No dia 15 de abril é comemorado o Dia Nacional da Conservação do Solo. Nem sempre reconhecido pela população em geral como um importante recurso natural, os solos são essenciais para a produção de alimentos e, portanto, para nossa vida.

“Consideramos que o solo é um recurso natural não renovável e é um importante componente dos ecossistemas, regulando o ciclo da água”, diz a pesquisadora Isabella Clerici De Maria, do Instituto Agronômico (IAC-Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. “É também a base da produção agropecuária, por isso o controle da erosão é fundamental para a segurança alimentar da população e para o meio ambiente”.

Apesar de indispensável a todos nós, os solos sofrem, no Brasil como no mundo, um constante processo de degradação, fruto de uso agrícola exaustivo, desmatamento, expansão urbana desordenada, dentre outros fatores. “Existem levantamentos em nível mundial, feitos pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), com dados enviados por pesquisadores do mundo todo, que indicaram que o principal fator de degradação dos solos é a erosão hídrica”, conta Isabella. Segunda a pesquisadora do IAC, a Organização internacional estima que, atualmente, a cada 5 segundos, cerca de 1 hectare de solo é erodido no mundo. “Se continuarmos nesse ritmo, 90% dos solos do mundo estarão degradados em 2050”, é a preocupação dos pesquisadores, e da FAO. Não à toa, informa Isabella, o Dia Mundial dos Solos de 2019 (comemorado em 05 de dezembro) teve como tema: Pare a Erosão dos Solos, Salve Nosso Futuro.

Ciência para proteger o ambiente e garantir a produção
A solução para o desafio da conservação dos solos passa por várias esferas, sendo a pesquisa científica essencial na busca por soluções que venham a impedir o avanço da degradação e a fomentar a recuperação dos solos. “O IAC foi uma das primeiras instituições brasileiras a implantar experimentos de campo para medir a erosão, no final dos anos 40”, pontua a pesquisadora do Instituto. De acordo com Isabella, os dados obtidos desde então nas estações experimentais são utilizados para avaliar o efeito de culturas e sistemas de manejo no controle da erosão e na melhoria da qualidade do solo. “Esses dados demonstraram, por exemplo, a efetividade do uso do sistema de plantio direto para o controle da erosão e os prejuízos causados pelo emprego inadequado de implementos como grades e subsoladores”, assegura.

Mais recentemente, o IAC vem trazendo inovações importantes para as pesquisas na área. “O Instituto tem trabalhado no desenvolvimento de técnicas que permitem avaliar a erosão dos solos a partir de imagens obtidas por sensores embarcados em drones, tanto em lavouras como em estradas e carreadores”, menciona a pesquisadora, ressaltando também os estudos sobre compactação dos solos, que buscam alternativas de manejo para evitar que se degradem.

No que diz respeito ao dia-a-dia do produtor rural, Isabella diz que os produtores têm disponíveis diversas técnicas para evitar a erosão ou recuperar áreas já degradadas, que devem ser combinadas de acordo com as condições de cada local. O primeiro passo para a escolha da técnica adequada, afirma, é conhecer o solo e os problemas que já ocorreram na propriedade. “Podem ser selecionadas técnicas para aumentar a cobertura vegetal, para melhorar a qualidade do solo, para a condução da enxurrada, entre outras, buscando corrigir deficiências”, explica.

Nesse sentido, as pesquisas desenvolvidas pelo IAC servem de subsídio para os técnicos na escolha dos melhores métodos – e buscam alertar para os custos implicados na perda de solos para a agricultura. “Uma revisão realizada em 2011 sobre os custos da erosão indicou que o Estado de São Paulo gastaria cerca de US$ 200 milhões ao ano para repor os fertilizantes perdidos no solo arrastado pela erosão”, levanta Isabella. A boa notícia, segundo ela, é que estudos detalhados chegaram à conclusão de que esse custo é reduzido em 80% se forem adotados sistemas de manejo conservacionistas, ou seja, que levam em consideração a conservação dos solos.

Dia Nacional da Conservação dos Solos e os desafios à nossa frente
A pesquisadora do IAC diz serem relevantes as datas que nos lembram da importância de cuidarmos dos nossos solos. “O Dia Nacional da Conservação do Solo – assim como o Dia Mundial do Solo – é um importante evento para chamar atenção para os problemas de degradação dos solos, para a importância da manutenção da qualidade do solo e do controle da erosão, mas principalmente para ajudar a difundir técnicas que podem auxiliar o produtor rural a conservar seu solo, garantindo a produção agrícola e a qualidade ambiental”, enfatiza.

Apesar de não haver dados mais recentes que indiquem quanto do solo em atividades agropecuárias está degradado, Isabella lembra que estimativas feitas há cerca de cinco anos pela Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (Cdrs), da Secretaria de Agricultura, indicaram que 20% das áreas de pastagens no estado de São Paulo apresentavam estágio avançado de degradação. “Dados de autuações feitas pela Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA, também da Secretaria), relacionadas à Lei de Uso e Conservação do Solo no Estado de São Paulo, indicam que em média cerca de 20% dos solos agrícolas estão degradados por erosão”, problematiza a pesquisadora do IAC, indicando que, mesmo com os projetos bem-sucedidos realizados pela Cdrs e pela CDA na recuperação dessas áreas, ainda há muito a ser feito no enfrentamento da questão.

Nesse sentido, a pesquisadora concorda que a data lembrada em 15 de abril é um passo importante para a conscientização da sociedade sobre a importância dos solos. “As instituições brasileiras, empresas e universidades, como a Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, tem feito um esforço e um engajamento no sentido de aumentar a difusão do conhecimento sobre o solo, sobre sua importância para a produção de alimentos, sobre os serviços ambientais dos solos, e as formas para recuperar solos degradados ou reduzir a degradação”, finaliza Isabella.

Sistemas Integrados de Produção Agropecuária
O Instituto de Zootecnia (IZ/Apta) tem trabalhado para o desenvolvimento de pesquisas para a conservação de solo e água, por meio de pesquisas em Sistemas Integrados de Produção Agropecuária, mantendo a sustentabilidade da produção. A utilização dos Sistemas reduz a perda de solo já que durante todas as estações do ano há cobertura constante do solo, seja pelas culturas ou pela pastagem, protegendo a sua superfície. Dessa forma os sistemas integrados têm sido utilizados dentro da rotação e sucessão de culturas-pastagem como parte do manejo conservacionista, devido à ciclagem e uso eficiente de nutrientes.

Os Sistemas promovem a conservação do solo, por meio da diversificação da atividade agrícola e pecuária, disponibilizando forragem na estação seca e eliminando a necessidade de semear plantas de cobertura no inverno ou na primavera, para a produção de palha para o sistema de plantio direto.

Diferentes espécies de plantas ocupam a mesma área no mesmo período, no decorrer das estações do ano, e as raízes dessas plantas, por possuírem diferentes capacidades de exploração do solo, conseguem extrair os nutrientes das camadas mais profundas do solo e disponibilizam para culturas futuras após a sua colheita, manejo ou decomposição.

Os experimentos do IZ têm mostrado que o consórcio de gramíneas e leguminosas forrageiras, por exemplo, ganham força, já que tem promovido ganhos por meio da fixação biológica do nitrogênio e da cobertura do solo, garantindo maior rentabilidade ao produtor.

Plantio sem preparo do solo – técnica de baixo custo é usada em áreas montanhosas
A Lei de Uso do Solo vigente no Estado de São Paulo não permite o uso de tratores para preparo do solo em áreas com declividade que venham a colocar em risco a vida do tratorista, e o solo que pode sofrer danos muito mais profundos, como as voçorocas que impedem o uso da terra para atividades agrícolas. É por este motivo que a Secretaria de Agricultura e Abastecimento vem incentivando a divulgação da tecnologia, como a utilizada em uma pequena propriedade instalada em Santa Isabel, município da área de atuação da Cdrs Regional Mogi das Cruzes.

O Sítio São Luiz, segundo a zootecnista da Cdrs, Dayla Ciâncio, que atende a propriedade há cerca de dois anos, é representativa do tipo de propriedades da região: pequenas, com atividade leiteira e com pastagens degradadas instaladas em áreas de morro. O produtor conta com 10 vacas em lactação e produz cerca de 100 litros/leite dia com duas ordenhas, trabalha sozinho, tendo essa atividade como sua única renda. “O intuito é primeiro melhorar a alimentação do gado, que recebe ainda capim napier no cocho, para depois melhorar a genética”, explica a zootecnista. Para isso, foi implantado um piquete inicial e onde havia apenas grama foi feita a dessecação com glifosato e, posteriormente, jogadas as sementes junto com adubo.

O engenheiro agrônomo Ricardo Manfredini, extensionista da Cdrs, foi responsável pela implantação da Unidade Demonstrativa (UD) em Santa Isabel, para divulgar e incentivar o uso da técnica, adotada em municípios do Vale do Paraíba, em especial Natividade da Serra e Redenção da Serra. “É uma técnica ideal para pequenas áreas, porém nada impede a utilização em grandes áreas, a vantagem é que o pequeno pode ir fazendo aos poucos e consegue realizar a operação sozinho. Tendo a área delimitada, deve-se fazer a amostragem do solo para providenciar a calagem, a seguir dessecar o mato, a semeadura será feita a lanço junto com o adubo sobre o mato dessecado, permitindo que o capim aflore com vigor”, explica Manfredini. É uma técnica diferente do Plantio Direto na Palha (PDP), também muito difundida, na qual a semeadura é feita sob a palha e não sobre a palhada, caso dessa tecnologia.

Felipe Monteiro, diretor da Cdrs Mogi das Cruzes, afirma ser uma técnica de baixo custo em relação a outras e oferece uma oportunidade de se adequarem à Lei de Uso do Solo, já que não é permitido o revolvimento com maquinários em áreas montanhosas. “Tínhamos programado, antes da pandemia, um Dia de Campo para divulgar a tecnologia na região, assim que for possível, estaremos de novo na linha de frente para aproximar o produtor rural das tecnologias disponíveis”, afirma o diretor.




Integra SP
O Governo de São Paulo, via Secretaria, disponibiliza uma verba que, em 2019, estava em R$ 6 milhões para que pequenos, médios e grandes produtores rurais que tenham terras degradadas por grandes erosões possam se beneficiar de até R$ 25 mil a fundo perdido para a recuperação das áreas. A subvenção é de até 90% para os pequenos, 85% para os médios e 75% para os grandes propriedades.

“É preciso que procurem a Casa da Agricultura local, a qual encaminhará a solicitação às Unidades Técnicas de Engenharia (UTEs) da Cdrs em todo o Estado. Será feita uma visita técnica e delineado o projeto que terá a execução acompanhada pela UTE da região. Ao final do processo o produtor será reembolsado”, explica Alexandre Grassi, da assessoria da Cdrs, e responsável pelo gerenciamento do Projeto Integra SP – Radge  (Recuperação de Áreas Degradadas por Grandes Erosões). “Trata-se de uma importante política pública que está disponível e que tem sido utilizada, principalmente, nas regiões de General Salgado, Presidente Venceslau, Presidente Prudente e Marília, mas que está disponível para todo o Estado”, diz Grassi. Tais regiões já são conhecidas pelos solos mais pobres, arenosos, como os argissolos e, portanto, mais propensos às erosões e onde se encontram muitas pastagens degradadas.

Quando há grandes erosões, o terreno fica indisponível para a agricultura e sem valor econômico. Com a recuperação, é possível utilizar novamente a área seja para pastagens ou outros cultivos. “O projeto vinha sendo impulsionado e cada vez mais produtores estavam interessados na recuperação de suas áreas, porém, em março, com o avanço da pandemia, as atividades foram temporariamente paralisadas, pois necessitam visitas a campo. Normalmente, os pedidos são feitos na época das chuvas (até final de março) e executados no período de seca, que tem início no outono”, explica o técnico.

Autor de vários projetos realizados em assentamentos de Marília, Walter Hipólito da Silva conta que foram feitos seis projetos para tornar viável o uso de máquinas para realizar o trabalho. “Várias técnicas diferentes podem ser abordadas e o mais importante é planejar, junto com o proprietário como manter e fazer da preservação uma preocupação diária”, afirma Waltinho.

Mário Totti é o técnico da UTE ligada à Cdrs Presidente Venceslau, onde as erosões causam um entrave ao desenvolvimento regional. “Este projeto é uma importante ferramenta de extensão rural para atrair e conscientizar o produtor da necessidade de preservação do solo. Ao final ele assina um termo de compromisso em manter as Boas Práticas Agropecuárias não só aquela área, mas em toda a propriedade. “Quando sentamos com o produtor para definir o projeto a ser executado, consideramos a propriedade como um todo e não apenas uma parte. O projeto passa a ser mais uma ferramenta de extensão rural, de sensibilização do produtor para as questões ambientais. Buscamos a mudança de atitude e é muito gratificante ver que conseguimos mudar a forma de agir do produtor para que sirva de exemplo a outros”, afirma Mário Totti.

Monitoramento
A Coordenadoria de Defesa Agropecuária é o órgão responsável pela fiscalização e do cumprimento da legislação que dispõe sobre o uso, a conservação e a preservação do solo agrícola. Com a fiscalização, faz-se o constante monitoramento das áreas agrícolas do Estado de São Paulo, com o objetivo de minimizar os processos erosivos existentes em todo o estado, mas principalmente para solos mais susceptíveis a esse dano, como acontece na região Oeste do Estado de São Paulo, onde concentra-se as ações.

O propósito da Legislação de Uso e Conservação do Solo Agrícola é de conscientizar o produtor e não o penalizar, sendo que mais de 90% dos Autos de Infração foram cancelados, porque os danos ao solo foram sanados. O produtor deve ter a compreensão que conservando seu solo, ele protegerá sua parcela, sua gleba, propriedade, região, Estado, País e planeta, porque tudo está interligado.



Fonte: Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA/SP)