Vinte e um anos depois de ser introduzida no Brasil, a biotecnologia abre inúmeras possibilidades para a produção agrícola nacional. Além da já consolidada soja RR e das 130 liberações comerciais concedidas no país, novas cultivares devem chegar ao mercado para revolucionar os processos, do campo à cidade. Uma das novidades que deve sair do forno em breve, adianta o pesquisador da Embrapa Soja e conselheiro da CTNBio Alexandre Nepomuceno, é uma nova variedade de soja com resistência ao fungo da ferrugem asiática. E apresentou diversas outras novidades que estão em pesquisa, como variedades de soja resistentes à seca que estão sendo testadas pela Embrapa e até plantas capazes de identificar presença de minas subterrâneas por meio de alterações em sua coloração.

O pesquisador ainda citou a liberação pela CTNBio de pesquisa inédita para uso de insetos transgênicos em lavouras, como a alteração no gene da lagarta do cartucho para reduzir perdas no milho. A ideia, explica ele, é semelhante a já aprovada para o controle do mosquito Aedes aegypti, que, por meio de introdução de um gene, garantiu esterilização de insetos e redução de população de mosquitos transmissores de doenças como dengue e chikungunya.

Nos últimos 28 anos, a produção de grãos no Brasil aumentou cinco vezes enquanto a área teve expansão de apenas 3 vezes.  Contudo, esse resultado não foi revertido em investimentos de pesquisa. Nos Estados Unidos, existe uma lei chamada Check-Off, que prevê  que 0,5% do valor de cada saca colhida seja revertido para um fundo de pesquisa. Se ela fosse aplicada no Brasil, estimou ele, na safra 2017/2018 haveria um aporte em Pesquisa e Desenvolvimento de R$ 892 milhões. Ele citou a importância de o país ter políticas de maior estímulo às mentes que fazem todo esse desenvolvimento e reter esses talentos e os lucros de todo esse processo. O pesquisador da Embrapa Soja citou que diversos países estão trabalhando na formação de bancos de dados genômicos, um trabalho que ainda engatinha no Brasil. Na China, cita ele, já se sequenciou o DNA da mandioca, produto originário na flora brasileira.

O painel foi moderado pelo professor da Ufrgs Luiz Carlos Federizzi, que relembrou os caminhos percorridos pela biotecnologia no Brasil até a atualidade. Segundo ele, o desenvolvimento ao longo desses mais de 20 anos ficou um pouco abaixo da expectativa inicial, uma vez que se limitou a apenas quatro espécies.  Nepomuceno completou lembrando a polêmica criada no Brasil sobre o uso dos transgênicos no final da década de 1990 foi, na verdade, um grande jogo de interesses. “Muita gente perdeu dinheiro. Despencou a venda de outros herbicidas que acabaram substituídos pelo Roundup Ready”, afirma.

Brasil tem primeiras plantas com genes editados e considerados não-transgênicos

O Brasil está iniciando pesquisas com variedades agrícolas com genes editados para fazer plantas mais tolerantes a estresses do ambiente e mais produtivas. A informação foi divulgada pelo pesquisador da Embrapa Soja e conselheiro da CTNBio Alexandre Nepomuceno, durante palestra realizada na tarde desta quinta-feira (6/6), na 1ª Jornada da Rede Técnica Cooperativa (RTC), em Gramado. Segundo ele, essa é uma tendência e já está em teste com variedade de milho no Brasil.

Uma outra tecnologia que poderá revolucionar o agronegócio é o uso do RNAi, o chamado RNA interferente. É um mecanismo natural para desativar áreas do DNA. Inicialmente, o grande desafio era sequenciar esse RNA em laboratório. Recentes pesquisas conseguiram realizar isso e já se estuda o uso de substâncias capazes de serem aplicadas por aspersores para desativar genes indesejáveis nas plantas e controlar pragas e doenças. O RNA está na sua infância mas tem o potencial para substituir, no futuro, inseticidas, fungicidas e herbicidas, pois é uma tecnologia que permite que somente genes específicos da espécie-alvo sejam desligados.

Fonte: Agrolink/