O dólar teve nesta quinta-feira a maior alta em quase seis semanas e fechou acima de 5 reais pela primeira vez em dez dias, a reboque do fortalecimento da divisa no exterior, antes de dados de emprego nos EUA, e de algum incômodo local do lado político.

O dólar à vista subiu 1,37%, a 5,0447 reais na venda, valorização mais forte desde 21 de maio (+1,51%). A cotação variou de 4,9473 reais (-0,58%) a 5,0523 reais (+1,53%).

O patamar de fechamento é o mais alto desde 18 de junho (5,0713 reais). É a primeira vez desde 21 de junho (5,0224 reais) que o dólar termina a sessão no mercado spot acima da linha dos 5 reais.

No Brasil, a moeda passou a primeira hora de negócios entre 4,94 reais e 4,98 reais, mas tomou fôlego na sequência, indo às máximas do dia por volta de 12h30 e mantendo-se em expressiva alta até o fechamento.

Daniel Tatsumi, gestor de moedas da ACE Capital, avaliou que cerca de 20% a 30% do impulso do dólar nesta semana no Brasil decorre da temperatura mais alta do noticiário político.

“As notícias têm feito preço, mas não sabemos se duradouro. […] Quem viu um Joesley Day sempre tem um certo medo”, afirmou. Ele se referia ao pânico nos mercados financeiros do dia 18 de maio de 2017, um dia após virem a público denúncias de Joesley Batista, um dos donos da J&F, envolvendo diretamente o então presidente Michel Temer.

Na ocasião, o mercado entendeu que os eventos sepultaram a agenda de reformas em curso. Naquele 18 de maio, o dólar disparou 8,15%, maior alta desde março de 2003.

O noticiário político doméstico tem sido dominado nos últimos dias por manchetes sobre supostas irregularidades na negociação de vacinas pelo governo.

Mas o gestor da ACE Capital destacou a influência do ambiente externo no câmbio. Tatsumi lembrou que, lá fora, o dólar vem tendo dias de fortalecimento, depois de em junho registrar o melhor mês desde novembro de 2016.

Nesta quinta, o índice do dólar subia 0,2%, para uma máxima desde 6 de abril. A moeda ganhava de 0,3% a 1,3% frente a alguns dos principais pares do real.

O ponto de atenção dos investidores está nos dados de emprego de junho nos Estados Unidos a serem divulgados na sexta-feira. O relatório deve mostrar abertura líquida de 700 mil vagas, uma aceleração ante as 559 mil de maio.

A dúvida do mercado é em que medida os números podem levar o banco central dos EUA a antecipar debate sobre redução de estímulos. Menos estímulos nos EUA significam menos liquidez, que deixa então de fluir para mercados emergentes como o Brasil.

Apesar da alta global do dólar por receios sobre os números de emprego, o banco ING prevê uma decepção nos dados, que viriam entre 550 mil e 600 mil, e diz que em 2021 as divulgações do chamado payroll têm gerado reação assimetricamente negativa no dólar quando os números não cumprem as expectativas.

Fonte: Reuters