Santa Catarina, maior exportador de carnes de frango e suína do Brasil em faturamento, teve aumento de 170% nos casos de coronavírus nos últimos 30 dias até terça-feira, com apenas dois polos produtores respondendo por cerca de um quinto das ocorrências da doença no Estado, o que preocupa autoridades e a indústria quanto ao eventual fechamento de unidades.

Chapecó e Concórdia, tradicionais sedes das indústrias de carnes do Estado, maior produtor de proteína suína e segundo em aves, aparecem entre as dez cidades com os maiores números de casos confirmados da Covid-19, com 605 e 278, respectivamente, segundo dados de quarta-feira. Chapecó é o município líder em contaminações.

A região abriga importantes unidades de BRF, JBS e Aurora, gigantes do setor de proteína animal.

“Existe a preocupação de que esse crescimento no número de casos da Covid-19 nessas regiões produtoras possa afetar tanto o produtor, como outros elos da cadeia”, disse à Reuters o analista de socieconomia da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Alexandre Giehl.

Para o especialista da empresa vinculada ao governo de Santa Catarina, uma queda no volume de abates por causa do distanciamento social ou de uma eventual contaminação nas unidades poderia impactar ainda áreas como a produção de insumos, demanda por transporte, além da redução nos preços pagos ao produtor.

“É uma preocupação nossa e do setor também”, comentou.

Se as unidades produtoras pararem, pode haver implicações na cadeia produtiva, concordou o presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi.

“Não queremos chegar ao que vimos nos Estados Unidos, onde fizeram sacrifício de suínos para evitar acúmulo no plantel”, ressaltou Lorenzi, lembrando de caso que envolveu uma unidade da JBS USA.

Mas ele ponderou que a possibilidade de descarte de suínos é menor no Brasil, devido à estrutura mais pulverizada de unidades de abate, em relação ao modelo norte-americano.

Nesta semana, uma unidade de aves da Seara, controlada pela JBS, localizada em Ipumirim, vizinha de Concórdia, foi fechada devido à contaminação de funcionários por coronavírus.

Para o dirigente da ACCS, a alta no número de casos no Estado pode estar relacionada à liberação do comércio e ao aumento nos testes realizados na população.

O Laboratório de Conservação e Gestão Costeira da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) realizou uma análise sobre o assunto com base em dados oficiais e destacou dois momentos de abril que impulsionaram a disseminação da Covid-19: a abertura controlada dos setores de serviços no dia 13 e a abertura ampliada no dia 21.

“Fica evidente nos dados… que estas datas foram momentos com grandes consequências para o incremento dos casos em dias posteriores… em todas as regiões de Santa Catarina”, disse em nota o professor da Univale responsável pela análise, Marcus Polette.

Nas chamadas regiões do grande oeste e meio-oeste catarinense, onde cerca de 80% da produção de suínos está concentrada, há quase 1.500 pessoas contaminadas.

Dados do último boletim epidemiológico do governo de Santa Catarina sobre o coronavírus mostram que o número de casos confirmados da doença saiu de 2.028 em 18 de abril para 5.499 em 20 de maio, e os óbitos chegaram a 94. Os primeiros casos foram identificados em 28 de fevereiro.

PREVENÇÃO

O diretor-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, admitiu à Reuters que aumentou o risco de transmissão comunitária da doença, em um processo natural da pandemia, mas lembrou que o setor está bem preparado e seguindo os protocolos de controle.

“Até o eventual fechamento de uma ou outra planta tem efeito limitado sobre a produção, diante das centenas de unidades que temos na região Sul”, disse.

Em nota, a JBS informou à Reuters que, desde o início da pandemia, adotou um protocolo robusto de prevenção e segurança em todas suas unidades para proteger seus colaboradores.

Na mesma linha, a BRF disse que segue as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde, também com consultoria do Hospital Albert Einstein.

Entre as iniciativas adotadas pela empresa estão o uso obrigatório de máscaras, distanciamento mínimo entre funcionários, medição de temperatura nas entradas das unidades, afastamento de colaboradores do grupo de risco e casos suspeitos, reforço de higienização em diversas áreas e nos veículos de transporte fretado e busca ativa de potencial contaminação com o intuito de mitigar a exposição ao vírus, detalhou a BRF.

O protocolo de prevenção também inclui testes de todos os funcionários da unidade de Concórdia, a maior da BRF no Estado, com cerca de 5 mil pessoas.

A companhia começou a testar seus funcionários há mais de duas semanas em vários locais, disse a assessoria de imprensa. Atualmente, não há fábricas de BRF fechadas devido a surtos do coronavírus.

Fonte: Reuters