Por Shirley Martins Menezes, Mestra e Pesquisadora do Cepea

Gigante se tornou um fornecedor de carne bovina em tamanho compatível ao da sua natureza. Isso faz com que sua cadeia produtiva ganhe destaque não apenas pelos volumes e valores alcançados – e que, em última análise, proporcionam resultados positivos importantes em termos socioeconômicos –, mas também pela veemente necessidade de engrenar uma nova fase de seu desenvolvimento.

Nesta nova etapa, torna-se fundamental que os diversos segmentos da cadeia da carne busquem ações que visem o aumento de qualidade – de processos e de produtos –, possibilitando enfrentar os desafios de mercado de maneira mais eficiente, e também a potencialização dos ganhos, até então obtidos em especial pela competitividade pautada no volume e no preço.

Promover aumento da qualidade começa pela indispensável definição do tema. A determinação do que significa uma carne de qualidade envolve aspectos diversificados, que passam por questões sensoriais, nutricionais, sanitárias, éticas, religiosas, relativas ao meio-ambiente, dentre outras, que podem formar combinações distintas e refletir prioridades diferentes, de acordo com o mercado consumidor.

A qualidade de carne requerida pelo consumidor brasileiro, por exemplo, é diferente daquela procurada pelo europeu, que já passou por experiências de riscos efetivos à saúde, ocasionados por problemas de sanidade do rebanho e, por isso, busca garantias relacionadas a esse aspecto.

Uma outra questão importante é que alguns requisitos de qualidade podem ser assegurados somente pelo uso de métodos e/ou sistemas de monitoramento para controle nas diferentes etapas da cadeia produtiva. Isso implica cumprir parâmetros definidos em normas e certificações, estabelecidos por organismos especializados. Ainda que a rastreabilidade, por si, não garanta que a carne e o processo para sua produção tenham qualidade desejada, é inquestionável que se apresenta como ponto-chave para seu gerenciamento.

Nesse contexto, é bem verdade que a qualidade da carne não é obtida no frigorífico.

Mas também é verdadeira a afirmação de que a responsabilidade por ela não é toda do pecuarista. Especialistas ligados a diferentes áreas, como a sanitária, de produção e comercial, deixam claro que a obtenção de carne de qualidade requer melhor conexão de todos os participantes da cadeia. E mais, requisitos de qualidade não raramente precisam também ser tratados de forma a extrapolar o próprio limite da cadeia produtiva da carne bovina, envolvendo agentes e instituições que de alguma forma interagem com essa cadeia e que precisam estar conjuntamente empenhados na busca pelos resultados.

É necessário construir relações de qualidade entre os agentes, em que o aumento da transparência e a troca eficiente de informações apresentam-se como ponto fundamental para alcançar resultados que, em última análise, levam ao aumento da competitividade em um mercado de qualidade, seja doméstico ou externo.