A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) apresenta os impactos da pandemia do coronavirus na produção agropecuária no mercado interno e analisa o que aconteceu no cenário internacional do agro e os efeitos para o país no período de 30 de março a 3 de abril.

Além disso, a CNA tem feito uma série de ações para garantir não apenas o abastecimento da população brasileira, mas também que os produtores com dificuldades de comercializar sua produção continuem vendendo para obter renda neste período e crise.

Uma destas iniciativas foi a realização da primeira “Feira Segura”, em Goiânia, em parceria com a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg). É um projeto para estimular a realização de feiras livres em todo o País seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para evitar o contágio por coronavírus.

A ideia é que comercializar produtos diretamente na feira e também pelo sistema de drive thru, sem manuseio dos alimentos, com embalagens apropriadas para cada tipo de produto e com a higienização adequada das máquinas de cartão. A ideia é estender o evento para outros estados.

PANORAMA AGRÍCOLA

Frutas e hortaliças

Com as centrais de abastecimento em pleno funcionamento, alguns estados e municípios retomaram as atividades das feiras livres, seguindo as recomendações do Ministério da Saúde em relação a higiene para prevenção dos feirantes e de seus clientes.

O funcionamento das feiras livres contribuirá para a retomada dos negócios de pequenos e médios produtores de frutas e hortaliças, principalmente aqueles que têm nestas feiras o principal canal de comercialização.

Para auxiliar nesse processo, a CNA tem atuado junto ao MAPA para criar um regulamento com orientações gerais para o funcionamento das feiras livres, varejões e sacolões. O Sistema CNA/Senar, em parceria com a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Goiás, Governo do Estado de Goiás e Centrais de Abastecimento (Ceasa/GO), realizou na sexta (03) a primeira edição da FEIRA SEGURA, uma iniciativa que servirá como exemplo para as demais feiras, ao implementar medidas específicas para garantir o abastecimento de hortaliças e frutas à população.

Após duas semanas com forte alteração na demanda e alta volatilidade no preço das frutas e hortaliças, o cenário aponta para uma estabilização com movimentos sazonais decorrentes de safra e entressafra de produção.

Na exportação de frutas, produtores enfrentam dificuldade no despacho aduaneiro em razão da necessidade de envio de documentos originais por via aérea. No caso da maçã, a CNA recorreu ao Ministério da Agricultura para que interceda junto à China e Bangladesh – principais importadores – a fim de que flexibilizem o recebimento de documentos digitalizados durante o período de crise.

Commodities agrícolas

Produção e comercialização de soja e milho seguem dentro da normalidade, após preocupações com as condições logísticas. Para o café, o início da colheita vem acompanhado da preocupação com a disponibilidade de mão de obra e cuidado com os trabalhadores. O Sistema CNA tem informado os produtores quanto aos procedimentos adequados para manutenção da produção.

No setor sucroenergético, a crise do petróleo estabelecida em meio a pandemia tem afetado o faturamento do setor. Para os fornecedores de cana, os riscos aumentam diante da redução de demanda e dos preços do etanol, que podem acometê-los em decorrência do não cumprimento de contratos entre distribuidoras e usinas.

PANORAMA PECUÁRIO

Aves e Suínos

Produtos congelados continuam com alta demanda e percebe-se uma pequena recuperação do mercado de resfriados, mas que não foi suficiente para melhorar o preço do frango vivo pago ao produtor independente. O produtor independente e os pequenos frigoríficos de aves ainda sentem o reflexo da queda de consumo no food service, que resultou na desvalorização do frango vivo acumulada em cerca de 10% nos dois primeiros dias de abril (SP), conforme dados da JOX Consultoria.

Produtores independentes de suínos estão buscando novas formas de organização coletiva para comercializar a produção, já que as integradoras diminuíram as compras de animais desses produtores em 70%, dando preferência aos produtores integrados. O preço pago pelo suíno a esses produtores nos primeiros dias de abril caiu em todas as praças, variando de -5,2% em Mato Grosso a -15,4% em Minas Gerais em relação à semana passada.

Lácteos

Grandes indústrias mantêm a captação de leite e dão preferência para a produção de leite UHT e leite em pó, já que houve redução do consumo de outros processados como queijos. A publicação do Ofício Circular nº 28/2020 do Ministério da Agricultura permitiu a comercialização de leite de pequenos laticínios com inspeção municipal e estadual para indústrias com inspeção federal, criando uma alternativa para pequenos produtores escoarem a produção.

Boi gordo

As vendas no atacado e no varejo registraram queda nesta semana, especialmente os cortes nobres. Prevendo a redução no consumo interno, três plantas frigoríficas de Mato Grosso do Sul entraram em férias coletivas nesta semana. No total, são 11 plantas frigoríficas paralisadas, o que contribui para a desvalorização do preço da @ ao produtor em 3,5% nos últimos 5 dias.

Para manter o abastecimento de alimentos no país e apoiar o produtor no enfrentamento dessa crise, o setor conta com o apoio do Governo federal quanto à isenção de PIS/PASEP que incide sobre a suplementação animal, que contribuiria para a redução dos custos de produção, dando mais competitividade.

Aquicultura

As empresas verticalizadas de tilápia ou os produtores que entregam para entrepostos de pescado estão funcionando em plena capacidade. Eles optaram por redirecionar a produção que ia para o food service para as redes varejistas, onde houve aumento de demanda.   Os produtores que comercializam peixe fresco para as Ceasas e feiras livres continuam com dificuldade de escoar sua produção. Produtores de camarão ainda sofrem com a redução drástica da demanda. A alternativa está sendo buscar novos mercados externos que remunerem bem o produto.

Alimentação Animal

O alto preço do milho e do farelo de soja tem preocupado produtores pecuaristas. Em 2020, o milho já acumula valorização de 18,3% no mercado interno brasileiro. Se a tendência de alta dos insumos para alimentação animal for mantida, os pecuaristas devem sofrer com margens negativas e perda de competitividade.

COMÉRCIO INTERNACIONAL

MERCADOS

União Europeia

– A Comissão Europeia publicou, no dia 31 de março, medida que permite que os Estados-membros realizem controles oficiais sobre a cadeia agroalimentar de maneira mais flexível. A medida tem como objetivo impedir a propagação da doença através da circulação das equipes que trabalham em setores de controle de mercadorias, além de facilitar a circulação de animais, plantas e alimentos para dentro da UE. Entretanto, a medida não modifica as regras da UE que regulam a saúde pública e animal, segurança dos alimentos e bem-estar animal.  Esta medida é inicialmente válida por dois meses e poderá ser revisada no decorrer do avanço das ações contra o Covid-19.

– Para verificação nas fronteiras, continuarão a ser aceitos os documentos enviados eletronicamente, com o comprometimento do fornecedor de enviar o original o mais rápido possível;

– Diversos pacotes de ajuda econômica estão sendo aprovados em diversos países da UE. Os pacotes aprovados são destinados, em sua maioria, para a compra de equipamentos de saúde;

– Como o Órgão de Apelação da OMC está com os seus serviços paralisados, a UE e outros 15 membros da OMC ratificaram um acordo que lhes permitirá interpor recursos e resolver disputas comerciais entre eles, durante este tempo de paralização dos serviços. Este acordo cumpre o compromisso político, em nível ministerial, assumido em Davos, em janeiro;

– Na França, nota-se possível redução na demanda por produtos frescos;

– Na Itália, as importações agroalimentares se mantêm em níveis regulares, com pequeno aumento do custo de fretes. Contudo, as importações em contêineres enfrentam dificuldades logísticas;

– Na Hungria, espera-se redução expressiva nas exportações de couro. Há também possível redução nas exportações de carnes. A demanda no país deve-se manter inalterada para outros itens como frutas tropicais, café, cacau, farelo de trigo entre outros;

– A Comissão Europeia espera implementar os “corredores verdes”, para reduzir entraves ao transporte de bens entre países membros.

 China

– Os dados oficiais chineses indicam uma melhora expressiva da situação da pandemia no país ao longo do mês de março. Nas últimas semanas não foram registrados casos de contaminação local, motivando o progressivo retorno das atividades econômicas;

– Relatórios apontam que 88% das empresas do setor agrícola já teriam retomado suas atividades.  Segundo a “National food and Strategic Reserves Administration”, 97% das principais empresas nacionais de fornecimento agrícola e 63% das empresas de processamento de grãos também já teriam retomado suas atividades;

– O Ministério dos Transportes adotou medidas conjuntas com o Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais (MARA) para assegurar o transporte nacional de insumos agrícolas com vistas a viabilizar o plantio da safra 2020/2021;

– De acordo com consultorias privadas, a pandemia do Covid-19, somada aos impactos da epidemia de peste suína africana na produção chinesa de proteína animal e do avanço da praga “fall armyworm” na produção de milho do país, teriam afetado severamente a produção agrícola domestica, havendo riscos reais de desabastecimento de alimentos ao longo do ano;

– As autoridades chinesas estão preocupadas com o os novos casos “importados” do Covid-19 no país. Com o fim das quarentenas e a recente liberação dos deslocamentos na província de Hubei, as autoridades estão em alerta para a possibilidade de um novo pico da doença. Em vista disso, novas medidas de contenção estão sendo implementadas nos últimos dias, incluindo o fechamento de locais públicos e medidas de distanciamento social em algumas cidades;

– Redução de voos internacionais tem dificultado envio de documentos originais e carregamentos de soja;

– O Porto de Xangai, que chegou a registrar queda de 20% no processamento de contêineres durante o mês de fevereiro, tem conseguido reduzir o acúmulo de cargas refrigeradas, mas mantém a ocupação próxima de 80%;

– Nos últimos meses, foram adicionadas 7.000 novas posições para conexão de contêineres refrigerados nos portos de Xangai e Tianjin, aumentando a capacidade de armazenamento de cargas refrigeradas em cerca de 40%;

– O comércio eletrônico de carnes registrou, em meados de março, aumento de 400% de suas vendas em relação ao mesmo período do ano anterior. Diversos produtos processados e congelados apresentaram desempenho de vendas 200% superior à média histórica;

– Segundo depoimentos, a logística para comércio de soja está operando normalmente;

– Os supermercados na cidade de Cantão têm aumentado a oferta de carne, legumes, frutas e outros produtos alimentícios. A venda de carne nos mercados da cidade subiu 400% e de legumes 10%;

– Durante a pandemia, foi prejudicada a produção de sementes, fertilizantes, pesticidas, alimentos para animais, bem como a logística de distribuição em Cantão.

Fonte: CNA