A cada dia em que as chuvas continuam chegando ao centro-norte do Brasil, a preocupação dos sojicultores aumenta. As regiões onde o excesso de umidade ainda castiga as lavouras, a soja segue perdendo qualidade e a impossibilidade da colheita atrasa ainda mais o plantio da segunda safra de milho, a qual também está sendo empurrada para fora da janela ideal de cultivo.

Um dos estados que mais sofre com as atuais condições climáticas é o Tocantins. O estado fechou fevereiro com um acumulado de chuvas de 615 mm, contra volumes de pouco mais de 300 mm em anos anteriores, como relata o produtor rural Rodrigo Almeida, de Araguacema, no Tocantins.

“De 5 de fevereiro em diante, tivemos chuvas todos os dias, com volumes grandes, impossível fazer os trabalhos de campo, como a colheita, o plantio do milho, está tudo atrasado. As máquinas não conseguem desempenhar seu trabalho no campo”, diz.

Almeida relata ainda que “a soja chega no ponto de colheita e a produtividade vai só caindo, a qualidade do grão vai se deteriorando e, para agravar, os armazéns não têm condições de receber esses grãos porque o processo de secagem é muito lento e não há estrutura”.

No Maranhão, a situação é semelhante. Na região de Balsas, uma das principais regiões produtoras do estado, a colheita também está bastante atrasada, bem como o plantio da safrinha, por conta das chuvas constantes.

“As áreas de palhada precisam de, pelo menos, uns três dias de sol e não estamos tendo isso. Não tem chovido muito em quantidade, mas todo dia dá uma chuva que lhe impede de trabalhar e sair de casa com o maquinário”, explica Zildomar Manthley, produtor rural da região.

Ele completa dizendo que “está tudo atrasado, soja perdendo qualidade, e os produtores muito preocupados neste momento”.

Em Mato Grosso, a situação também exige monitoramento e atenção. Como explica o presidente da Aprosoja MT, Fernando Cadore, a colheita da soja está entre 15 e 20 dias atrasada, em função de um atraso que se deu já no início da temporada, durante o plantio.

“A colheita, além de atrasada, passa por esse excesso de precipitação na maior parte das regiões, o que faz com ainda falte cerca de 40% do plantio do milho para ser feito. Algumas regiões estão sem condições de colheita nos últimos 10 a 12 dias, causando uma grande avaria na soja, principalmente na região da BR 163. É uma situação muito crítica, praticamente de calamidade”, relata Cadore.

Os relatos de perdas, com lavouras muito avariadas e grãos sem qualidade são muitos por parte dos produtores neste momento, que têm feito o possível para salvar ao menos parte de suas safras, ainda como explica Cadore.

Sobre o plantio do milho safrinha, o presidente da Aprosoja MT afirma que a situação é semelhante a da safra 2015/16, que foi a mais atrasada da história. “E sabemos qual foi o resultado dessa safra, quando não tivemos chuvas entre abril e maio. Esperamos que não aconteça isso, porque pode acontecer uma catástrofe na segunda safra se não tivermos um clima propício nos próximos meses”.

Segundo Paulo Sentelhas, professor da Esalq/USP e CTO da Agrymet, o grande problema não foi o volume das chuvas, que ficaram pouco acima da média esperada para o mês de fevereiro, mas sim a forma como chegaram, ou seja, de uma vez. “No segundo e terceiro decêndio do mês realmente choveu muito, cerca de 40mm acima da média esperada. O problema foi como essa chuva chegou, de uma vez. Foram vários dias seguidos de chuvas e isso complicou ainda mais”, afirma. A média esperada para fevereiro era de 335mm e o registrou foi de 350mm.

Fonte: Notícias Agrícolas com adaptações Suino.com