O dólar fechou em firme alta de 1,5% ante o real nesta quinta-feira (04), dia de um rali global da moeda norte-americana guiado pela percepção de maior atratividade dos mercados nos Estados Unidos, após sinais de que a maior economia do mundo está se recuperando mais rapidamente da crise gerada pela pandemia.

Aqui, os comentários nas mesas foram de que a reação mais negativa do real ao fortalecimento global do dólar evidencia a falta de “colchão” à moeda brasileira diante dos juros reais negativos e reforça o debate sobre o esperado processo de normalização da política monetária pelo Banco Central.

Além disso, no pano de fundo o mercado tem analisado a ausência de falas mais explícitas sobre cortes de gastos por parte das novas lideranças do Congresso, embora a leitura geral seja de que eventuais novas despesas viriam acompanhadas de contrapartidas fiscais.

O dólar ganhava contra 29 de seus 33 principais rivais. O índice da moeda dos EUA bateu máximas em dois meses. Enquanto isso, as bolsas de valores em Wall Street subiam cerca de 0,9% no fim da tarde.

Aqui, a moeda norte-americana encerrou em alta de 1,49%, para 5,4496 reais. Na máxima, foi a 5,4576 reais (+1,64%), depois de na mínima recuar a 5,3562 reais (-0,25%).

No exterior, pares do real operavam em queda, com destaque para a baixa de 1,1% do peso mexicano. Dentre as principais moedas, o euro tinha o pior desempenho, em baixa de 0,6% no dia e estendendo para 3,1% a perda acumulada desde o pico de um mês atrás.

O número de norte-americanos que entraram com novos pedidos de auxílio-desemprego diminuiu na semana passada, e as novas encomendas de produtos fabricados nos Estados Unidos subiram mais do que o esperado em dezembro, conforme dados divulgados nesta quinta.

“O relatório de empregos dos EUA amanhã deve sugerir mais ainda que o pior da queda econômica pode já ter ficado para trás”, disse o Wells Fargo em nota.

Dados mais fortes nos EUA são positivos para mercados de risco, mas, num momento de economias abaladas em todo o mundo, podem reforçar a percepção de refúgio atribuída aos ativos norte-americanos – o que, na prática, pode levar investidores a tirar recursos mercados emergentes, como o Brasil, e levá-los aos EUA.

“No geral, o maior receio de curto prazo é que uma correção de posições compradas em euro contra o dólar tenha um impacto (negativo) sobre o sentimento de risco de curto prazo maior do que merece e que isso, combinado com uma correlação dos mercados a favor e contra risco, provoque um desmonte indiscriminado de posições em moedas de beta alto”, disse o Société Générale em nota. “Um amplo rali do dólar é provável”, completou.

Divisas de beta alto costumam reagir com mais intensidade às direções dadas pelo mercado, e o real é um exemplo clássico dessa lista. A moeda brasileira, aliás, é a mais volátil do mundo, reflexo da incerteza adicional de investidores com os rumos político-fiscal e seus desdobramentos sobre a agenda macro. Isso num contexto de baixos retornos oferecidos pelo real, o que coloca a moeda em desvantagem perante rivais.

E mesmo a perspectiva de elevação dos juros no Brasil ainda parece insuficiente para levar a moeda brasileira a reverter as fortes perdas do ano passado.

O UBS BB prevê que o dólar fechará o ano a 4,95 reais, abaixo da taxa atual, mas ainda bem acima do nível perto de 4 reais em que começou 2020. O banco vê qualquer otimismo para a moeda com cautela e, por isso, prefere assumir posições a favor via mercado de opções, citando “elevada incerteza” e tempo “limitado” para progressos na agenda de reformas.

“Com o aumento das taxas de juros no horizonte, os juros em reais podem aumentar. Dito isso, os riscos fiscais continuarão a ditar o destino do real”, finalizaram os profissionais.

Fonte: Reuters