A Embrapa Gado de Corte, localizada em Mato Grosso do Sul, é um Centro Nacional de Pesquisa, com área total em torno de 4,7 mil hectares, distribuídos em duas bases físicas. A maior – Fazenda Sede – distante 12 km da capital Campo Grande e com pouco mais de três mil hectares, é onde se encontram instalados os escritórios e áreas experimentais em saúde, nutrição, melhoramento genético animal e vegetal, reprodução, sistemas em integração e manejo animal. Com 43 anos de idade, a Unidade necessariamente já passou, e ainda passa, por reformas e manutenções constantes de suas instalações, para que elas possam acompanhar o desenvolvimento de tecnologias ali produzidas.

Uma das conquistas do Centro que se tornou realidade, e deverá ser entregue até final de setembro, é o novo Centro de Manejo de Baixo-Estresse, construído em substituição ao antigo Curral do “Retiro do Rochedo” montado  quando a Unidade foi fundada. A instalação estava obsoleta e não atendia mais as demandas atuais de pesquisa e operacionais. Diante deste cenário, a pesquisadora Fabiana Villa Alves, zootecnista, que atua nas áreas de sistemas de produção sustentáveis e de bem-estar animal, propôs um novo projeto de curral para substituir o antigo, seguindo os preceitos de bem-estar animal, principalmente, no tocante à atenuação do estresse que normalmente ocorre durante o manejo, tanto para os animais quanto para as pessoas que participam dele. Segundo Fabiana Alves, a intenção é transformar este novo Centro de Manejo em uma Unidade de Referência Tecnológica de Bem-estar Animal (URT-BEA) da Embrapa, priorizando o manejo racional dos animais.

A pesquisadora estudou vários modelos até chegar em um desenho. Ela diz que será a instalação mais moderna da Unidade e que atenderá com eficiência as necessidades dos projetos de pesquisa que usam a estrutura como apoio. A corrida estava só começando. Além da construção da estrutura em si, o Centro de Manejo teria que possuir um tronco de contenção satisfatório – lugar onde o animal é imobilizado para receber vacinas, medicamentos, coletar sangue, ser pesado, entre outros procedimentos de rotina ou de pesquisa.

Com um custo total da obra estimado em 400 mil reais, a maior parte dos recursos (construção do curral anti-estresse e cobertura com telhado antitérmico) veio do Acordo de Cooperação Técnica do projeto Carne Carbono Neutro (CCN), assinado entre a Marfrig Global Foods e a Embrapa, do qual a pesquisadora é a gestora. A Unidade arcou com os custos de demolição do antigo Centro, terraplanagem e construção da base estrutural (fundação). Outra parceria foi necessária e viabilizada pela especialista, desta vez com a Beckhauser – empresa fabricante de troncos de contenção e balanças, que doou para a Embrapa Gado de Corte um dos mais modernos troncos de contenção disponíveis no mercado.

A elaboração do projeto do novo curral teve início no final de 2019, e as obras iniciaram em maio de 2020, com a demolição da antiga estrutura e preparação do terreno para receber a nova, cuja finalização está prevista para o final do mês de setembro próximo. Este novo Centro de Manejo, assim como seu velho antecessor, atenderá várias áreas de pesquisa da Embrapa como as de Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (Ilpf), nutrição, manejo de forrageiras, além das áreas com rebanho geral localizadas em seu entorno. Construído em concreto protendido, de alta durabilidade, possibilitará o manejo de até 200 animais por dia, com maior segurança para pesquisadores, funcionários e estagiários. “É o primeiro curral operante na Embrapa Gado de Corte que leva em conta o Bem-Estar Animal”, diz entusiasmada a pesquisadora Fabiana Alves.

Estrutura do Centro de Manejo será mais eficiente
O projeto foi pensado conjuntamente com a empresa Currais Itabira, do Grupo Premobras, do Espírito Santo, que executa a obra. O desenho leva em conta o comportamento dos bovinos, para que eles tenham o menor estresse possível durante o manejo.

Montado em uma área total de 600m², seu formato é circular e todas as paredes são fechadas, para que os animais não se distraiam e caminhem sem muito esforço até o fim, que na verdade, é o tronco de contenção. Além da estrutura central com seringa, tronco coletivo, tronco de contenção com balança, apartador e embarcador, o centro de manejo possui cinco mangas de apoio, dois corredores, divisões e cercas com 10 fios de cordoalha galvanizada, 17 porteiras em aço, esteios e vigas em concreto protendido auto adensável. Todas as plataformas e escadas possuem corrimão e guarda-corpo com 1,0 m de altura, atendendo as normas da legislação trabalhista em vigor e oferecendo maior segurança e conforto durante o manejo.

A cobertura, em telha branca antitérmica, prevê calhas e condutores para captação de água da chuva, que será armazenada em um reservatório, evitando o acúmulo de lama no entorno do curral. Além disso, a água armazenada será utilizada tanto pelos animais, abastecendo os bebedouros, quanto para a limpeza do curral, trazendo economia na conta de água da Unidade, e aumentando a sustentabilidade do projeto dentro do conceito de “economia circular”.

Outra vantagem desta instalação é o material utilizado, o concreto protendido auto-adensável, que oferece maior qualidade e durabilidade à estrutura. A tecnologia é alemã e foi aperfeiçoada para uso no Brasil para exercer o máximo de segurança e eficiência nos serviços cotidianos da fazenda. Sua resistência é 100% maior do que o concreto convencional, e sua vida útil 50% maior.

O cimento utilizado é resistente a corrosão e o aço de protensão é 3,5 vezes mais duradouro que o aço convencional utilizado em construção civil, desenvolvendo alta compactação e impermeabilidade. “Toda essa tecnologia garante ao produto resistência e durabilidade contra intempéries climáticas, urina, fezes, suor e impactos do gado”, ressalta o fabricante. Ainda segundo a Currais Itabira, as peças pré-moldadas resistem mais à flexão, sem abrir fissuras. Assim, a estrutura não apodrece, não deteriora, não sofre corrosão e não se incendeia em caso de eventuais queimadas, comuns em áreas rurais. Tudo somado, tem-se menor necessidade de intervenções de reparo, com paralização das atividades, e menor gasto com manutenções.

“Uma estrutura deste porte e qualidade requer um tronco de contenção e balança à altura. O modelo escolhido é totalmente automatizado e revestido em polipropileno com tratamento anti-UV, material reciclável, mais resistente que a madeira, e que facilita a limpeza. Além disso, é mais silencioso durante o uso, proporcionando maior conforto acústico aos animais e aos trabalhadores”, explica Fabiana Alves. Ela ainda acrescenta: “O piso também é anti-estresse, emborrachado, feito com material reciclado de alta resistência. O aço utilizado na estrutura possui tratamento anticorrosivo e pintura eletrostática, sendo que todos os parafusos são zincados e as porcas são autotravantes, sem pontas vivas”.

Um dos benefícios da nova estrutura será o maior bem-estar aos animais
Fabiana Alves destaca uma série de benefícios dessa nova estrutura, dentre eles a instalação do tronco mais moderno hoje disponível no mundo, totalmente automatizado, da marca Beckhauser. “Não existe hoje em operação na Embrapa um tronco mais moderno que este. Com ele, nós vamos poder fazer algumas mensurações comparativas, de como era o nível de estresse do animal quando contido num tronco convencional e como será com esse novo tronco, mais moderno e eficiente”.

É a Embrapa na era da modernidade e da tecnologia priorizando o Bem-Estar Animal. Manejar o rebanho de forma mais adequada e eficiente é uma das prioridades da empresa e esse trabalho passa por algumas mudanças, tanto comportamentais, como estruturais, já em curso. O fato de a empresa procurar equipamentos com ótimo custo-benefício para trabalhar uma pecuária mais sustentável, com respeito aos trabalhadores, ao ambiente e ao bem-estar animal, faz parte de sua evolução técnica e cumprimento de sua missão.

Embora em um primeiro momento o custo do novo Centro de Manejo possa ser considerado alto, há que se analisar os benefícios que certamente a tecnologia proporcionará. Para a pesquisadora Fabiana Alves “o investimento se paga ao longo dos anos com menores perdas e redução de riscos, maior agilidade no manejo, diminuição de mão-de-obra, facilidade de manejo e, principalmente, menor custo de manutenção. Isso sem contar a questão de proporcionar um manejo mais racional e maior bem-estar aos animais”.

Além dos benefícios já citados, a especialista destaca que na nova estrutura tecnológica, além da realização de operações de manejo para os animais de pesquisas, serão organizados cursos, dias de campo e outros eventos para disseminar os benefícios que estruturas deste tipo podem trazer aos produtores.

O novo Centro de Manejo será parte da Unidade de Referência Tecnológica (URT) em Bem-Estar Animal (BEA) da Embrapa Gado de Corte, cuja inauguração está prevista para o próximo mês de novembro.


Fonte: Embrapa Gado de Corte