1. O mundo:
A crise econômica mundial é, ao lado de seu reflexo imediato – o protecionismo, o principal entrave para as exportações, muito mais do que os conflitos e suas conseqüências. A UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento) ao divulgar suas previsões para o comércio mundial em 2002 salientou uma acentuada queda em seu crescimento de 12% para 4%. Essas mesmas previsões indicaram em seu “World Investment Report” uma queda nos investimentos mundiais da ordem de 40%. O Brasil aparecia entre os países mais afetados, porém, a despeito da falta de privatizações, o país continua tendo boa entrada de capitais. Da mesma forma, o FMI (Fundo Monetário Internacional), em seu “World Economic Outlook”, revisou a taxa de crescimento da economia mundial em 2001 para 2.6%, tendo o ano 2000 fechado com algo entorno de 4.7%.
Exatamente no contexto dessas previsões para 2002 que parte das exportações brasileiras são enquadradas. Um eventual prolongamento de um conflito bélico em decorrência dos ataques, poderia realmente revisar para baixo a economia mundial e afetar diretamente exportações brasileiras, muito embora este cenário não tenha se configurado. Mesmo assim, o setor suinícola sempre teve grandes possibilidades de localizar-se ao largo da crise. O incrível aumento da produtividade e qualidade do produto nacional fizeram com que suas exportações aumentassem e não diminuíssem como se acreditava no final de 2001. Com o vertiginoso crescimento de 112,84% em relação ao ano 2000, o setor suinícola aumentou ainda mais suas exportações no primeiro trimestre de 2002 e a tendência é de um crescimento ainda maior. Atualmente o Brasil já ocupa o quatro lugar no ranking mundial de produtores com 2 milhões de toneladas/ano, ficando atrás apenas dos EUA, Canadá e União Européia. E de acordo com a SECEX (Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento) a carne suína já esta entre os dez mais importantes produtos da exportação brasileira. Tal setor, entretanto, baseia suas exportações em apenas três grandes mercados – Rússia, China “Hong Kong” e Argentina – ficando a mercê das oscilações de poucos compradores.
Conforme apontado em texto anterior (ver “O Cenário Internacional do Mercado Mundial de Carne Suína e a diversificação da pauta exportadora”) a dependência das exportações brasileira de carne suína pode causar problemas no futuro, caso o país não diversifique o mais rápido possível sua pauta. Nesse sentido, o ativos produtividade e qualidade são as armas para os negociadores e empresas brasileiras abrirem ou ampliarem alguns mercados especiais. Vejamos alguns deles:

2. Rússia e China:
De acordo com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – o clube dos países ricos) tanto a Rússia como China tendem, no ano de 2002, a manter extraordinárias taxas de crescimento a despeito da crise mundial. A organização revisou para baixo as taxas de crescimento de ambos países: de 9% para 8.2% e de 8% para 7.9% respectivamente, provando uma pequena, senão irrisória queda.
A Rússia vem a algum tempo equilibrando suas contas e crescendo vertiginosamente. E não poderia ser diferente, haja vista a enorme crise que assolou o país desde o fim da URSS. Já no que concerne ao mercado chinês pouco se pode frisar. Todos sabem que o mercado chinês mostra uma pujança sem igual dentre os demais, e sua entrada na OMC irá alterar o ordenamento mundial do comércio. O impacto de seu imenso mercado interno e suas crescentes exportações vem de alguma maneira tornando-se a grande esperança econômica de seus principais parceiros. Sendo um ávido importador de alimentos as exportações brasileiras terão muito a ganhar se nossos negociadores entenderem melhor suas especificidades e sua complicada burocracia. A China é verdadeiramente um mundo novo para ser desvendado.
Partindo do pressuposto de que esses dois países tendem a manter sua demanda aquecida, as exportações brasileiras de suínos provavelmente se manterão estáveis e não devem sofrer quedas bruscas, pelo menos no curto e médio prazos. Talvez o único horizonte não tão convidativo para esses países seja uma brusca queda da demanda interna em decorrência do desaquecimento americano, principalmente no caso chinês. Deve-se levar em consideração que uma eventual queda será indireta e não decorrente de um problema interno ao mercado. Tais quedas indiretas demoram um pouco mais para concretizar-se e, como o cenário catastrófico para e economia mundial não se concretizou, graças à recente retomada norte-americana, o exportador nacional pode ficar tranqüilo, pelo menos no curto prazo. Já no caso russo a demanda deve continuar aquecida, pois as previsões econômicas assim indicam. No entanto, a notória instabilidade histórica russa deve ser sempre lembrada e a atual dependência torna-se, nesse sentido, preocupante.

3. Argentina:
No que concerne ao mercado argentino, as previsões talvez sejam pouco otimistas. A despeito do crescimento econômico mundial visto nos últimos anos, a economia argentina provou estar muito aquém das expectativas, notadamente das expectativas do exportador brasileiro. A precaução é o sentimento consensual ao investir no mercado austral. Seria interessante considerar uma queda na exportação para aquele mercado, mesmo que o produto brasileiro obtenha uma melhora ainda maior em produtividade e competitividade. Os últimos acontecimentos em Buenos Aires (“panelaço” e saques) não apontam para um futuro crescimento da demanda, principalmente no curto prazo. A Argentina, muito provavelmente, não aumentará a suas compras e a previsão é de queda. A desvalorização recente do peso veio para dificultar o produto proveniente do Brasil. Por outro lado, as recentes afirmações do Ministro das Relações Exteriores da Argentina Carlos Ruckauf, apontam para o fim dos entraves comerciais entre os dois países dentro de um prazo de 60 dias. Talvez essas medidas ajudem o incremento do comércio entre os dois países, principalmente na avicultura.

4. Japão:
O mercado japonês, sempre bastante interessante para eventuais exportações, deve mais uma vez passar ao largo do foco de atuação da suinocultura nacional. Os americanos, tradicionais abastecedores desse imenso mercado, continuando sentido a recessão japonesa, a qual já dura pelo menos uma década. Tudo indica que o Brasil somente irá inserir-se no Japão a partir da abertura na União Européia. Nesse caso, cabe ao exportador nacional promover gradativamente seus produtos de maneira concomitante com a Europa.

5. União Européia:
É importante salientar que o horizonte mais promissor para a suinocultura brasileira seja o impressionante mercado europeu. A missão da União Européia que passou por terras brasileiras não liberou, por enquanto, os entraves comerciais daquele promissor comprador. Mesmo sabendo de antemão que muito pouco da proposta européia seja alentadora para as exportações do bloco sul-americano, o país só tem a ganhar com a insipiente, porém inicial abertura daquele impressionante mercado. Sendo a barreira comercial mais difícil cabe uma maior concertação política do governo brasileiro no sentido de realmente frisar a diminuição das barreiras fitossanitárias, cotas, etc. Outro fator interessante foi a nova rodada mundial de negociações em Novembro de 2002 no distante Catar. Nada se pode esperar de concreto de tais negociações, mas é certo que o Grupo de Cairns não medirá esforços para exigir da União Européia um sinal positivo para uma diminuição dos subsídios e barreiras comerciais para o sistema agropecuário. Isso sem levar em consideração o fato da Europa passar por problemas sanitários que de alguma maneira ajudaram nossa exportações para outros mercados.
Para completar as negociações com esse bloco o Brasil, sabiamente, fechou recentemente acordos sanitários e fitossanitários com a Polônia. Esse interessante país pode se tornar não somente a porta de entrada dos produtos brasileiros nos países do Leste Europeu, mas também, graças à aderência de Varsóvia à União Européia em 2004, a porta de entrada para a própria comunidade. O mercado europeu possui lógica própria e bastante interessante para os exportadores nacionais e, uma vez lá dentro, poucas fronteiras comerciais permanecerão no cenário mundial, inclusive as japonesas. Desse modo o Brasil está com várias frentes de negociações e todas elas com boas perspectivas para a suinocultura. Seria impensável acreditar que nada seja liberado nessa área.

6. O Brasil:
O Brasil historicamente possui grande fragilidade em seu balanço de pagamentos e, consequentemente, possui tradicionalmente uma grande instabilidade do câmbio. Entretanto, os últimos meses vem mostrando uma certa constância que facilita as previsões comerciais nacionais. Alguns dos insumos da suinocultura são importados, mas influenciam de maneira tímida a composição dos custos da carne suína. O Brasil produz seus principais insumos e continuará dessa forma de maneira cada vez mais agressiva. Além disso há uma tendência da produção deslocar-se dos países desenvolvidos para outras áreas, notadamente para países em desenvolvimento, haja vista as intenções da americana Carrol”s Food em instalar-se no Centro-Oeste brasileiro. Se nossa alta competitividade e competência comercial alavancaram as exportações até agora, quem dirá quando os mercados compradores se tornaram diversificados?
Fazendo um balanço geral da exportação brasileira de suínos nesse último ano (2001), verifica-se um impressionante crescimento no volume, e um insipiente aumento na diversidade dos clientes. Os dados são surpreendentes, o aumento nos embarques do mês de agosto de 2000 para o mesmo mês em 2001 foi da ordem de 155%. No mesmo ano o Brasil diversificou, ainda que de maneira tímida, seus destinos. A Argentina equilibrou suas compras com a Rússia e a China e mais mercados vem subindo, principalmente na América Latina. Cabe, portanto, aumentar o número de compradores e incrementar algumas pequenas compras de países importantes como o México, Chile e África do Sul.

Feliciano de Sá Guimarães*
*Bacharel em Relações Internacionais pela UTP e Sociologia pela UFPR.

Fontes de Pesquisa:
– A Comunidade Virtual da Suinocultura Brasileira ( www.suino.com.br )
– Anualpec 2001
– Fundo Monetário Internacional (www.imf.org)
– Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (www.unctad.org)
– Organização Mundial do Comércio (www.wto.org)