Nos dias atuais, as taxas anuais de reposição nas granjas de suínos, podem variar de 40 à 60%. Com isso, há um incremento no ingresso de leitoas tendo objetivo de suprir o alto percentual de remoção do plantel. Considerando uma taxa de remoção anual da ordem de 50% e 2,5 partos/fêmea/ano, em cada grupo de cobertura devem ser incluídas entre 18 e 20% de leitoas. Isto significa que, ao descartar uma matriz, uma leitoa de reposição deverá estar pronta para ser inseminada no grupo de cobertura ao qual pertencia a matriz descartada. O equilíbrio na manutenção deste percentual e o atendimento dos alvos semanais de cobertura, são pontos chave para uma boa produtividade do plantel, associado ao manejo da preparação da leitoa.

Outro ponto importante para se avaliar, pensando na introdução de marrãs é a materniade. A maternidade é um dos setores mais caros e sensíveis da uma granja de suínos. Uma superlotação de marrãs da fase de parição faz com que os leitões sejam desmamados precocemente, gerando maiores custos com aquecimento e com o uso de  rações mais complexas. Maiores riscos de doenças respiratórioas e entérias na fase de creche, além de medicações mais intensas são necessárias quando o desmame é precoce. Por outro lado, uma gaiola de parição vazia em uma granja de 500 matrizes, corresponde cerca de 12 suínos a menos na terminação. O equivalente a esta perda seria um aumento de mortalidade pós-desmame de 5% para 9%; queda de 5% no peso na terminação ou diminuição de mais de um leitão por matriz por ano.

Diante desses pontos cruciais, um manejo de fundamental importância pode ser adotado nas granjas é a sincronização do estro de um determinado grupo de leitoas. Este manejo, se insere como medida para a homogeneização dos lotes de marrãs a serem incorporadas ao plantel de reprodutoras, constituindo vantagem futura para as sincronizações das inseminações. A sincronia com os lotes semanais das fêmeas do plantel facilita a homogeneização no momento do parto, repercutindo no manejo geral do sistema, fazendo com que tenhamos um fluxo de produção mais estável.

TÉCNICAS DE SINCRONIZAÇÃO DO ESTRO

Os mais conhecidos e utilizados fármacos que permitem o controle do ciclo estral e da ovulação são a gonadotrofina coriônica equina (eCG), a humana (hCG), o hormônio liberador das gonadotrofinas (GnRH) e seus análogos, a prostaglandina (PGF2α) e seus análogos e os progestágenos (Altrenogest).

O altrenogest vem sendo amplamente utilizado e possui eficácia comprovada no controle do estro e ovulação. Com sua utilização, o controle do ciclo estral em suínos pode ser alcançado através da supressão previsível da fase folicular, imitando os efeitos biológicos da progesterona.

Em um ciclo estral normal, após a liberação da onda do hormônio luteinizante (LH) próximo ao início do estro, os folículos ovarianos maduros liberam seus óvulos (ovulado) e as células restantes da liberação luteinizam para se tornar corpos lúteos. Essas estruturas produzem progesterona e tem um efeito inibitório no lançamento de LH pela hipófise. Como o LH é inibido pela progesterona, os folículos não crescem além do estágio médio, ocorrendo a supressão do crescimento folicular, não ocorrendo o estro. Por volta do décimo quarto dia do ciclo estral, a produção uterina de prostaglandina F2α causa luteólise com a interrupção da produção de progesterona. Este, por sua vez, remove a inibição da secreção de LH e FSH, permitindo a retomada do crescimento folicular à ovulação (Figura 1).

Quando se utiliza altrenogest para a sincronização do estro, ocorre a inibição da liberação de gonadotrofinas pela hipófise, similar a progesterona natural. O uso do produto mantém a fêmea em anestro pelo período desejado, suprimindo a atividade ovariana e retarda o estro através da inibição do crescimento folicular e ovulação. Após o tratamento, esta atividade é reestabelecida e o animal apresenta estro dentro de 5 a 8 dias.

SINCRONIZAÇÃO DE MARRÃS EM LOTES SEMANAIS

A sincronização do cio em marrãs em lotes semanais acarreta um fluxo mais homogêneo e uniforme das coberturas e dos partos, melhorando assim a ocupação das gaiolas de parto e o manejo semanal da maternidade.

São muitos os impactos positivos da utilização desta metodologia na lucratividade das granjas, entre eles observamos a otimização da programação do cio e da cobertura das matrizes e marrãs; menor variabilidade no número de coberturas de marrãs por semana; controle da idade das marrãs à primeira inseminação; menor variabilidade do número de partos entre lotes o que permite um melhor manejo do sistema todos dentro-todos fora e melhor utilização das instalações.

A proposta de utilização deste protocolo semanal pode ser facilmente aplicado nas granjas. O único pré-requisito para início da sincronização é que as marrãs devem estar ciclando. Sendo assim, segue um modelo de aplicação do protocolo (Figura 2):

  • Toda terça-feira, transferir o número adequado de marrãs das baias de fêmeas ciclando para as “baias Altrenogest”.
  • Na sexta-feira iniciar o treinamento com suco de maçã, até domingo (um período de 3 dias de treinamento é o ideal).
  • Iniciar a aplicação de 20 mg de Altrenogest na segunda-feira e manter o tratamento pelos próximos 18 dias. Fornecimento individual para as marrãs às 8:30 h, todas as manhãs.
  • O último dia de tratamento é na quinta-feira (correspondendo a desmama do lote de matrizes).
  • Cinco ou seis dias após o final do tratamento, na terça-feira seguinte as primeiras marrãs entram em cio junto com o lote de matrizes correspondentes.

Realizando este manejo, pelo menos 90% das marrãs irão ciclar junto com o lote de matrizes desmamadas. Na literatura, inúmeros estudos relatam aumento na taxa de fertilidade dos animais tratados em comparação com grupos não tratados. Além de que quando comparado com outros tratamentos para sincronização e indução do estro, o altrenogest tem demostrado maior eficácia.

REFERÊNCIAS

COSTA, Francisco João Toste et al. Utilização de eCG/hCG e de Altrenogest na indução e sincronização de estros em marrãs. 2019. Tese de Doutorado. Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina Veterinária.

MACHADO, Glauber S. DESAFIOS ATUAIS NO MANEJO DA LEITOA PARA REPRODUÇÃO.

MORETTI, A. S. et al. Controle farmacológico do ciclo estral. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v. 37, n. 2, p. 213-219, 2013.

SILVA, Priscilla Cristine Passoni. Sincronização do estro e coleta de embriões em suínos nacionais. 2016.

WENTZ, Ivo et al. O que há de novo no manejo de leitoas. VI SINSUI-Simpósio Internacional de Suinocultura Produção, Reprodução e Sanidade Suína, p. 101, 2011.

WERLANG, Rafael Faraco. Efeitos da cobertura no segundo estro ou após tratamento hormonal com altrenogest pós desmame no desempenho reprodutivo subsequente de primíparas suínas. 2010.

AUTORES: Cíntia Sartori, gerente de serviços veterinários da Unidade de Suínos da Ceva Saúde Animal  e William Costa, gerente técnico da Unidade de Suínos da Ceva Saúde Animal.