A produção agrícola europeia continua, apesar da pandemia do novo Coronavírus. No entanto, um estudo elaborado pelo Rabobank indica que os principais riscos para o suprimento de alimentos na Europa decorrentes do surto de Covid-19 estão relacionados à disponibilidade de mão-de-obra, que causam problemas nas colheitas e no setor animal, e à execução de atividades de processamento e embalagem nas empresas de alimentos.

Além disso, o banco aponta riscos de fornecimento de grãos para outros países, após as possíveis restrições de exportação por parte dos governos, e de entraves em importantes pontos na América do Norte e do Sul e Indonésia/Malásia.

Além disso, em vários mercados, o colapso da demanda provoca pesadas perdas para agricultores e processadores. Para o Rabobank, o governo terá de intervir em vários desses mercados para garantir o fornecimento contínuo desses produtos no futuro, quando a situação voltar ao normal.

Continuidade

Até agora, o impacto do surto de Covid-19, junto às medidas de bloqueio relacionadas ao desenvolvimento de culturas e à criação de animais em fazendas na Europa, “parece ser administrável”, segundo o banco. “A produção agrícola primária não parou”.

Na Europa, em geral, o estudo mostra que o plantio de culturas na primavera não corre riscos. Insumos como sementes, fertilizantes e produtos químicos para a proteção de culturas já estão na fazenda ou podem ser adquiridos com revendedores, em armazéns próximos. A criação de gado e a produção de leite e ovos também continuam. A alimentação animal ainda está chegando aos agricultores.

No entanto, o Rabobank aponta alguns problemas em relação a ingredientes para a alimentação de animais, como aminoácidos e vitaminas, além de alguns elementos ativos para a proteção de culturas. A China é o principal fornecedor desses ingredientes, mas no momento há dificuldades de importação em razão das incertezas provocadas pela pandemia.

Colheita

De acordo com a análise, a colheita de algumas culturas e o manejo de animais nas fazendas se tornaram muito mais desafiadores. Nos setores em que a mão-de-obra contratada é uma necessidade, também há problemas, na avaliação do Rabobank.

“Os requisitos de distanciamento social limitam o número de pessoas que podem trabalhar juntas em pequenas áreas. Um turno não pode substituir outro anterior sem que haja um tempo de espera para evitar o risco de contaminação”.

Transporte

O transporte de mão-de-obra para as áreas de plantio exige que as pessoas viajem separadamente, lembra o estudo. Além disso, “a disponibilidade de mão-de-obra imigrante diminuiu na maioria das regiões, pois os trabalhadores retornaram aos seus países de origem e/ou não podem cruzar as fronteiras. Estas são questões que aumentam os custos e reduzem a capacidade de colheita”.

Já o transporte de produtos agrícolas e animais de fazendas para os processadores continua na maioria dos casos. O estudo mostra que os governos europeus isentaram empresas de logística e processadores de alimentos – ambos considerados setores vitais, de medidas de bloqueio.

“Ocasionalmente, surgem alguns problemas específicos com relação ao transporte de caminhão para algumas áreas da Europa fortemente afetadas pelo vírus, elevando os custos. A potencial falta de motoristas, após as altas taxas de licença médica, também implica em risco para a logística”, observam os analistas.

Trabalho

Questões trabalhistas são, mais uma vez, a preocupação mais premente, indica o estudo, já que muitos funcionários têm contraído a Covid-19. “Porcentagens de licença médica de 10% ou mais se tornaram comuns em muitos lugares. Isso afeta as atividades de processamento e embalagem de trabalho intensivo, como abate, desossa, processamento de peixe e processamento de vegetais”.

Fluxo comercial

O comércio global de commodities agrícolas também não parou, informa o Rabobank. “As empresas de processamento que adquirem produtos agroalimentares fora da Europa enfrentam alguns problemas nos portos da América do Sul e diminuem as exportações da região do Mar Negro devido a, por exemplo, cotas de exportação definidas pela Rússia”.

No entanto, de acordo com o banco, as importações da União Europeia não estão sendo fortemente afetadas. Ainda assim, o estudo chama a atenção para o risco de menor disponibilidade de refeições proteicas e DDGS, após a menor produção de biocombustível nos EUA e na UE, resultado do menor preço global do petróleo e da falta de demanda de combustível devido a medidas de bloqueio.

Os grãos também podem ficar menos disponíveis à medida que um crescente número de países limitam ainda mais as exportações, indica o Rabobank. “Além disso, a concentração dos fluxos comerciais de oleaginosas e óleo de palma em determinados pontos de estrangulamento na América do Norte e do Sul e na Indonésia/Malásia pode levar a interrupções na Europa”, avalia a pesquisa.

Colapso na demanda

Embora a produção e o processamento primário continuem, o consumo sofreu grande impacto, segundo o estudo.

“A demanda em certos mercados quase desapareceu, levando a perdas significativas para agricultores e processadores. Por exemplo, atualmente as vendas no setor de floricultura caíram 70% ou mais, enquanto a produção não pode ser interrompida ou adiada e os custos incorridos não podem ser recuperados”.

Além disso, prossegue a análise, “muitas batatas para processamento não serão vendidas nesta temporada, devido à falta de demanda por batatas fritas pelo setor de serviços alimentícios”.

“Da mesma forma, há receios de que a carne de cordeiro enfrente o mesmo destino, enquanto um volume significativo de estoques de cevada para malte também poderá aumentar – resultado de um declínio no consumo de bebidas alcoólicas”.

Fonte: Rabobank