A aproximadamente 70 dias do início do plantio da safra 2021/22, os Estados Unidos passam por uma severa onda de frio que, como explicam os especialistas, vai do Golfo do México à fronteira do país com o Canadá. No Texas, uma pessoa já morreu e mais de 4 milhões de pessoas estão sem energia já que o frio congelou parques de energia eólica do estado foram congelados e diante da maior demanda, blackouts rotativos estão sendo implementados.

Ao todo, de acordo com informações da CNN norte-americana, o número de mortos chega a 15 pessoas e, somente na segunda-feira (15), 123 pessoas deram entrada em hospitais no estado de Oklahoma por problemas relacionados ao frio intenso. Dessa forma, aproximadamente 200 milhões de americanos estão sob alerta em função das atuais condições climáticas.

Um sistema de baixa pressão traz esta “tempestade de inverno” aos Estados Unidos e, nesta terça-feira, vai se movimentando pelo nordeste.

Impactos sobre o trigo

Dessa forma, há pontos do Meio-Oeste norte-americano registrando “temperaturas árticas” e preocupações com as lavouras de trigo de inverno concluindo seu desenvolvimento.

Como aponta o portal norte-americano Farm Futures, são esperados danos pela chamada winterkill a pelo menos algo entre 10% para a safra de trigo soft e 15% de trigo duro de inverno dos EUA por conta do atual cenário. Tais condições já levam os preços do grão, inclusive, a alcançarem suas máximas em uma semana na Bolsa de Chicago, já que sua demanda é intensa e seus estoques apertados, não só nos Estados Unidos, mas em todo mundo.

No boletim diário do Commodity Weather Group, os especialistas apontam para danos em ao menos 30% no trigo vermelho de inverno das Planícies, especialmente no Kansas.

Previsões mostram caminho da tempestade de inverno

E não só no Meio-Oeste americano, mas também nas Planícies as baixíssimas temperaturas deverão continuar nesta terça-feira, de acordo com as últimas previsões do NOAA, o serviço oficial de clima dos EUA. Entre quarta e quinta-feira, as temperaturas devem subir um pouco e trazer certo alívio aos norte-americanos, mas nada que mude drasticamente o atual cenário.

“O sistema da tempestade de inverno em desenvolvimento hoje nas Montanhas Rochosas do Sul criará uma chance de neve amanhã nas planícies à medida que atravessa os EUA entre hoje e o início da manhã de sexta-feira. Áreas do Sudeste podem ter uma chance maior de neve no caminho da tempestade, que se estende da cidade de Dallas, no Texas, ao estado do Maine”, explicam os analistas do Farm Futures.

Expectativas para a próxima safra

A nova safra de verão dos Estados Unidos ainda está ligeiramente distante, mas há muito sendo programada pelos produtores norte-americanos. E com a sinalização de um considerável – e necessário aumento de área -, o que faz com que o atual cenário climático já cause algumas preocupações.

“A questão é que as previsões não mostram que vai esquentar logo e isso já é o primeiro sinal de que poderá ter atraso. Esse mês de fevereiro vai continuar congelado e com o início da temporada das chuvas em março pode causar inundações. E o mercado também já olha um pouco para isso. Março é época de preparo de solo, e tudo mais, e isso acaba sendo benéfico para as cotações, sendo um fator que venha ajudar o mercado a furar os US$ 14 (na soja) e se sustentar se confirmado mais frio aí pelas próximas duas ou três semanas”, explica Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting.

Os impactos que poderão ser sentidos pela safra nova, porém, ainda não podem ser previstos. O plantio pode ser feito um pouco mais tarde, mas ainda assim colher o mesmo potencial produtivo esperado inicialmente. No entanto, o que mais preocupa neste momento, ainda segundo Brandalizze, é o alongamento da entressafra.

“Vai plantar um pouco mais tarde, colhe duas, três semanas mais tarde, mas estamos em um ano sem estoques, esse que é o problema. Com esta entressafra mais longa, vai zerar o estoque de soja e os EUA terão que importar, e esse é o fator que dá fôlego ao mercado”, diz.

Frio intenso x seca

Ao lado das preocupações dos produtores norte-americanos com essa onda de frio intenso está a apreensão em torno do tempo também bastante seco no país, que precisa continuar a ser monitorado. E de acordo com dados do Drought Monitor – um sistema que monitora a seca norte-americana -, mais de 60% dos EUA passa por algum nível de seca. Há um ano, este índice era de pouco mais de 25% e não trazia grandes preocupações para o Centro-Oeste americano ou para as Planícies.

“O oeste dos Estados Unidos foi a região que mais sofreu durante os meses de outono e inverno, mas o Meio-Oeste e as planícies não foram totalmente poupados. No Meio-Oeste, 37,7% da região foi afetada até 2 de fevereiro. As piores áreas incluem o oeste de Iowa, Minnesota e uma faixa que se estende pelo centro de Illinois e norte de Indiana”, analisam os especialistas do Farm Futures.

Ao portal norte-americano, o diretor do Centro Climático do Meio-Oeste do USDA, Dennis Todey, explica que “há uma faixa de solos secos que vai do leste do Missouri ao sul do Michigan, mas ainda temos expectativas de um padrão mais ativo antes do plantio da primavera que reduzirá os problemas na região”.

Do mesmo modo, porém, afirma ainda que do oeste de Iowa até as planícies, mais chuvas serão necessárias para superar as condições atuais. “Esperamos obter alguma precipitação nessas áreas antes do plantio. Mas é improvável que os déficits de umidade do solo sejam sanados até lá, então as perspectivas são menos otimistas”.

Assim, a grande questão se dá sobre, justamente, essa enorme camada de neve que está sendo depositada sobre os solos de estados mais ao norte. “Isso precisará derreter e se infiltrar nos solos para permitir a utilização pelas plantações mais tarde. Isso é difícil no inverno devido aos solos congelados e a infiltração é mínima”, explica Brian Fuchs, climatologista do Centro Nacional de Mitigação de Secas da Universidade de Nebraska também ao Farm Futures.

Nas previsões mais alongadas do NOAA – para os meses de abril a junho – o clima úmido é mais esperado para o leste do Corn Belt e na região do Vale do Rio Ohio, porém, para o oeste a sinalização é de que há condições “iguais” de seca ou umidade excessivas, o que deverá exigir muito planejamento, esforço e paciência dos produtores norte-americanos.

Fonte: Notícias Agrícolas com adaptações Suino.com