Atualmente, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), no âmbito do Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas (Plano ABC – Agricultura de Baixo Carbono) está organizando um levantamento de fatores de emissão de gases de efeito estufa (GEE) provenientes da agricultura brasileira. Esta iniciativa faz parte de uma ação de monitoramento dos avanços do Plano ABC, sob coordenação do Mapa, com o propósito de reunir uma coletânea de dados nacionais, e assim, dar suporte e segurança científica às políticas públicas de fomento para uma agricultura sustentável.

Com o intuito de contribuir com informações para subsidiar bases de dados e futuros inventários nacionais e estaduais de emissão de GEE ou mesmo aplicação em simulações de GEE, dados de um experimento a campo realizado em 2010/2011 em uma área situada no Vale do Paraíba, principal região produtora de arroz no estado de São Paulo, no município de Pindamonhangaba, foram publicados recentemente por pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) e da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta).

Segundo os pesquisadores, experimentos de mensuração de fluxos de gases de efeito estufa têm sido incentivados a nível global para fundamentar estimativas nacionais e estaduais de emissões. No país, um conjunto de estudos tem sido realizados visando a obtenção de fatores de emissão de metano (CH4) em sistemas de produção de arroz irrigado por inundação, bem como para avaliar o impacto de diferentes tipos de manejo, solos e outras variáveis nas emissões de metano. Entretanto, poucos estudos são disponíveis sobre emissão de metano em sistema pré-germinado de cultivo de arroz. Este tipo de manejo é utilizado em algumas regiões do país, como por exemplo, nos estados de Santa Catarina e São Paulo, e caracteriza-se pelo uso de sementes pré-germinadas em solo previamente inundado. No preparo do solo, há a necessidade da formação de barro, sendo que o nivelamento é realizado com o solo inundado.

O experimento da Embrapa e Apta objetivou determinar o fator de emissão de metano em cultivo de arroz sistema pré-germinado, bem como o potencial de aquecimento global parcial (PAGp) e potencial de aquecimento global escalonado pelo rendimento (PAGpR), que são parâmetros importantes para uma futura comparação de sistemas de cultivo quanto ao impacto nas emissões de GEE. O trabalho é parte integrante dos resultados do Projeto “Quantificação de Fluxos de Gases de Efeito Estufa em Sistemas de Produção Agrícola na Região Sudeste do país – Bases para Modelagem de Gases de Efeito Estufa na Agricultura”, financiado pelo Banco Mundial.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a área cultivada com arroz no Brasil é de cerca 1,88 milhão de hectares, sendo que a maior parte desta produção provém do cultivo de arroz irrigado por inundação mediante manejo contínuo de água. As emissões nacionais de metano provenientes do setor agrícola brasileiro totalizam 12,42 Tg (teragramas). Deste total, 0,46 Tg são atribuídos ao cultivo de arroz irrigado por inundação. No experimento no Vale do Paraíba foi obtido o fator de emissão de CH4 de 2,27 kg CH4 ha-1 dia-1, taxa esta 1,7 vezes maior que o fator médio indicado pelo IPCC Guidelines 2006.

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Magda Lima, uma das autoras da publicação onde o estudo foi relatado, “mais de 50% da emissão global de metano é de origem antropogênica, sendo o arroz uma das principais fontes contribuintes”. O metano (CH4) é um importante gás de efeito estufa com um potencial de aquecimento global 28 vezes superior ao do dióxido de carbono (CO2) para um horizonte de 100 anos.

Para os pesquisadores, a realização e os resultados deste estudo demonstram a importância da quantificação local de emissão de metano em condições específicas de manejo da cultura do arroz irrigado em diferentes regiões climáticas e solos distintos, de modo a contribuir para o aprimoramento de estimativas regionais, nacionais e globais de emissão de metano, por meio da determinação de fatores específicos de emissão deste gás. Além disso, contribuem também para as bases de dados necessárias ao aprimoramento de inventários nacionais e regionais, bem como para a análise de incertezas dessas emissões.

Os pesquisadores utilizaram o método de câmara fechada para a amostragem de gases e cromatografia gasosa para análise de suas concentrações. A variedade de arroz utilizada foi a IAC 105, de ciclo médio. O estudo está descrito no Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 86 – Emissão de metano em área de arroz irrigado sob sistema pré-germinado em Pindamonhangaba, SP – de autoria de Magda Aparecida de Lima, Rosana Faria Vieira, Alfredo José Barreto Luiz, José Abrahão Haddad Galvão e Omar Vieira Villela (Apta) que está disponível para download na página da Embrapa Meio Ambiente.

Fonte: Embrapa Meio Ambiente