O país vive um período de deflação (queda geral de preços), mas o aumento dos custos de produção vem impulsionando para cima o preço dos alimentos. A culpa não é dos produtores rurais, mas dos insumos usados na produção de alimentos de origem vegetal e animal, mostra o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina, Enori Barbieri.

A deflação geral da economia foi apurada pelo IBGE no levantamento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) que recuou 0,01% em abril, após avançar 0,02% em março. No setor de alimentos, a inflação também foi apurada pelo IBGE no índice “alimentação e bebidas” que subiu 2,46% em abril, ante 0,35% em março e exerceu o maior impacto sobre o IPCA-15. A alta é decorrência da corrida das famílias aos supermercados para formar estoques e enfrentar o isolamento.

Os itens de alimentação no domicílio (adquiridos em supermercados) subiram 3,14%. Mesmo com muitos estabelecimentos fechados, a alimentação fora de casa também acelerou, de 0,03% em março para 0,94% em abril, influenciada pela alta do lanche (3,23%): o delivery ganhou maior participação.

Barbieri explicou a origem da elevação de preços dos principais produtos.

O aumento no preço do feijão se deve à seca e a redução da área plantada, mas a terceira safra anual será colhida em breve e os preços devem se normalizar a partir deste mês de maio.

Ainda muito impactante na composição da inflação, o arroz subiu porque o Brasil colheu uma safra pequena de 10,5 milhões de toneladas, enquanto o normal seria 12 milhões de toneladas. Os rizicultores estavam há cinco anos com prejuízos e, agora, terão algum lucro. Os preços devem se manter elevados até a próxima safra, em 2021. Santa Catarina colheu 1 milhão de toneladas e, o Rio Grande do Sul, 8 milhões de toneladas.

O segmento do leite amargava há quatro anos praticamente com o mesmo preço. Os produtores estavam muito mal remunerados e a oferta andava maior que consumo desde o ano passado. A seca em novembro e dezembro mudou o cenário de oferta e procura.

“Com a estiagem, a qualidade das pastagens cai e a produtividade das vacas também. Utilizar ração industrial na nutrição dos animais não é possível, porque se torna um custo que não pode ser coberto pela remuneração do criador. Metade da produção brasileira está concentrada no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, os estados mais castigados pela seca”, detalha Barbieri.

Por outro lado, grandes laticínios estão transformando o leite fluido em leite em pó para exportação, visando aproveitar a excelente condição cambial para venda no exterior (dólar em alta).

Tudo isso criou escassez no mercado interno. “O preço do leite precisa mesmo subir para compensar o produtor rural que está há quatro anos sem reajuste e ameaça abandonar a atividade. Necessitamos de um reenquadramento de custo de produção, porque os preços precisam subir mais ainda,” expõe o dirigente.

Produto essencial na produção de proteína animal, o milho está fortemente influenciado pelo câmbio e os negócios acompanham a cotação da Bolsa de Chicago. No ano passado, o Brasil colheu a maior safra da história, com 101 milhões de toneladas, mas exportou 44 milhões de toneladas. Como consome 70 milhões, precisa importar.

Estão sendo importados 3 milhões de toneladas enquanto se aguarda a safrinha, que deve render entre 77 milhões e 80 milhões de toneladas. O problema é que parcela de 77% dessa produção já está vendida para o exterior. Assim, as agroindústrias de aves e suínos terão um fim de ano apertado no que tange ao fornecimento de milho para nutrição animal.

A soja, outro insumo básico para a cadeia produtiva, “tem preço que aumenta todo dia” influenciados pelas cotações internacionais. É uma situação semelhante ao milho: País vai colher 120 milhões de toneladas e mais de 70% já está sob contrato de venda para o exterior. A cotação em dólar mantém preço alto.

A base da alimentação animal é constituída por 70% milho e 30% farelo de soja, influenciados por preços internacionais. O dólar valorizado também impacta nos fertilizantes e em 70% dos outros insumos importados, fazendo subir o custo das lavouras e, por consequência, dos grãos, hortigranjeiros, frutas, carnes, leite etc.

As previsões para os insumos importados – para os próximos meses – são de preços em alta. O dólar ficará no patamar dos R$ 5 reais, a saca de milho não baixará de R$ 50 reais para a agroindústria e a saca de soja estacionará em torno de R$ 100 reais.

Enori Barbieri assinala que o produtor rural não tem controle sobre esse fatores que aumentam o preço final dos alimentos para o consumidor.

Fonte: Faesc