Por Ivan Ramos diretor executivo da Fecoagro

Talvez poucas pessoas conseguem avaliar o quanto representa economicamente uma pandemia dessas que estamos atravessando. Além dos problemas da área da saúde que demandam investimentos, e desestruturação das atividades econômicas devido à paralisação de todas as atividades, precisa ser considerado, o quanto os governos estão gastando, para garantir a assistência medica e evitar perdas de vidas e também para manter as atividades econômicas atuais e dos proximos meses Os bilhões de reais que são citados como liberação aqui ou ali, certamente farão falta logo ali na frente, pois dinheiro não caiu do céu, e em países com maior dificuldade e déficit fiscal como o Brasil, com certeza o problema será ainda maior.

Todos nós temos que reconhecer que o esforço das autoridades é notável, embora ainda exista nesse meio, aproveitadores, que usam uma crise para solucionar problemas individuais, e outros para explorar a facilidade de acesso aos recursos. E isso tem acontecido para entidades oficiais, empresariais e pessoas físicas.

Diante de uma pandemia que parece que nunca acaba eis que chega a data que precisa ser anunciado medidas econômicas que atenda o Plano Safra que começa a vigorar em 1º de julho. Eu não queria estar na pele das pessoas do governo federal que precisam tomar medidas econômicas em meio a uma crise que não se sabe o que vai acontecer nos próximos meses. Mas há que se reconhecer que o governo federal foi corajoso ao apostar no futuro do país. Certamente convicto de que o setor agropecuário é quem tem segurado as pontas em épocas de crise, anunciou medidas de apoio ao setor rural ampliando a oferta de recursos, e reduzindo as taxas de juros. ´

Há quem reclame que juro ainda ficou muito elevado em relação aos custos de captação, ou seja, a Selic atual, porém, precisamos reconhecer que os juros anunciados são menores do que os em vigor no plano atual, são fixos e garantidos por um ano para o custeio e até 12 anos para investimentos. A taxa Selic é variável e depende de muitos fatores econômicos, inclusive internacionais, portanto, não é possível comparar uma coisa diferente e querer tratamento igual. Tem quem diga que com a Selic baixa e juros de financiamentos maiores, quem ganhará serão os bancos às custas do tesouro nacional, não que precisa equalizar as taxa. 

Tecnicamente não é bem assim, mas mesmo que o fosse, o que o setor agropecuário precisa buscar é a sua renda na atividade. Não podemos ficar nos preocupando com o que os outros ganham e sim do que precisamos ganhar para continuar na atividade. É verdade que temos outros riscos a correr, como o mercado, o clima, a economia, as pragas etc., e para isso temos que ter outras políticas públicas de apoio do setor e dentre elas o seguro agrícola; e no conjunto o governo está cuidando e devem ser acionadas no momento oportuno.

Ainda bem que ouvimos de lideranças do setor, que de modo geral o Plano anunciado agradou, com raríssimas exceções, e que temos que entender que unanimidade geral nunca teremos, e que segundo os entendidos “toda a unanimidade é burra”. É salutar termos discordantes, mas racionalmente justificado.

Precisa ser destacado nesse Plano Safra o trabalho da Ministra Tereza Cristina. Ela foi fundamental para convencer o governo da importância dessa atividade para o país. A dela como deputada também e dos parlamentares da Frente Parlamentar da Agropecuária, e da Frente do Cooperativismo, aliada ao importante trabalho de assessoramento técnico das entidades do agronegócio como a OCB e a CNA que contribuíram para convalidar as propostas aprovadas.

Mais uma vez ficou claro que não adianta querer dissociar a política da economia. Ambas se completam e temos que ter a consciência que precisamos dos políticos corretos, honestos e dedicados. Infelizmente ainda somos carentes disso no nosso setor, e muitas vezes apoiamos somente por ideologias ou partidos. Elas precisam existir, mas não podemos olhar só esse lado da política. Esperamos que a cada eleição tenhamos mais consciência que precisamos apoiar os políticos porque na hora das decisões que nos afetam, são eles que decidem. Pense nisso.

Fonte: Fecoagro