No ano de 2015, o Brasil se posicionou como o país com maior rebanho bovino comercial do mundo, segundo maior consumidor, segundo maior exportador de carne bovina e o sétimo produtor de leite. Apesar dos números expressivos da pecuária nacional, a produtividade e rentabilidade dessa atividade são intensamente prejudicados por doenças infecciosas que afetam a reprodução do rebanho e a produção de leite e carne. Entre as doenças de maior importância para a bovinocultura de leite e corte está a brucelose, que ocorre em todo território brasileiro com destaque para os estados da região Centro-Oeste do país.

A brucelose é uma doença bacteriana contagiosa que afeta diferentes espécies animais e a população humana. No Brasil, os bovinos acometidos pela brucelose são afetados pela bactéria Brucella abortus e os sinais clínicos estão relacionados principalmente a problemas reprodutivos: as fêmeas apresentam abortos no terço final da gestação, natimortos ou nascimento de crias fracas, aumento no intervalo entre partos, dificuldade para emprenhar e retenção de placenta, enquanto os machos podem apresentar inflamação dos testículos e baixa qualidade do sêmen.

Além dos problemas reprodutivos, os prejuízos decorrentes da ocorrência de brucelose no rebanho estão relacionados a diminuição da produção de leite e carne, que varia entre 10 e 25%, ao descarte de animais positivos e a desvalorização da atividade e dos alimentos produzidos nessa propriedade. Consequentemente, ocorre uma desvantagem dessa propriedade na disputa por novos mercados, fazendo com que a brucelose gere prejuízos tanto para a saúde animal, quanto para a saúde humana e também para as finanças do produtor.

transmissão da doença entre os animais do rebanho ocorre pelo contato do material contaminado com a bactéria com olhos, nariz, boca e outras mucosas. Esse material infectante normalmente é proveniente de secreções do parto, placenta ou feto abortado que podem contaminar fontes de água e/ou alimentos, gerando a disseminação da doença. Além disso, os bovinos são animais naturalmente curiosos e tendem a cheirar e lamber crias ou fetos abortados próprios ou de outras vacas, o que facilita a transmissão. A participação dos touros na transmissão da brucelose pela monta natural é considerada pequena, pois a vagina possui defesas inespecíficas que vão dificultar a infecção e, em relação a transmissão pela inseminação artificial, a transmissão é incomum, graças aos pré-requisitos (exames) para um touro ser um doador de sêmen.

Na população humana a doença produz sintomas e sinais inespecíficos, ou seja, comuns a outras doenças, como febre, mal-estar, dores articulares, sudorese (noturna), calafrios e fraqueza, dificultando o diagnóstico. A transmissão da bactéria do animal para o ser humano ocorre frequentemente por meio do contato direto com os animais infectados (fetos, placenta, auxilio no parto, entre outras atividades) ou por meio do consumo de leite cru ou seus derivados (queijos, manteigas, cremes, entre outros).

Com objetivo de reduzir a incidência e prevalência de brucelose e tuberculose no país, em 2001, foi implementado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT). Esse programa é baseado principalmente na vacinação obrigatória de bezerras entre 3 a 8 meses de idade com a vacina B19. A vacinação é realizada exclusivamente por veterinários ou vacinadores sob sua responsabilidade e os animais vacinados são marcados a ferro na cara esquerda.

O programa também prevê a realização de testes diagnósticos para animais em trânsito que não seja com a finalidade de abate. Os testes de triagem utilizados dentro do PNCEBT são o Antígeno Acidificado Tamponado (AAT), realizado individualmente, e o Teste do Anel do Leite (TAL), realizado para exame do rebanho. Ambos podem ser realizados por veterinários habilitados para atuar no programa. Os resultados positivos nesses testes são confirmados por exames complementares. O teste do 2-Mercaptoetanol, Polarização de Fluorescência e o Teste de Fixação do Complemento podem ser usados para confirmar a infecção e são realizados por laboratórios credenciados no MAPA.

Outra medida adotada pelo programa para diminuir a ocorrência de brucelose no país é a certificação de propriedades livres da doença. Essa é uma medida voluntária, o produtor pode decidir se deseja ou não participar da certificação, enquanto a vacinação e o teste de animais em trânsito com a finalidade de reprodução são medidas obrigatórias. Além disso, é importante destacar que todos os animais diagnosticados como positivos devem ser sacrificados e que o tratamento de animais doentes é proibido.

A melhor forma de prevenir a brucelose em animais é por meio da vacinação. Além da vacinação, é necessária a vigilância constante, principalmente na introdução de novos animais, pois essa é uma das formas mais comuns da brucelose entrar em um rebanho sem histórico da doença. Sendo assim, faz-se necessário testar os animais no momento da compra na propriedade de origem, e se negativos, fazer a quarentena na propriedade de destino e testá-los novamente antes de colocá-los junto com os outros animais. Essas medidas evitam que um animal assintomático entre em contato com um rebanho saudável e transmita a doença. No primeiro contato de um rebanho com a doença as taxas de aborto podem chegar a 15%.

Não existem vacinas contra a brucelose para a população humana, no entanto a doença pode ser prevenida pela adoção das seguintes medidas: ter contato com secreções animais (placenta, feto ou fluidos corporais) ou com as vacinas usadas para o rebanho apenas usando luvas, máscara, casaco ou macacão de manga comprida e se possível óculos de proteção; não ingerir leite cru ou qualquer produto feito a partir de leite cru, ou mesmo carne mal passada. É importante destacar que a brucelose no homem é uma doença incapacitante e de difícil diagnostico. Dessa forma, quando o assunto é brucelose, é crucial cuidar bem do rebanho para promover a saúde na população humana também.

Por: Marina Martins de Oliveira1;Rafaella Silva Andrade1; Elaine Maria Seles Dorneles2

1Doutoranda e Ciências Veterinárias na Universidade Federal de Lavras
2Professora do Departamento de Medicina Veterinária na Universidade Federal de Lavras