“Esse é um novo momento de transformação do agronegócio. Oportunidade para cadeias produtivas, biocombustíveis e o digital”. Essa é a avaliação do professor de Agronegócios da USP e FGV, Marcos Fava Neves. Em uma live promovida pela Agrishow, ele destacou o protagonismo do Brasil como fornecedor de alimentos para o mundo.

Neves destacou que a produção do agronegócio como um todo está descobrindo alternativas digitais para continuar trabalhando. Como exemplo atendimentos técnicos, aplicativos que conectam produtores e consumidores, caminhoneiros disponíveis para frete e daí por diante. “Nunca vi algo acontecer em tão pouco tempo impactar as cadeias produtivas. O digital veio para ficar. Todos entenderam que tudo pode funcionar no digital. Creio que vamos sair dessa muito melhores, renovados e muito mais fortes tanto no digital quanto na ação coletiva e na valorização do agro brasileiro” reforça.

Sobre o cenário de desabastecimento de alimentos no mundo o professor avalia que há risco de faltar alimentos já que há interrupção de trabalho em algumas cadeias, proibição de exportações e, nos Estados Unidos, por exemplo, grandes redes de frigoríficos fecharam. Neste contexto o Brasil ganha importância no contexto internacional do agronegócio no que ele chama como “produtor de comida”. Nos últimos meses diversos países fecharam acordos com o Brasil abrindo mercado. Somente em março Egito, China, Indonésia, Emirados Árabes, Kwait e Argentina habilitaram frigoríficos de carne bovina, frango, tilápia e genética bovina e de aves. “ O Brasil é um celeiro e tem um olhar diferenciado do mercado internacional. Tem que se aproveitar disso e trabalhar com mais inteligência e coordenação no que chamo de combinação de agrosoberania com neonacionalismo, ou seja, pensar como fortalecer o poder de venda dos alimentos que produzimos e como podemos agregar valor a isso”, explica.

Ele ainda sugere a importância do cooperativismo na questão. “As cooperativas brasileiras não precisam competir entre elas pra ver qual vende mais para o mercado internacional. Poderia ser feita uma associação onde cada uma mantem suas identidades, administração independentes mas fazem o comércio juntas. Assim há força. Porque se há competição é o comprador que manda no preço”, comenta.

O Brasil usa cerca 10% de seu território para a agricultura, sendo potência alimentar e sustentável. Para dar conta da demanda mundial de alimentos a tarefa é ampliar a área em 1 milhão de hectares por ano. “Áreas da pecuária podem entrar para a agricultura porque são perfeitamente produtivas em pequenas áreas. Temos um bom trabalho de logística, concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos e a atuação do exército na construção de infraestruturas podem remover a falta de competitividade de algumas regiões extremas do país”, finaliza.

Fonte: Agrolink