O presidente da Embrapa, Celso Moretti, mostrou como o Brasil vem atuando na recarbonização de solos, processo de sequestro e fixação do carbono por meio de boas práticas agropecuárias, na sessão de abertura da 9ª assembleia plenária da Aliança Mundial pelo Solo (Global Soil Partnership – GSP), realizada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), na quarta-feira (8/9). O encontro, que tem duração de três dias, é o fórum anual de tomada de decisão da GSP, quando todos os países-membros da FAO revisam e priorizam as ações, buscando contemplar as regiões de forma equilibrada, no que diz respeito à governança dos solos no mundo.

Lançada em 2013 pela FAO, a Aliança Mundial pelo Solo tem a missão de posicionar o tema solos na agenda global, por meio de ações coletivas em várias regiões do planeta. Entre os seus principais objetivos estão promover o manejo sustentável do solo e melhorar a governança desse recurso natural, para garantir solos produtivos e apoiar o fornecimento de serviços ecossistêmicos essenciais para a segurança alimentar e nutricional, adaptação e mitigação das mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável.

Em sua fala, Moretti ressaltou a contribuição da Global Soil Partnership para a qualificação do conhecimento do solo e para a conscientização sobre as ameaças e potencialidades desse recurso natural ao redor do mundo. Ele apontou que os brasileiros atuam junto à Aliança Mundial desde o seu início, participando das assembleias e do Painel Técnico Intergovernamental de Solos (ITPS) e contribuindo com as entregas da GSP tanto em forma de produções científicas e técnicas quanto do primeiro Mapa Global de Estoque de Carbono Orgânico do Solo (GSOCMap), elaborado pelos países membros por meio de um processo participativo.

“Os solos agrícolas podem desempenhar um papel importante no sequestro de carbono se forem adotadas as boas práticas de manejo sustentável do solo, como estamos fazendo no Brasil, com as pesquisas realizadas em nossos 43 centros de pesquisa. Hoje estamos vendo não apenas o lançamento do mapa do Potencial Global de Sequestro de Carbono Orgânico do Solo, cuja linha de base é o GSOCMap, mas também do Manual sobre Recarbonização de Solos Globais. Essas iniciativas mostram que a agricultura tem feito sua parte no combate às mudanças climáticas”, destacou o presidente da Embrapa, citando dois produtos lançados pela Aliança Mundial durante a 9ª assembleia.

Moretti acrescentou que essa contribuição da agricultura é demonstrada no 5º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que apontou um aumento nas emissões em todos os setores produtivos desde 2000, com exceção singular do setor “agricultura, florestas e outros usos da terra”. Ele também lembrou de uma publicação recente da FAO sobre a participação da agricultura nas emissões totais de gases de efeito estufa, segundo a qual a contribuição do setor está diminuindo ao longo do tempo, de 29% em média, na década de 1990, para 20% entre 2010 e 2017.

“O Brasil somou-se com entusiasmo a esses esforços. Recentemente, lançamos as bases conceituais do Plano de Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária, o Plano ABC+, com vigência até 2030. O objetivo é desenvolver soluções tecnológicas sustentáveis para a produção de alimentos, fibras e bioenergia, além de melhorar a renda dos produtores, com foco no enfrentamento das mudanças climáticas por meio da agricultura. O ABC+ é a atualização do Plano ABC, levado a cabo de 2010 a 2020, que se tornou referência mundial em políticas públicas para o setor agrícola. A adoção de sistemas integrados de lavoura, pecuária e silvicultura, uma das tecnologias do Plano ABC, permitiu ao Brasil lançar, em 2020, um produto inédito: a carne bovina carbono neutro”, destacou Moretti, acrescentado que protocolos nesse mesmo sentido estão em andamento para a produção de soja, leite, café, algodão e couro.

O presidente da Embrapa finalizou sua participação abordando a governança do solo, que tem sido tema central nas iniciativas da GSP. Moretti mostrou que o País vem avançando nessa área com a instituição do Programa Nacional de Levantamento e Interpretação de Solos no Brasil (PronaSolos), coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. “A Embrapa se orgulha de ser um parceiro estratégico dessa iniciativa. O programa foi construído sob um robusto arranjo multi-institucional e, por meio da governança do solo, será a base para o desenvolvimento do País nas áreas de agricultura, meio ambiente, infraestrutura, minas e energia, além da defesa nacional. Hoje temos informações detalhadas de apenas 5% de nossos solos. Apesar dessa realidade, exportamos produtos agrícolas para mais de 200 países. Imaginem a extraordinária contribuição do PronaSolos para a segurança alimentar do Brasil e do mundo.”

A chefe geral da Embrapa Solos, Maria de Lourdes Mendonça Santos Brefin, que participa da GSP desde seu lançamento e foi a primeira representante do Brasil e América Latina no ITPS, em dois mandatos entre 2013 e 2018, e que este ano faz parte da delegação brasileira que participa da 9ª assembleia plenária, destacou um dado divulgado pela FAO durante o lançamento do Mapa Global de Potencial de Sequestro de Carbono dos Solos. Dentre os 15 países com maior potencial de sequestro de carbono pelos solos agriculturáveis, o Brasil é o primeiro da lista, à frente de China, EUA e Índia.

“Isso aponta que o Brasil tem tomado as decisões corretas no sentido de promover com conhecimento, tecnologia e inovação a descarbonização de sua agricultura, tornando-a cada vez mais sustentável, a exemplo dos sistemas integrados de produção, da fixação biológica de nitrogênio, do plantio direto e tantas outras boas práticas de manejo sustentável dos solos. A agricultura é parte da solução, não apenas para a segurança alimentar e nutricional, energia renovável e serviços ecossitêmicos, mas também para a mitigação das mudanças climáticas“, concluiu Maria de Lourdes.

Também representam a Embrapa na 9ª assembleia da Aliança Mundial pelo Solo o chefe de P&D da Embrapa Solos, Gustavo de Mattos Vasques; os pesquisadores da Unidade Daniel Vidal Pérez, Margareth Simões e Renato Rodrigues; e a pesquisadora da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (Sire), Maria José Amstalden.

Fonte: Embrapa