O dólar subia acentuadamente e chegou a superar a marca psicológica de 5 reais na manhã desta quarta-feira, dia que deve contar com volatilidade devido à formação da Ptax de fim de mês, enquanto os operadores monitoravam ruídos políticos domésticos e a aversão a risco no exterior.

Apesar da alta nesta manhã, a moeda norte-americana caminhava para fechar junho em queda frente ao real, o que marcará seu terceiro mês consecutivo de desvalorização.

Às 10:40, o dólar avançava 1,10%, a 4,9974 reais na venda, enquanto o dólar futuro trabalhava em alta de 0,93%, 5,002 reais.

Na máxima do pregão, a moeda foi a 5,0122 reais na venda.

No radar dos investidores brasileiros, “enquanto as incertezas quanto à reforma tributária seguem tirando fôlego dos ativos locais, a nova acusação de corrupção contra o governo na compra do imunizante da AstraZeneca promete manter tensões elevadas em Brasília”, disse em nota Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.

O Ministério da Saúde anunciou na noite de terça-feira a exoneração do servidor Roberto Ferreira Dias, acusado de pedir propina a um representante de uma empresa vendedora de vacinas para que a companhia assinasse um contrato de fornecimento do imunizante da AstraZeneca com o governo federal.

Segundo especialistas, a notícia representa escalada nas investigações da CPI da Covid-19 no Senado. “A CPI ajuda a fragilizar a situação do Executivo”, escreveu em blog Dan Kawa, CIO da TAG Investimentos. “As propostas de reformas vindas do Executivo devem ‘custar mais caro’ politicamente, assim como sua posição política perante a sociedade fica mais fragilizada à medida que o tempo passa.”

Além do fator político, vários analistas chamavam a atenção para a briga entre comprados e vendidos na formação da Ptax de fim de mês nesta quarta-feira, que tende a elevar a volatilidade no dia.

Já no exterior, o foco dos investidores internacionais estava na disseminação da variante Delta do coronavírus, mais infecciosa. Indonésia, Malásia, Tailândia e Austrália estão enfrentando surtos e apertando as medidas contra a Covid-19, enquanto Espanha e Portugal anunciaram restrições para turistas britânicos não vacinados.

Ao mesmo tempo, os mercados aguardavam ansiosamente dados sobre a criação de empregos fora do setor agrícola nos Estados Unidos, que podem fornecer pistas sobre o futuro da política monetária do Federal Reserve. Este mês, os investidores foram surpreendidos por uma guinada “hawkish”, ou dura com a inflação, na perspectiva de juros do banco central norte-americano.

Dados separados, menos abrangentes, desta quarta-feira mostraram que a criação de vagas de trabalho no setor privado dos EUA aumentou de forma sólida em junho.

O índice do dólar contra uma cesta de moedas subia levemente no exterior, sendo negociado em patamares altos e caminhando para registrar forte ganho mensal.

Junho de perdas

Apesar dos ganhos acentuados desta quarta-feira, a moeda norte-americana à vista caminhava para encerrar o mês de junho em queda de 4,5% contra o real. Essa seria sua maior desvalorização mensal desde novembro de 2020 (-6,82%), e marcaria o terceiro mês seguido de perdas.

No segundo trimestre do ano, a queda acumulada do dólar é de cerca de 11,4%. A divisa dos EUA deve registrar seu pior trimestre contra o real desde o período de abril a junho de 2009 (-15,80%).

Para Tulio Portella, diretor comercial da B&T Corretora, um dos principais fatores de pressão para o dólar tem sido a esperança de alívio da pandemia no mundo, apesar das novas variantes de coronavírus, principalmente devido ao ritmo de imunização das populações e ao início de reabertura de várias economias importantes.

Além disso, ele explicou à Reuters que o ciclo de aperto monetário por parte do Banco Central do Brasil tem ajudado o real – a taxa básica de juros Selic está em 4,25%, depois da terceira alta consecutiva de 0,75 ponto percentual.

“Aumentando os juros, a gente tende a atrair uma maior atenção dos grandes ‘players’ do mercado, levando à entrada de divisas estrangeiras no Brasil”, afirmou.

“Ao mesmo tempo, temos taxas de juros baixas (nos Estados Unidos) e uma maior estabilização do mercado como um todo”, o que colabora para o apetite por risco.

Com esse cenário em mente, a B&T projeta o dólar a 4,50 reais no final de 2021.

Fonte: Reuters