A natureza como oportunidade para a geração de negócios foi o tema que abriu o IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), realizado pela Fundação Grupo Boticário, nesta terça-feira (31), em Florianópolis (SC). O painel foi dirigido pelo presidente do Grupo Boticário, Artur Grynbaum, e contou com a participação de Jason Clay, vice-presidente sênior de Mercados e Alimentação do WWF dos Estados Unidos; Pedro Paulo Diniz, empresário e ex-piloto de Fórmula1, que atualmente se dedica à produção em larga escala de alimentos orgânicos e Denise Hamú, representante do escritório brasileiro da ONU para assuntos do Meio Ambiente.

Clay compartilhou sua experiência na Amazônia e falou sobre como o mercado pode gerar impacto positivo para a biodiversidade. O participante também mostrou como ajudou a desenvolver a Usina de Beneficiamento de Castanha do Pará Chico Mendes, em Xapuri, no Acre, a partir de um investimento de 100 mil dólares, realizado no final da década de 1980. “Tivemos muitas dificuldades, fizemos algumas coisas que não deram certo, mas, no fim, a cooperativa acabou se tornando protagonista da cidade e depois do estado do Acre”, lembrou. Ainda segundo o americano, “mais que saber o que fazer, precisamos dar mais atenção ao como fazer”, concluiu.

O palestrante lembrou que na época chegaram a descobrir 3,5 mil tipos de produtos que poderiam ser comercializados, mas conseguiram desenvolver 400 protótipos e chegaram a 15 produtos viáveis. “Mas nem tudo funcionou. Os preservativos utilizando borracha da floresta amazônica não emplacaram. O marfim vegetal, feito a partir de uma palmeira, também não teve aderência no mercado. Mas, como balanço, conseguimos, em quatro anos, pagar três vezes mais aos produtores, além de aumentar a participação das castanhas brasileiras no mercado mundial em 20%. Também ajudamos a mudar muita coisa no Acre e, atualmente, o Estado tem uma das melhores políticas públicas nacionais”, destacou.

Regenerar o Planeta

Em seguida, Pedro Paulo Diniz falou sobre o trabalho que vem desenvolvendo como “empresário conservacionista”. Para Diniz, é possível regenerar o planeta e fazer negócios ao mesmo tempo. “Mas não adianta só trocar os insumos convencionais por orgânicos, utilizando o mesmo modelo da agricultura tradicional. Fica muito caro”, disse, ao mostrar o modelo de negócio que implementa em sua fazenda de 2,3 mil hectares, localizada no interior de São Paulo.

Há pouco mais de 10 anos, o empresário começou a pesquisar sistemas produtivos agroflorestais e passou a utilizá-los na produção de ovos e polpa de frutas tornando o negócio mais próspero do ponto de vista financeiro, social e ambiental. “Aprendemos a trabalhar junto com a natureza e não ‘brigar’ com ela”, enfatizou.

Recuperação de terras degradadas

Outra novidade apresentada por ele foi a criação, em 2018, da Rizoma, empresa que recupera terras degradadas. “Estou muito surpreso com o potencial que isso tem. O nosso objetivo é fazer do Brasil o celeiro da agricultura regenerativa do mundo. Está provado que podemos fazer uma economia pujante sem destruir o planeta”, projetou. De acordo com Diniz, a Rizoma já terá resultados para apresentar em maio de 2019.

Denise Hamú fechou o painel falando da “Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”. Para ela, o CBUC é a grande oportunidade para que todos os interessados nos temas de meio ambiente possam dividir angústias e compartilhar sonhos. “Precisamos fazer o plano A dar certo, porque não temos um plano B para o planeta”, disse.

“Precisamos do governo, das indústrias, dos empresários, da sociedade civil forte para que, juntos, possamos avançar nessas discussões – além de cidadãos articulados e preocupados com todas essas metas”, destacou, lembrando que a entidade tem feito a “lição de casa”, reestruturando muita coisa e se equipando para enfrentar os desafios em conjunto com todos esses atores.

Presença de autoridades

A abertura da 9ª edição do Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC) contou com a presença de inúmeras autoridades e foi realizada pelo diretor-presidente da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e presidente do Grupo Boticário, Artur Grynbaum, e pela diretora executiva da Fundação, Malu Nunes.

Para eles, o Congresso tem uma grande importância para o desenvolvimento dos trabalhos frente aos desafios da preservação ambiental. “Mais que mostrar a necessidade de ampliarmos as áreas de conservação, tanto terrestres quanto marinhas, precisamos de ações práticas perante aos desafios. A ideia do evento é compartilhar experiências, estabelecer parcerias e nos tornarmos verdadeiros agentes de mudança, pois o futuro começa agora”, ponderou Grynbaum.

Malu Nunes convocou os congressistas a assinarem as moções para que o CBUC possa gerar um resultado consistente. “Assim, poderemos encaminhar os pleitos e fazer com que o poder público e as empresas se engajem nessa causa”, exemplificou a executiva.

Também participou da abertura o presidente do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina, Alexandre Waltrick Rates, que representou o governador do Estado, Eduardo Moreira. Para Rates, não há mais como dissociar uma unidade de conservação de uma matriz turística. “Importante discutirmos quais são os desafios para perpetuarmos a nossa sociedade. Precisamos ter mais espaços protegidos e dar uma nova roupagem, uma nova oportunidade de fomento econômico para as unidades de conservação”, destacou.

Representando o Ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, o presidente do ICMBIO, Paulo Carneiro, abriu sua fala dando um panorama do trabalho da entidade, que administra centenas de RPPNs e UCs, contando com o trabalho de 1.700 servidores e 1.500 voluntários. “Todos nós colocamos de pé a estratégia de conservação da natureza do País. Juntos somos mais fortes”, argumentou.

Por vídeo, o ministro do Superior Tribunal de Justiça, Herman Benjamin, falou da importância do evento, da pesquisa científica e das unidades de conservação, assim como da atuação da justiça no segmento.

 

Fonte: Assessoria de Imprensa