Blog da Agroceres: Fatores associados ao canibalismo de cauda na suinocultura
- 13 de maio de 2019
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Um dos principais problemas de comportamento animal, na suinocultura moderna, é o canibalismo de cauda. Esse distúrbio prejudica o bem-estar dos animais, pode provocar sérios problemas de saúde no rebanho, além de proporcionar graves perdas econômicas para o produtor.
Apesar do canibalismo de cauda ser reconhecido como um problema frequente na suinocultura, sua ocorrência é pouco compreendida. Várias hipóteses foram criadas para explicar esse comportamento, entretanto, apenas duas conclusões foram obtidas através dos trabalhos científicos: 1º, o canibalismo de cauda é um problema esporádico e; 2º é de origem multifatorial. Para entender mais essas conclusões, basta observarmos que a ocorrência do canibalismo nas granjas se concentra apenas em alguns lotes de animais ou até mesmo em algumas baias, nunca observamos sua ocorrência em toda a granja.
Com isso, o objetivo dessa discussão é apresentar os principais fatores associados ao canibalismo de cauda na suinocultura, para determinar as melhores estratégias para prevenir e controlar sua ocorrência.
Fatores associados ao canibalismo
As pesquisas realizadas apontam algumas causas como mais predisponentes à ocorrência do canibalismo nas granjas, sendo que os principais fatores associados ao canibalismo estão descritos na tabela a seguir.
Tabela 1: Fatores de risco associado à ocorrência de canibalismo nas granjas de suínos
Fatores de risco | Características |
Sexo | Machos inteiros e fêmeas manifestam mais canibalismo que machos castrados. Esse comportamento está relacionado ao interesse sexual e curiosidade pelos órgãos genitais. (Schrøder-Petersen,2005). |
Lotação das baias | Alta densidade de animais, reduzindo sua área disponível em m2, aumenta a incidência de canibalismo. (Scollo et al., 2016) |
Idade e peso | Probabilidade de incidência de canibalismo aumenta com a idade dos animais. Leitões desmamados mais leves tendem a apresentar maior incidência de canibalismo. (Beattie et al., 2005). |
Piso | Piso compacto em associação com palha ou maravalha tende a diminuir o canibalismo. (EFSA. 2007; Hunter et al., 2001). |
Qualidade dos ingredientes da dieta | Qualidade dos ingredientes da ração, e restrição alimentar podem aumentar incidência de canibalismo. (Stafford,2010). |
Qualidade da mistura da dieta | Garantir a qualidade da mistura da dieta (coeficiente de variação), garante que os nutrientes estejam disponíveis de acordo com a necessidade dos animais. Animais com restrição nutricional tendem a apresentar maior incidência de canibalismo. |
Saúde do rebanho | Problemas respiratórios aumentam em 1,6 vezes a chance de ocorrer canibalismo. (Moinard et al., 2003) |
Qualidade do ar | Altos níveis de amônia (>10ppm) aumentam a incidência de canibalismo. (Scollo et al., 2016) |
Fonte: Adaptado de Sonoda et al., 2013.
Perdas econômicas
Um trabalho foi conduzido por SINISALO et al. (2012), através da observação de desempenho de 3190 suínos. Foram avaliados o ganho de peso médio diário (GPD), conversão alimentar (CA) e a % de carne de animais acometidos ou não pelo canibalismo de cauda.
Ao todo, 11,4% dos suínos foram identificados como vítimas do canibalismo de cauda (364 animais). As não vítimas tiveram um GPD maior do que as vítimas (diferença de 33,4 g/d nas médias observadas, mas diferença de 10,8 g/d quando ajustada com índice genético). Entretanto, não foram observadas diferenças significativas entre CA das vítimas e não vítimas, e na % de carne.
Na tabela a seguir, realizaremos uma simulação, comparando o peso final dos animais com a diferença de GPD apresentada no trabalho, para entender o impacto econômico em uma granja de 1000 matrizes.
Vítimas de canibalismo | Não vítimas de canibalismo | |
Peso início do experimento | 34 kg | 34 kg |
GPD | 948 gramas | 937 gramas |
Peso final do experimento | 124,06 kg | 123,01 kg |
Como podemos observar, a diferença de peso nos animais acometidos pelo canibalismo foi de 1,05 kg até a sua venda. Isso equivale à redução de 3.192 kg de carne em uma granja de 1000 matrizes, por ano, se considerarmos 11,4% de animais acometidos.
Desta forma, a perda econômica apenas pela redução do GPD é pequena, entretanto se o canibalismo gerar uma alta mortalidade dos animais, pode proporcionar grande impacto econômico no sistema produtivo. Além disso, o aumento no gasto com medicamentos e condenações de carcaça no frigorifico podem gerar aumento nas perdas financeiras.
Estratégias para controle
A melhor estratégia a ser adotada na granja é a prevenção do início do canibalismo, observando os pontos associados à sua ocorrência na granja. Entretanto, caso ocorra o canibalismo, alguns passos devem ser seguidos para evitar o aumento no número de ocorrências. São eles:
- Separação dos animais acometidos pelo canibalismo. O sangue na ferida proporciona interesse pelos animais, fazendo com que a ocorrência aumente. Essa separação facilita a medicação do animal e o uso de pomadas cicatrizantes na ferida;
- Separação dos animais que estão praticando o canibalismo;
- Oferecer brinquedos nas baias, como: correntes, pedaços de madeira, cordas, pedras de sal ou cocho acessório de ração. A presença destes materiais faz com que os animais deixem de prestar atenção em seus companheiros de baia;
- Melhorar a ventilação do galpão;
- Aumentar a área por animal nas baias onde estão ocorrendo o canibalismo;
- Colocar maravalha ou palha na baia, caso ela seja compacta.
Considerações finais
O canibalismo não possui etiologia definida, portanto prevenir sua ocorrência é a melhor estratégia. Sua prevenção é realizada garantindo as condições ambientais, manejo adequado, qualidade de nutrientes e de mistura das dietas, assegurando com isso, o bem-estar necessário para o crescimento dos suínos, o que vai repercutir – além da prevenção do canibalismo – em um melhor desempenho dos animais.
Fonte: Agroceres Multimix