O desmatamento na Amazônia ao longo de 2019 agravou a situação de seca no Pantanal, criando um cenário propício para a propagação de grandes incêndios na região, como os registrados atualmente. A avaliação é da pesquisadora da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e presidente do Instituto Arara-Azul, Neiva Guedes.

“Alguns fatores propiciaram a grande quantidade de queimadas no Pantanal neste ano, mas aconteceu sobretudo porque nos últimos anos temos registrado aumento no desmatamento da Amazônia. Isso provocou uma menor formação de chuva e diminuição da umidade. O Pantanal é provido de água vinda da Amazônia por meio dos rios voadores. Então, a área desmatada, o tempo seco e as altas temperaturas formaram um conjunto de elementos que impediu a formação de chuvas. Consequentemente, o nível dos rios não se elevou e o Pantanal não foi inundado como é característico do bioma, criando assim uma paisagem com matéria orgânica altamente combustível”, explica Neiva, que é doutora em Ciências Biológicas e professora da pós-graduação em Meio Ambiente da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp).

De acordo com dados divulgados no início do ano pelo Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real (Deter), o desmatamento na Amazônia em 2019 foi 85,3% superior ao registrado em 2018. Essa foi uma das razões que também levou ao aumento no número de incêndios na floresta, com um salto de 30% nos focos de queimada no mesmo período.

A Amazônia, por ser a maior floresta tropical do mundo, tem um papel importante na regulamentação climática não apenas no Brasil, mas globalmente. As gotículas que pairam sobre o bioma, como resultado do processo de fotossíntese das plantas, formam massas de vapor d’água – os rios voadores – que irrigam diversas regiões, incluindo o Pantanal. “A Amazônia fornece serviços ecossistêmicos de grande importância. Além disso, ela estoca uma enorme quantidade de carbono, um dos gases responsáveis pelo efeito estufa. Se a floresta é destruída, o carbono vai para a atmosfera, piorando as consequências do aquecimento global e deixando o clima mais quente e seco”, explica o coordenador de Projetos Ambientais da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Emerson Antonio de Oliveira.

Medições do Serviço Geológico do Brasil apontam que a vazante do Rio Paraguai está registrando cotas próximas das mínimas históricas em diversos pontos ao longo da bacia hidrográfica. O órgão tem registrado os menores níveis dos últimos 50 anos.

Os incêndios no Pantanal, além de impactarem toda a biodiversidade local, têm gerado efeitos sobre a atividade econômica da região pantaneira, criando camadas de danos sociais, econômicos e ambientais que se sobrepõem umas às outras.

“No Pantanal hoje, além da pecuária, você tem uma forte atividade turística, baseada nos atrativos naturais da região e na biodiversidade nela existente. Com a pandemia, isso já estava afetado, com pousadas fechadas e guias turísticos sem trabalhar. Os incêndios agravam a situação, prejudicando toda uma cadeia que agora está parada e sem meios de sustento”, explica Neiva.

Foto: Christiano Antonucci – Secom – MT/Fotos Públicas

Fonte: Assessoria de Imprensa