O milho tem um velho e conhecido problema de preço e disponibilidade em toda cadeia de produção de carnes e se transforma em disputa entre quem produz o cereal e quem depende do produto para transformar em proteína. Tudo isso muito conhecido pelas lideranças do agronegócio brasileiro. As políticas públicas se repetem sem mudar o cenário.

Conversei com o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina (Faesc), Enori Barbieri, que passou por Brasília buscando novidades em relação à produção de milho, estoque e políticas para o setor e também acompanhou o lançamento do Brasil Livre da Febre Aftosa com vacinação no último dia como presidente da Cidasc.

Enori explica que o milho está no Brasil mas não está disponível. Parece complexo, mas o fato é que cerca de 15 milhões de toneladas da safra passada estão com trading para exportar e com produtores que esperam melhores preços. Por isso, a conta não fecha. Tem cooperativa que está oferecendo R$ 37,00 pela saca de 60kg, e mesmo assim, quem tem não vende.

“Faltou política pública com um trabalho preciso de prever a falta de milho, o governo sabia que ia faltar milho na safra, o cálculo não foi feito adequadamente, porque tem que avaliar na mão de quem está o milho estocado, e as empresas também sabiam que tinha milho mas não fizeram esta conta de que boa parte do estoque está com quem não quer vender”, analisa Enori.

Para o vice-presidente da Faesc, o governo devia acabar parte dos programas de políticas públicas que não têm efeito sobre o problema da falta de milho e fazer preço mínimo que indique preço. “Porque na hora que chegar no preço mínimo o produtor vende, por exemplo ter o preço como balizador de verdade do mercado, quanto custa para plantar milho? Tanto, em cima deste valor real de preço mínimo vem a comercialização, acabar com o preço mínimo fictício, aplica em cima do preço mínimo de garantia de produção”, disse.

Outra análise feita por Enori foi com relação ao sul do Brasil: “O preço mínimo deve ser mais atrativo para produtor plantar no sul, as agroindústrias não valorizam… O milho do sul não faz parte da cadeia de agro de aves e suínos. Enquanto o milho não for incluído na cadeia – falo na cadeia toda, do ovo até o abate do frango, do leitão até o abate do suíno, todas as etapas – fica difícil mudar a visão das agroindústrias que esperam o produtor resolver o problema. O produtor acaba indo para soja, que vende a qualquer hora à vista”, explicou.

Milho dos Estados Unidos

Santa Catarina precisa de mais de 4 milhões de toneladas para atender a demanda atual. O ideal seria importar milho dos Estados Unidos, mas o Ibama proibiu por se tratar de milho transgênico.

“Temos que importar agora da Argentina 60 mil toneladas e um milhão de toneladas do Paraguai, e ainda enfrentar a burocracia da aduana brasileira”.

Enori destaque que o governo tem que criar novas políticas e não manter as mesmas que se mostram ineficazes de um ano para o outro. Parar de patrocinar o escoamento para exportação e jogar milho para os concorrentes produzirem aves e suínos em outros países, enquanto temos sistema agroindustrial entre os mais modernos do mundo, as políticas públicas precisam ser repensadas e voltadas para o milho como principal insumo de alavancar emprego e renda no país.

“Afinal de contas, a agroindústria transforma o milho em carne e, além de ser um grande negócio de exportação, tem geração de emprego”.

Agora é esperar que com a entrada da soja o milho vá para o mercado deixando espaço nos armazéns e movimentando o mercado até a chegada do milho importado.

Ano político e lideranças rurais começam se desligar para concorrer.

Enori Barbieri deixou esta semana o cargo de presidente da Cidasc e segue por mais dois meses como vice-presidente da Faesc. Foram oito anos atuando no governo catarinense, nove meses como secretário da Agricultura e mais de sete anos como presidente da Cidasc, tempo que acompanhou e participou junto com a equipe técnica da abertura dos mercados como Japão, Estados Unidos e Coreia. E, agora, a expectativa em cima da China que está nesta briga comercial com os Estados Unidos e deve sobrar espaço para Santa Catarina.

Enori participou em Brasília do lançamento do Brasil Livre de Febre Aftosa com vacinação, pois o estado é referência mundial já que retirou a vacina há 18 anos. Enori Barbieri é pré-candidato pelo PSD/SC para concorrer como Deputado Estadual.

Outra liderança nacional que deixou o cargo esta semana é o Secretário de Política Agrícola, Neri Geller, que vai concorrer para Deputado Federal pelo estado de Mato Grosso pelo PP/MT. No seu lugar, quem assume a pasta é o diretor de Crédito e Estudos Econômicos, Wilson Vaz de Araújo.

Marcelo Lara – colunista do suino.com