A economia global se beneficia quando, no comércio internacional de grãos geneticamente modificados (GM), os países adotam regulamentações previsíveis e baseadas em ciência. Um estudo inédito feito pela consultoria Agribusiness Consulting Group (Informa) quantificou esse benefício para países exportadores, como é o caso do Brasil, se não houvesse atraso nas aprovações de transgênicos na China. De acordo com o trabalho, o país asiático, um dos principais importadores de grãos GM do mundo, também colheria vantagens caso adotasse um sistema regulatório estável.

Intitulado “Impacto da demora das aprovações de transgênicos na China”, o trabalho foi lançado dia 30 de maio de 2018. O levantamento revela que haveria crescimento econômico, introdução de novas tecnologias agrícolas e benefícios para agricultores e consumidores caso a regulamentação chinesa fosse mais previsível. A diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), Adriana Brondani, corrobora as conclusões do relatório. “No mercado de transgênicos, assim como em outros, empresas públicas ou privadas têm mais condições de inovar quando podem contar com legislações baseadas em ciência”.

A análise dos possíveis impactos foi realizada em duas fases. A primeira focou no período entre 2011 e 2016. A segunda, em uma estimativa para os anos entre 2017 e 2022. O levantamento mostra que a segurança alimentar depende, em grande medida, de os produtos agrícolas chegarem até os consumidores. Atrasos na aprovação de tecnologias seguras e eficientes dificultam o esforço global de combater a fome e a desnutrição. É preciso que as inovações trazidas para a agricultura pela biotecnologia sejam analisadas com agilidade. De outra maneira, pode haver comprometimento da capacidade dos países de alimentar suas populações e dificuldade de promover crescimento econômico.

Brasil e China são parceiros comerciais importantes. Nosso país é responsável por 1/3 da produção global de soja (96,5% dela transgênica) e é o principal fornecedor dessa commodity para a China. Além disso, o país asiático importa 60% de toda a soja brasileira. Para atender a essa demanda crescente, o Brasil, desde 1998, adota biotecnologia. De lá para cá, aumentou em 300% a produção da oleaginosa. O uso de transgenia foi fundamental para esse salto.

Toda essa produção é exportada para os grandes mercados consumidores globais, entre os quais a China ocupa posição de destaque. Somente na safra 2017-18, a expectativa brasileira é exportar mais 114 bilhões de toneladas de soja para a China. É exatamente para manter esse comércio ativo e sem interrupções que os países importadores devem adotar regulamentações que acompanhem o ritmo daquelas que existem em seus parceiros exportadores. Essa sincronia é fundamental porque as empresas não lançam comercialmente seus produtos até que os mesmos estejam aprovados nos principais mercados para onde serão enviados.

Dados do estudo recente da Informa revelam que, entre 2011 e 2016, a demora nas aprovações de transgênicos na China teve os seguintes impactos no Brasil:

  • 2,6 bilhões de toneladas de soja e milho deixaram de ser exportadas
  • Agricultores deixaram de lucrar 2,3 bilhões de dólares
  • Aproximadamente 75 mil empregos deixaram de ser criados
  • Um total de 1 bilhão de dólares em salários foram perdidos
  • Retração econômica de mais de 2,6 bilhões de dólares
  • Quase 4,9 bilhões de dólares em vendas não foram feitas

Assim, caso não haja melhora nesse cenário, o prejuízo pode aumentar. Só em soja e milho, entre 2017 e 2022, o Brasil poderá deixar de exportar 8 bilhões de toneladas. Por outro lado, se as aprovações de transgênicos na China tornarem-se previsíveis e baseadas em ciência, nos próximos cinco anos o impacto positivo seria enorme. A consultoria estima os números abaixo:

  • Aumento no rendimento agrícola de praticamente 2,7 bilhões de dólares.
  • Criação de 66 mil postos de trabalho diretos e indiretos
  • Incremento de salários de mais de 1,2 bilhões de dólares
  • Possível aumento do PIB de mais de 3 bilhões de dólares
  • Ampliação das vendas de quase 6 bilhões de dólares

Aprovações de transgênicos na China – impactos em países exportadores

Não é só o Brasil que sente os impactos do atraso nas aprovações de transgênicos na China. Os números do estudo mostram que Argentina, Canadá e Estados Unidos também foram afetados. Nos últimos cinco anos (2011 – 2016), esse grupo de nações teria os seguintes benefícios se as aprovações de transgênicos na China acontecessem no mesmo ritmo em que ocorrem em seus territórios:

  • 8 milhões de dólares a mais em rendimentos agrícolas
  • 120 mil postos de trabalho criados
  • PIB incrementado em 11 milhões de dólares
  • 6 bilhões de dólares a mais em salários
  • Injeção de 11 bilhões de dólares na economia
  • Vendas de quase 22 bilhões de dólares

A China também é afetada pela morosidade de seu próprio sistema regulatório de importação de organismos geneticamente modificados. O atraso na aprovação de transgênicos na China pode reduzir a disponibilidade de alimento para a indústria de grãos e de carnes. Adicionalmente pode haver aumento do custo do milho para os consumidores. “O diálogo multilateral sobre esses temas permite o acesso às ferramentas agrícolas que necessitamos para enfrentar o enorme desafio de aumentar a produtividade da agricultura de maneira sustentável”, pontua Adriana.

Retrato da adoção de transgênicos no mundo

O Brasil abraçou a biotecnologia agrícola. Segundo o mais recente (2017) relatório do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA), somos o segundo País que mais adota transgênicos no mundo. Nossa área plantada, que em 2016 foi de 49,1 milhões de hectares, só perde para a dos Estados Unidos (72.9 milhões de hectares). Em terceiro lugar, figura uma outra importante nação exportadora, a Argentina, com 23.8 milhões de hectares plantados com culturas GM.

 

Fonte: Redação CIB- Conselho de Informações sobre Biotecnologia