Abril começa muito intenso para as exportações brasileiras de soja e o mês tem potencial para registrar um novo recorde e alcançar as 12 milhões de toneladas diante do ritmo aquecido de embarques trazido pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior) nesta segunda-feira (6).

“Os portos estão trabalhando a todo vapor, com o setor aproveitando para embarcar rápido, temendo que em algum momento o governo possa intervir e segurar o movimento devido a pandemia, fato que já ocorreu em outros países, mas aqui tudo segue forte”, explica Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting.

Nos primeiros três dias de abril o Brasil já embarcou mais de 2,5 milhões de toneladas de soja em grão, levando o total acumulado no ano a 20,8 milhões de toneladas, volume bem maior do que o registrado no mesmo período do ano passado, de 17,1 milhões. Em todo o complexo soja, os embarques acumulados – de 24,5 milhões de toneladas, outro recorde – também superam o mesmo período de 2019, quando o total embarcado era de pouco mais de 21 milhões de toneladas.

“Seguimos tendo a soja como grande produto da pauta de exportação do Brasil. Nestes primeiros três dias úteis divulgados pela Secex, o complexo soja trouxe quase US$ 950 milhões em divisas ou, praticamente, R$ 5 bilhões de reais, trazendo fôlego para a economia que esta sufocada pelo coronavírus e a quarentena”, completa Brandalizze.

As imagens na sequência mostram os navios carregados com soja rumando à China. No primeiro caso, em março de 2020 e, no segundo, em março de 2019.

Navios de soja 2020
Navios de soja 2019

BRASIL AINDA CONCENTRA DEMANDA

A soja brasileira continua sendo a mais competitiva para os importadores diante, principalmente, da desvalorização do real frente ao dólar. Um levantamento da ARC Mercosul mostra que o preço do produto nacional, na referência maio no porto de Paranaguá, tem US$ 339,50 por tonelada, contra US$ 344,00 no Golfo dos EUA. Para junho, essa diferença é reduzida, com a soja do Brasil valendo US$ 343,30 e a americana, US$ 344,40.

Os prêmios contribuem, uma vez que, para maio, no terminal paranaense têm 70 cents acima de Chicago e para junho, 75 cents por bushel. No golfo americano, são 82 e 78 centavos de dólar, respectivamente.

“No Brasil, os negócios na soja seguem aquecidos, com um ritmo de embarques acelerado. A moeda desvalorizada mantém um alto poder de barganha para os exportadores, que conseguem reduzir as ofertas em dólares por toneladas e, ao mesmo, tempo ofertar preços mais interessantes em reais por saca”, explicam os diretores da ARC.

Como explicou Flávio França, chefe do setor de grãos da Datagro em entrevista ao Notícias Agrícolas, o mercado com altas mais limitadas em Chicago neste momento também reflete o bom ritmo dos embarques no Brasil, que vem se mantendo e se acentuou, principalmente em março. No mês passado, as exportações brasileiras registraram um novo recorde para o período e o fluxo vem sendo mantido, com os lineups ainda bem cheios para os próximos meses.

“A China está comprando toda a soja que pode aqui na América do Sul, formando estoques, e em breve voltará a comprar com mais força no mercado americano, e só terá a questão do timing. E não temos como precisar a estratégia chinesa, mas eles têm usado uma estratégia bem conservadora, segurando o preço de Chicago lá embaixo, nossos prêmios estão ‘frouxos’ e nossos preços estão mais competitivos, mas isso não dura. Eles entram no mercado americano mais forte antes da virada do semestre”, diz.

Aos poucos, a nação asiática começa, de fato, a se voltar para a soja norte-americana pela menor disponibilidade do produto brasileiro, pela maior competitividade que a oleaginosa dos EUA deverá ter, em termos de preços, e também para que os chineses cumpram os volumes de compras de produtos agrícolas estabelecidos na fase um do acordo comercial entre os dois países, firmado em 15 de janeiro.

Fonte: Notícias Agricolas