O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou para baixo sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária em 2020, que deverá ser de 2,40%. A estimativa anterior registrava 3,80%, informou o Boletim Agro de abril. O desempenho da produção de bovinos e de soja justificou a revisão, segundo o boletim, mas apenas a primeira atividade sofre o impacto negativo da pandemia do Covid-19.

“A crise causada pela pandemia da Covid-19 pode estar causando impactos negativos para o mercado de carne bovina, que é a proteína de maior preço, e para a cana-de-açúcar, em função da redução forte do preço do petróleo, que afeta o preço do álcool”, indicou um trecho do boletim, ressaltando que o ajuste em relação “à previsão de produção de soja, por sua vez, nada tem a ver com a pandemia”.

Os pesquisadores do Ipea informaram ainda que, mesmo com a revisão, “o desempenho do setor se destaca positivamente nesta conjuntura recessiva atual”. Mesmo o ajuste na produção de soja aponta apenas para um crescimento menor, mas a previsão ainda é de safra recorde.

O Ipea ajustou as suas estimativas após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar os dados de março do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA).

“A revisão para baixo na estimativa de produção de soja do LSPA decorre principalmente de uma queda da colheita do grão no Rio Grande do Sul. Na comparação do LSPA divulgado em abril com o de março deste ano, houve recuo de 30,60% na previsão da safra 2019/20 para o estado, o que representa uma queda de 27,70% em relação à safra 2018/19”, indicou o Boletim Agro.

Mesmo com a queda na produção de soja no Rio Grande do Sul, o LSPA aponta para uma estimativa de alta de 6,40% na safra 2019/20 de soja em relação à safra 2018/19. É um cenário praticamente confirmado. “Não é esperada uma nova grande revisão nas estimativas do LSPA para safra recorde do grão, tendo em vista que a colheita está praticamente concluída na maior parte das regiões produtoras”, informou o boletim.

Já a produção de bovinos ainda está sujeita aos rumos da pandemia da Covid-19 e tende a ter impacto negativo. Só que a substituição por outros tipos de carne, como suínos e aves, ainda irá garantir crescimento de 2% no PIB da pecuária.

“O maior risco continua sendo a queda na produção de carne bovina, por ser a proteína mais cara. No entanto, as proteínas substitutas mais baratas, como carne de frango e ovos, tendem a ser favorecidas em situações de queda de renda, como a atual”, relatou o Ipea.

Os pesquisadores citam ainda dados do Departamento de Agricultura do Estados Unidos (USDA) e do Sistema de Inspeção Federal (SIF) brasileiro para mostrar que já há impactos negativos no primeiro trimestre.

Segundo o USDA, a estimativa de crescimento da carne bovina foi reduzida de 3,50% para 1,10%. Já os dados do SIF “indicam recuo de 10,20% dos abates de bovinos no primeiro trimestre em comparação com o mesmo período do ano de 2019”, enquanto os abates de suínos e aves “apresentam crescimento de 2,40% e 5,50%” na mesma base de comparação.

Mesmo assim, o cenário-base do Ipea considera uma recuperação na produção de bovinos no segundo trimestre.

Fonte: Broadcast Agro