Os alertas de desmatamento na floresta amazônica, monitorados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), cresceram 63,75% em abril, se comparado ao mesmo mês de 2019. Segundo o sistema Deter, foram emitidos alertas para 405,6 km² este ano, enquanto no ano passado, no mesmo período, foram 247,7 km².

A alta acontece enquanto a atenção nacional está centralizada nos impactos da pandemia do novo coronavírus. “O desmatador ilegal, o grileiro, não faz home office. Não ficam em casa na pandemia. Eles estão lá estão fazendo isso. Não é uma questão de acreditar ou não. Os dados são do Inpe, um órgão muito sério, reconhecido por sua excelência na geração de informação, e estão mostrando que o desmatamento está crescendo”, salienta o porta-voz da campanha de defesa da Amazônia do Greenpeace Brasil Rômulo Batista

Somente de janeiro a abril deste ano, por exemplo, já foram perdidos 1.202 km² de florestas. O valor é 55% superior ao observado no mesmo período do ano passado, de 773 km². Na comparação mensal entre abril com março deste ano, o aumento foi de 24,2%. 

Batista destaca que nenhum tipo de queimada ou derrubada na Amazônia ocorre sem interesses econômicos por trás, e que essas atividades ilegais também põem em risco a saúde dos povos locais durante a pandemia. “É preciso de um fluxo muito grande de pessoas entrando na floresta, em unidades de conservação, em terras indígenas, que podem estar trazendo dos grandes centros ou de cidades, o vírus para essa população, que já são mais frágeis por causa do isolamento.”

A derrubada das árvores segue o trilho das grandes queimadas que devastaram o território amazônico ano passado, resultado da atuação predatória de grandes fazendeiros e de setores do agronegócio. No entanto, com o ritmo atual da destruição, a perspectiva é ainda mais negativa e a taxa oficial deve ser ainda mais alta em 2020.

O biólogo do Greenpeace alerta que o próximo passo, dentro do protocolo já conhecido do desmatamento ilegal, são as queimadas. “Derrubam a floresta e depois queimam essa área para destruir toda a matéria orgânica que está ali. Isso vai coincidir com o pico da pandemia aqui no Amazonas. Temos dois problemas grandes porque as queimadas trazem problemas respiratórios, por causa das fumaças e das cinzas.”

De acordo com o Deter, do período de agosto de 2019 a abril de 2020, os alertas apontam para uma área desmatada de 5.483 Km². O maior índice dos últimos cinco anos.

Batista endossa que os níveis atuais de desmatamento fazem parte de um projeto de destruição ambiental implementado desde o primeiro dia do governo Bolsonaro. Ele cita, por exemplo, o rebaixamento da  autonomia de órgãos ambientais que possuem as atribuições necessárias para promover a proteção e preservação da Amazônia. 

O processo se aprofundou quando o presidente decretou uma ação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) que dá poder às Forças Armadas sobre todas as operações contra desmatamento ilegal e incêndios na Amazônia Legal.

Com o decreto nº 10.341, Bolsonaro oficializou a retirada da autonomia de órgãos de proteção ambiental antes responsáveis pelas ações, como o Ibama e o ICMBio, e os coloca sob a tutela dos militares. A GLO tem validade de 11 de maio a 10 de junho, na faixa de fronteira, nas terras indígenas, nas unidades federais de conservação ambiental e em outras áreas federais da Amazônia Legal.

O porta-voz do Greenpeace critica a tentativa de votação da Medida Provisória (MP) 910, apelidada apelidada por ambientalistas de “MP da Grilagem”. O documento foi encaminhado a Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, que tem a prerrogativa de colocar ou não o tema em votação.

Com vencimento previsto para o dia 19 deste mês, a medida é alvo de intenso lobby da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) e pode ser inserida na ordem do dia da casa legislativa na próxima segunda-feira (11). 

Para Batista, a MP é uma “premiação para aqueles que cometeram crimes”. “Ela permite legalizar a grilagem feita até 2014 no país inteiro, em especial na Amazônia. É mais uma vez o governo se movimentando para estar do lado daqueles que praticam ilegalidades, que invadem terra pública e que estão contra a lógica do resto do mundo. Precisamos preservar a Amazônia para garantir que a emergência climática que vivemos não se agrave ainda mais”.

Fonte: Brasil de Fato