O Porto do Itaqui, no Maranhão, que já é o maior do Arco Norte em exportação de soja, deve ampliar a sua operação com a oleaginosa e também com milho e farelo na safra 2019/20. O Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram) terá uma nova fase inaugurada entre maio e junho, o que deve fazer com que a capacidade de movimentação de grãos (soja, milho e farelo) no porto cresça para 17 milhões de toneladas – em 2019, foram 10 milhões de toneladas exportadas.

Segundo o diretor de operação e planejamento do Porto do Itaqui, Jailson Luz, apesar de a capacidade do porto aumentar já na metade do ano, a movimentação efetiva de grãos por Itaqui deve se aproximar dos 17 milhões de toneladas gradualmente, ao longo dos próximos três a quatro anos.

O crescimento virá tanto do incremento na produção no Centro-Norte do País quanto da atração de cargas que descem para portos do Sul e Sudeste. Já em 2020, Itaqui deve movimentar 14 milhões de toneladas de grãos. Além da liderança em soja, o porto é o terceiro maior do Arco Norte em milho e o quarto em farelo.

A segunda etapa do Tegram envolve a duplicação da linha de embarque para operar mais um berço de atracação de navios, que funcionará de forma simultânea ao berço atualmente em operação. A nova estrutura também é composta por um segundo shiploader (equipamento que transfere as cargas para dentro do navio), permitindo ao terminal embarcar 5 mil toneladas de grãos por hora, e uma segunda moega ferroviária, para descarga de oito vagões ao mesmo tempo, com uma capacidade de 4 mil toneladas de grãos por hora.

O Tegram é administrado pelo consórcio de mesmo nome, formado pelas empresas Terminal Corredor Norte S.A, Glencore Serviços, Corredor Logística Infraestrutura S.A e ALZ Terminais Portuários S.A. Além do Tegram, o Porto do Itaqui também tem movimentação de grãos pelo Terminal Portuário São Luís (TP São Luís), operado pela VLI.

Para a primeira fase do Tegram, estava prevista movimentação de até 5 milhões de toneladas de grãos por ano, mas já no ano passado a estimativa foi superada – saíram 7,1 milhões de toneladas rumo ao exterior, segundo Luz. Com a nova fase, o terminal acrescentará outros 7 milhões de toneladas à sua capacidade, que passa a 14 milhões de toneladas por ano. Já o TP São Luís, da VLI, pode embarcar outros 3 milhões de toneladas de grãos.

Segundo Luz, por determinação da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), a empresa pode movimentar 2,5 milhões de toneladas de soja e 90 mil toneladas de farelo por ano até que o Tegram alcance 10 milhões de toneladas anuais. “A partir do momento que o Tegram atingir esse volume, aí o mercado é livre.”

Contabilizando o novo Tegram e o TP São Luís, Luz estima que a capacidade anual de grãos do porto a partir de junho aumentará para 17 milhões de toneladas. Mas, como é o primeiro ano de operação da nova fase do Tegram, a movimentação total por Itaqui (Tegram + TP São Luís) deve chegar a 14 milhões de toneladas em 2020. A previsão é de que a obra da segunda etapa do Tegram se encerre em maio para que, em junho, comece a fase de testes e, na sequência, a operação comercial.

Como preparação para atender ao aumento de volume previsto, a Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap) realizou no começo do ano serviço de dragagem de manutenção em quatro berços de atracação do porto, que possuem entre 13 e 19 metros de profundidade, permitindo navios de grande porte. Também estão previstas obras de recuperação estrutural dos berços e manutenção das defensas (equipamento usado para impedir colisões entre navios e de navios com partes da estrutura do porto), pavimentação de vias e manutenção dos sistemas elétrico e de combate a incêndio, entre outras.

Segundo Luz, a reforma do berço 103 (usado na primeira fase do Tegram) deve ser executada ao longo de 2020 de forma programada para não afetar a operação. “Serão paradas intermitentes rápidas e localizadas”, revela. O próprio consórcio já fez uma revisão geral dos equipamentos do Tegram entre os dias 16 e 26 de janeiro e deve retomar embarques em fevereiro.

Mas a atuação do Porto do Itaqui no agronegócio não se resume a grãos. A construção do novo terminal de fertilizantes da Companhia Operadora Portuária do Itaqui (Copi) está “a pleno vapor”, segundo Luz, e a previsão é de que ele comece a operar ainda este ano. “O Porto do Itaqui vai sair de uma capacidade de 2 milhões para 3,5 milhões de toneladas de importação de fertilizante”, prevê o executivo. O projeto inclui ainda uma moega ferroviária para fertilizantes, facilitando o transporte por trem até Palmeirante (TO), onde o produto será distribuído para outros Estados.

Mira dupla

Conforme Luz, o porto do Itaqui foi reconhecido em estudos dos ministérios da Agricultura e Infraestrutura como fundamental para atender ao corredor centro-norte de produção, que compreende Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), Mato Grosso, Pará e Goiás e se desenvolve na espinha dorsal da ferrovia norte-sul. “Todo o nosso planejamento está mais voltado para atender ao agronegócio, que é nossa vocação, mas não estamos negligenciando outros tipos de carga”, afirma.

Para continuar crescendo na área de grãos, o desafio é trazer produto “de mais longe a um custo competitivo”, uma vez que o incremento da produção agrícola não deve ser tão grande quanto o aumento de capacidade do porto. Segundo Luz, a expectativa é de que demore de três a quatro anos para chegar aos 17 milhões de toneladas movimentados. Conforme o executivo, o porto vai monitorar o mercado para verificar quando a nova estrutura chegará ao seu limite para lançar novas áreas de armazenagem e movimentação de grãos. “Nos próximos anos temos que esperar para ver como vai se comportar. Uma coisa é a capacidade de operação, outra é ter efetivamente a carga de maneira competitiva chegando no porto.”

A expectativa é de que os aumentos de movimentação venham de duas formas. De Mato Grosso e Goiás, além dos incrementos na produção, a ideia é capturar parte das cargas que hoje desce para os portos do Sudeste e Sul. Já para Maranhão, Piauí e Tocantins, a perspectiva de crescimento está relacionada a aumentos de área plantada, que devem se traduzir em maior oferta de grãos, diz o executivo, lembrando que se trata da última fronteira agrícola do Brasil, com possibilidade de conversão de pastagens para agricultura. Também podem ser atraídas mais cargas da Bahia e do Pará, embora nesse caso exista concorrência com outros portos.

Luz diz que ajudou a consolidar o Porto do Itaqui uma combinação de oferta de produto, acesso à ferrovia e planejamento eficiente. “Lá no começo se discutia muito se os grãos iam chegar no volume esperado. Falava-se em 5 milhões de toneladas na primeira fase do Tegram, mas o desenho do projeto foi tão bem feito que já ultrapassou em quase 50% a estimativa inicial.”

Fonte: Estadão Conteúdo