A piora no cenário externo pode ser um entrave na retomada do ritmo de crescimento da economia brasileira

O avanço do coronavírus, decretado na quinta-feira uma emergência global pela Organização Mundial da Saúde (OMS), já afeta projeções para o desempenho da economia brasileira. A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) prevê queda superior a 3,5% nas exportações deste ano, eespecialmente por causa da perspectiva de desaceleração da atividade na China, nosso principal parceiro comercial.

Até agora, o impacto mais visível é a escalada do dólar. Na quinta-feira, a moeda americana chegou a alcançar R$ 4,27 na máxima do dia, com a expectativa em relação à reunião da OMS. Ações de mineradoras, como a Vale, e siderúrgicas, como CSN e Gderdau, têm sofrido fortes desvalorizações na bolsa, pois seus produtos sofrem mais com a desaceleração prevista para a economia chinesa, que pode sair de crescimento anual do PIB de 6% para 4,5%.

A piora no cenário externo pode ser um entrave no momento em que se espera uma retomada do ritmo de crescimento da economia brasileira. A projeção oficial do governo é de expansão de 2,4% este ano, segundo o Boletim Macrofiscal. Por ora, economistas – que esperam alta entre 2% e 2,5% – avaliam que ainda é cedo para rever projeções, embora já vejam contágio mais forte nas vendas ao exterior.

“Não há como prever, na atual conjuntura, de quanto será a queda nas exportações, mas certamente poderá ser maior do que a atual estimativa (de queda de 3,5%)”, disse José Augusto de Castro, presidente da AEB, lembrando que as trocas comerciais entre Brasil e China somaram quase US$ 100 bilhões no ano passado.

Castro ressalta que o fato de o Brasil ser tão dependente de commodities, – a maioria vcom grandes volumes vendidos para a China – ao menos 65% da pauta de exportações brasileiras são de produtos primários e cotados em Bolsas internacionais – torna o país mais vulnerável a oscilações na economia global. Na quinta, os preços do petróleo caíram 2,5%, e os da soja, 1,9%.

No Ministério da Economia, técnicos fazem análises diárias a respeito do impacto do coronavírus na economia, diante do temor de esfriamento da atividade econômica global. Por ora, a leitura é que a forte oscilação das Bolsas e das moedas é ainda “um susto” diante das incertezas sobre o impacto real do vírus.

Para a equipe econômica, a avaliação é que os preços do petróleo continuarão a ser afetados e que a demanda tende a cair. Isso porque haveria redução de viagens internacionais, além de menor circulação de pessoas, reduzindo a demanda por combustíveis.

“ Nas exportações, o impacto é inegável; na economia brasileira como um todo, nem tanto assim”, afirmou Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. “Se essa epidemia for mais intensa, é lógico que vamos revisar as projeções. Não somos uma ilha nesse mundo globalizado”.

O impacto da crise já entrou nas contas dos economistas para o primeiro trimestre. De acordo com a Bloomberg Economics, o ritmo de expansão da atividade na China pode recuar para 4,5% de janeiro a março, um patamar inferior aos 6% do último trimestre do ano passado.

A projeção é baseada na experiência anterior com a epidemia da Sars (síndrome respiratória aguda grave), em 2003, e nas mudanças da economia de Pequim desde então. Caso este prognóstico se confirme e o país retome o crescimento no segundo trimestre, encerraria o ano com uma expansão na faixa de 5,7%, o que significa desaceleração em relação aos últimos anos.

Kevin Tang, presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, acredita que, se a crise durar um período de dois a três meses, a balança comercial entre Brasil e China pode se recuperar até o fim do ano. Um prazo mais longo afetaria tanto exportações como importações.

O Brasil venderia menos soja, carnes, minério de ferro e petróleo. E compraria menos produtos industrializados em geral daquele país, como artigos de casa, mesa e banho, eletroeletrônicos em geral e móveis, entre outros.

O presidente da Aprosoja, Bartolomeu Braz Pereira, diz que a maior parte dos grãos já foi vendida para a China, e o que falta agora é a entrega: “Temos conversado com a embaixada do Brasil na China, o que nos deixa tranquilos”.

O brasileiro poderá sentir o efeito na economia por meio da inflação, em razão da escalada do dólar, principalmente em produtos mais sensíveis, como carne e farinha.

Fonte: Cenário MT