Discutir e apontar soluções para o déficit do milho em Santa Catarina foi o foco do Fórum Mais Milho que reuniu diversas lideranças do agronegócio, nesta quarta-feira (21), em Concórdia, oeste catarinense. A previsão da safra para 2018 é 2,4 milhões de toneladas, enquanto o consumo é de seis milhões de toneladas por ano. Entre as necessidades destacadas estiveram a melhoria da logística de escoamento de grãos até as agroindústrias.

A colheita deste ano tem uma queda estimada de 20,4% em relação à última safra. A redução da área plantada e os períodos de estiagem que comprometeram a produtividade das lavouras estão entre os fatores que justificam a redução da produção. Com isso, há necessidade de aumentar a importação do grão.

Na abertura, o secretário da Agricultura e da Pesca, Moacir Sopelsa, o presidente da Cooperativa Central Aurora Alimentos e vice-presidente para o Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), Mário Lanznaster, e o prefeito de Concórdia, Rogério Pacheco, reconheceram a força da agroindústria e dos produtores para a consolidação do agronegócio e salientaram a importância de discutir estratégias para suprir a necessidade de milho no Estado.

“Precisamos encontrar alternativas e não tenho dúvidas que o Poder Público será parceiro. Temos que pensar de fato nas ferrovias, mudar nossa lei de concessões e buscar soluções para que o milho produzido em outros Estados fique mais perto de Santa Catarina. Precisamos ter estrutura de armazenagem e de transporte. Afinal, nessa região, o agronegócio é responsável por cerca de 50% a 60% da economia dos municípios”, destacou Sopelsa.

O superintendente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC), Neivo Panho, salientou que o evento foi de fundamental importância para as cooperativas agropecuárias e agroindústrias da região. “Precisamos ter milho em quantidade, com preço e com qualidade no tempo adequado para sustentar a agroindústria como um todo. Não somente quem abate suínos, aves ou industrializa leite. Existe uma cadeia muito grande de geração de renda e de impostos que mantém a estrutura e sustenta toda essa região”.

O vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC), Enori Barbieri, destacou que o milho é o principal insumo de Santa Catarina. “Infelizmente, a cada ano que passa reduz a quantidade de produtores que plantam o grão. Chegou a hora de um debate mais profundo e de avaliar por que isso está acontecendo. No meu ponto de vista, como representante de Federação, é preciso que se valorize mais o produtor. Temos políticas públicas que estão fazendo seu papel, mas só isso não basta”.

Segundo Barbieri, a Federação entende que é possível o Estado ser autossuficiente de milho. “Com alta tecnologia poderíamos produzir 10 milhões de toneladas, mas para isso é necessário dar a garantia ao produtor que ele terá retorno. Precisamos de dois fatores básicos: uma sinalização de preço com venda futura, ou seja, um preço mínimo de garantia com lucratividade, e aproveitar um pouco dessa política de recursos públicos que o Governo Federal já dispõe para o incremento do milho, trazendo uma parte para bonificar o produtor catarinense”.

O presidente da Câmara para Assuntos de Transporte e Logística da FIESC, Mario Cezar de Aguiar, apresentou a agenda estratégica da indústria para a infraestrutura de transporte e logística de Santa Catarina. “Queremos analisar a estrutura existente para atender e fortalecer a infraestrutura do Oeste catarinense, tanto no sistema rodoviário como aeroviário, mas também na questão do insumo, principalmente rodoviário e futuramente a implantação do ferroviário”.

Para ele, é importante que existam modais diferentes de transporte e a ferrovia seria uma grande obra para o oeste. “O ideal seria uma ferrovia que ligasse o oeste ao litoral para interligar com a ferrovia litorânea e ter acesso aos nossos portos. Essa estrutura deveria também estar interligada à malha ferroviária nacional. O sistema interligado possibilita não só manter a nossa indústria aqui, mas também fortalecê-la na região”.

O diretor executivo do Sindicarne e da Associação de Avicultura do Estado de Santa Catarina (Acav) Ricardo de Gouvêa, participou do painel ‘Como garantir a rentabilidade para o produtor de milho no Estado’. “Como representantes das agroindústrias, observamos que a rentabilidade está associada a dois fatores: produtividade e comercialização. Se tivermos uma boa produtividade e boa comercialização, sempre haverá rentabilidade. Lembramos que o milho é um commoditie que está sujeito às variações do mercado mundial. Nós, no Brasil, temos outra questão que é a variação do dólar que também influencia em nossa exportação. No momento, por exemplo, com qualquer variação do dólar que vá para cima, teremos problemas e será necessário comprar lá fora”.

Na visão de Gouvêa, o Brasil é país excepcional. “Temos uma região que é excelência em produção de grãos e em outra que é referência em proteína animal. Diante desse quadro, o Governo Federal deve estabelecer políticas para incentivar a produção de grãos e priorizar o abastecimento onde se produz proteína para as agroindústrias que são responsáveis por gerar empregos diretos e indiretos. Nosso grande problema é frete”, observa o diretor executivo ao apontar que uma alternativa seria o Governo oferecer a subvenção no frete. “Esta é uma forma de manter uma atividade importante para nosso País”, conclui.

Rota do milho

Entre as alternativas discutidas esteve a Rota do Milho. Um novo trajeto ligando Paraguai a Dionísio Cerqueira pode fazer com que o frete reduza em até 70%. Com a concretização da Rota do Milho, o grão estará a 354 km de Dionísio Cerqueira, onde já existe um serviço de aduana, e a 555 km de Chapecó, maior centro de consumo do grão em Santa Catarina. Quase metade do trajeto feito pelos caminhões que trazem milho do Mato Grosso, por exemplo. Santa Catarina já importa milho do Paraguai, porém em uma rota mais longa, passando por Foz do Iguaçu.

O projeto da nova Rota do Milho ou conexão transfronteiriça foi apresentado em 2016 pelo Núcleo Estadual de Integração da Faixa de Fronteira de Santa Catarina e é uma iniciativa do Governo do Estado, SEBRAE/SC e entidades do agronegócio. A proposta é que o milho seja adquirido nos Estados paraguaios de Itapúa e Alto Paraguai, passe pelo porto de Carlos Antonio Lopez, em Itapúa, atravesse o Rio Paraná em balsas, entre em território argentino pelo porto de Sete de Agosto e siga até a divisa com o Brasil, chegando ao porto seco de Dionísio Cerqueira, em Santa Catarina.

Gouvêa realçou que a Rota do Milho é uma possibilidade de economia em frete. “A quantidade não mudará, até porque o Paraguai produz aproximadamente 3,5 milhões de toneladas. A Rota será fundamental para diminuir a quilometragem de frete e reduzir custos”.

Ao destacar a importância da Rota do Milho, o secretário ajunto da Agricultura e Pesca, Airton Spies, realçou que Santa Catarina depende de mais de 50% do milho de fora do Estado. “Ao avaliarmos do ponto de vista de logística, parece muito natural despertarmos interesse pelo milho do Paraguai que está a 400 km de Chapecó. Com a concretização da Rota do Milho teremos um grão mais próximo, de boa qualidade e que chegaria a um custo menor”, completou.

Spies complementou que Santa Catarina possui a maior produção de suínos do Brasil, é o segundo maior produtor de frangos e o quarto maior produtor de leite. “Essas atividades dependem de abastecimento de milho. Discutir essa estratégia de como suprir o déficit do grão é fundamental para nossa economia. Hoje, o agronegócio representa 29% do PIB de Santa Catarina e 61% desse PIB é formado por proteína animal. O milho é a base que sustenta nossa agropecuária. Sabemos que o Brasil tem milho suficiente, só que está longe daqui. Temos que buscar alternativas para trazer milho e ter suprimento suficiente a um custo que não derrube a viabilidade da nossa suinocultura e avicultura – principais atividades consumidoras”.

Fonte: MB Comunicação Empresarial/Organizacional