O dólar tinha queda firme contra o real nesta segunda-feira, refletindo a recuperação do sentimento global em meio a sinais de melhora no estado de saúde do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que está internado com Covid-19, e a notícias mais otimistas sobre pacote de estímulo na maior economia do mundo.

Trump pode ter alta do hospital já nesta segunda-feira, de acordo com seus médicos, mas seu estado clínico ainda não está claro, e especialistas externos alertam que seu caso pode ser grave.

A notícia de que o presidente da maior economia do mundo foi infectado por uma doença que já matou mais de 200 mil norte-americanos abalou os mercados globais na sexta-feira, uma vez que aprofundou incertezas em torno da corrida eleitoral dos EUA.

Nesta segunda, às 11:47, o dólar recuava 0,81%, a 5,6211 reais na venda, enquanto o dólar futuro caía 1,19%, a 5,6260 reais.

Na sessão anterior, na sexta-feira, o dólar negociado no mercado interbancário fechou em alta de 0,24%, a 5,6669 reais na venda, maior patamar desde 20 de maio.

“A atenção dada pelos investidores ao estado de saúde do presidente Donald Trump é a prova de que o ‘modo eleições’ está ativado ao máximo no mercado financeiro”, disse em nota Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, destacando a “‘escolha de Sofia’ dos norte-americanos, entre um presidente atípico, polêmico e impulsivo e o conjunto democrata, com resultados muito discutíveis em nível regional nos EUA”.

Em nota, analistas da Levante investimentos opinaram que “Trump é o favorito dos investidores, e seu retorno anima o mercado, não apenas em termos eleitorais, mas com a perspectiva de mais facilidade na aprovação de um pacote de auxílio econômico pelo Congresso dos Estados Unidos”.

As negociações de um novo pacote de estímulo nos Estados Unidos são consideradas determinantes para uma recuperação econômica, à medida que o mercado de trabalho norte-americano demonstra sinais de desaceleração.

O chefe de gabinete da Casa Branca, Mark Meadows, disse nesta segunda-feira que ainda há potencial para se chegar a um entendimento com os parlamentares dos Estados Unidos sobre mais alívio econômico durante a pandemia do coronavírus e que o presidente Trump está comprometido em efetivar um acordo.

No Brasil, o cenário fiscal continuava sob os holofotes, em meio a incertezas sobre a saúde das contas públicas e a temores de conflitos internos no governo Jair Bolsonaro –sobretudo entre os ministros da Economia (Paulo Guedes) e do Desenvolvimento Regional (Rogério Marinho).

Diante de dúvidas sobre a forma de financiamento do Renda Cidadã –programa de transferência de renda que o governo quer criar em substituição ao Bolsa Família–, Guedes afirmou na noite de sexta-feira que furar o teto de gastos para ganhar eleições é uma irresponsabilidade com as futuras gerações.

Guedes chegou a responder a questionamentos feitos por jornalistas sobre notícias de que Marinho teria feito críticas ao chefe da Economia.

“Os desentendimentos em torno do financiamento do Renda Cidadã e da eventual flexibilização do teto de gastos deverão seguir contaminando o sentimento dos mercados”, escreveram especialistas do time econômico da Guide Investimentos, alertando que a melhora externa não tem “força própria para angariar altas (nos ativos locais) na falta de um maior entendimento entre a ala política e a equipe econômica do governo”.

Em 2020, o cenário doméstico de deterioração fiscal tem sido apontado como um dos principais fatores de impulso para o dólar, que já salta 40% contra o real no ano, em termos nominais.

Os cortes consecutivos na taxa Selic –que se encontra atualmente em 2% ao ano, sua mínima histórica– também ajudaram a pressionar a moeda brasileira, uma vez que causaram redução de rendimentos locais atrelados aos juros básicos, minando a atratividade da renda fixa brasileira em relação à de outros rivais emergentes.

O Banco Central vendeu nesta segunda-feira todos os 10 mil contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão de rolagem.

 Fonte: Reuters