fatores críticos de sucesso”.

É fundamental que estes resultados e laudos sejam emitidos por um laboratório respeitado no mercado, credenciado no MAPA, habilitado na Rede Brasileira de Laboratórios Analíticos em Saúde, PNCRC (Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes) e que faça parte de programas interlaboratoriais.

A avicultura e suinocultura evoluíram muito nas últimas duas décadas, sustentadas pelas áreas de genética, nutrição, manejo e ambiência. Por que não incluir o setor Laboratorial pela primeira vez neste conjunto de fatores de sucesso? Deixo esta reflexão para os envolvidos nesta inovadora instituição Aves&Suínos. Os laudos analíticos não devem simplesmente fazer parte dos controles, mas sim, serem explorados de forma estratégica ao longo de toda a cadeia de produção.

A indústria de carne, ovos e leite sempre precisará de competência técnica, rigor científico, agilidade nos resultados, infraestrutura tecnológica de ponta e segurança para o levantamento de informações das características microbiológicas, nutricionais, patológicas e sanitárias para tomada de decisões, assim estes laudos analíticos são ferramentas imprescindíveis para medidas assertivas no processo produtivo.

Estamos prontos para atender as demandas do setor e contribuir para o seu progresso em todas as áreas produtivas e devemos trabalhar cada vez mais para manter ostatus sanitário alcançado e nos preocuparmos com a manutenção desta liderança nas exportações do complexo das carnes “Aves e Suínos”, conquistadas “a duras penas”.

Desta forma, juntos em prol de um objetivo comum, tornar os produtos resultantes destas cadeias produtivas brasileiras referenciadas como sinônimo de qualidade no mundo, pois a defesa destes interesses deve ser tratada como uma questão de segurança nacional por conta de sua importância à economia brasileira.

Fonte: LN Comunicação