País que já foi considerado sinônimo de alta tecnologia, o Japão deixou de ser o segundo no mundo a investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D) em 2006, quando foi ultrapassado pela China – os Estados Unidos lideram o ranking.

Mas, desde então, o Japão tem procurado aumentar os gastos no setor. Em 2006, o país investia 2,7% do produto interno bruto (PIB) em P&D, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Hoje, o total passou a 3,4% do PIB.

Além do aumento em investimentos em P&D, o Japão pretende desenvolver o setor por meio de parcerias com outros países em áreas estratégicas. O estado atual da ciência, tecnologia e inovação no país foi tema da palestra de Teruo Kishi, professor emérito da Universidade de Tóquio e, desde 2015, assessor de Ciência e Tecnologia do Ministério de Relações Exteriores japonês.

Kishi ressaltou a importância das colaborações internacionais em pesquisa. “Queremos ter mais pesquisadores japoneses colaborando em pesquisas no Brasil e mais pesquisadores brasileiros no Japão”, disse Kishi, que é também diretor do programa Structural Materials for Innovation (SM4I) da Japan Science and Technology Agency (JST) e presidente da Innovative Structural Materials Association, centro que reúne 38 empresas, dois institutos de pesquisa e uma universidade com foco no desenvolvimento de materiais mais leves para meios de transporte, principalmente automóveis.

Kishi, que foi um dos palestrantes do evento Ciência, Tecnologia e Inovação no Japão e no Estado de São Paulo, ocorrido no dia 31 de março na Japan House São Paulo, com apoio da FAPESP, comentou que ajustes orçamentários a partir de 2006 fizeram com que o Japão tivesse seu desempenho em P&D prejudicado.

“Muitas tecnologias modernas ainda nascem no Japão. Em alguns setores, como materiais ou energia, estamos em posição relativamente privilegiada, mas em outros, como tecnologias da comunicação e informação ou ciências da vida, não temos ido tão bem como outros países desenvolvidos”, disse.

Kishi destacou áreas estratégicas nas quais o Japão pretende continuar investindo nos próximos anos, como materiais estruturais, agricultura, pesca e aquicultura, tecnologias inovadoras em combustão, gerenciamento de infraestrutura, resiliência contra desastres naturais, manufatura e design inovadores (como impressão 3D), energia a partir do hidrogênio, segurança digital, sistemas para carros autônomos, exploração de recursos marinhos e eletrônica para uso eficiente de energia.

Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, ressaltou no evento que a cooperação internacional é um elemento muito importante para o desenvolvimento da ciência no Estado de São Paulo.

“Essa cooperação facilita com que a ciência feita no Brasil se torne mais conhecida mundialmente. Um exemplo é que, nos últimos anos, o número de trabalhos científicos produzidos por pesquisadores do Estado de São Paulo em colaboração com colegas do exterior tem aumentado significativamente. Isso é resultado de uma política bem estabelecida não só pela FAPESP como pelas universidades”, disse.

Segundo Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da FAPESP, a Fundação tem grande interesse em ampliar as colaborações com instituições japonesas. Ele comentou que a FAPESP mantém acordos com a Japan Science and Technology Agency (JST), a Japan Society for the Promotion of Science (JSPS) e as universidades de Hiroshima, Tokyo e Tsukuba, inclusive com chamadas de propostas que oferecem recursos para a realização de encontros e workshops a fim de escrever projetos conjuntamente e submetê-los à FAPESP e às agências japonesas.

“O importante é ter grupos de pesquisadores nos dois lados que sejam capazes de escrever conjuntamente bons projetos. E que a participação tanto de japoneses quanto de brasileiros seja relevante, que traga resultados. No passado, tivemos um número razoável de pessoas daqui que estudaram no Japão, muitos fizeram doutorado lá. Esses vínculos são importantes e gostaríamos muito que esse tipo de cooperação avançasse em várias áreas”, disse Pacheco.

Um passo importante na aproximação com o Japão, segundo ele, foi a cooperação estabelecida pela Universidade de São Paulo (USP) com a Universidade de Tsukuba, no período em que Zago foi reitor da USP (2014-2018).

“O governo brasileiro tem bastante interesse nas áreas de ciência e tecnologia do Japão e tem buscado o país nesse sentido. Durante a reunião do G20, em junho, devemos reforçar a parceria nessas áreas”, disse Yasushi Noguchi, cônsul-geral do Japão em São Paulo.

Também esteve presente no evento o presidente da Japan House São Paulo, Marcelo Mattos Araujo.

Edgar Dutra Zanotto, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), apresentou algumas das pesquisas realizadas no Centro de Pesquisa, Educação e Inovação em Vidros (CeRTEV) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela FAPESP.

Segundo Zanotto, existem hoje 400 mil composições diferentes de vidro e a área ainda tem muito a crescer. Em um cálculo simples dos elementos da tabela periódica compatíveis entre si, são possíveis 1052 (10 seguido de 52 zeros) combinações diferentes. “Estamos avançando nisso por meio de simulações computacionais e em parcerias internacionais”, disse.

Zanotto falou sobre vidros biocompatíveis, ultrarresistentes, que se tornam mais opacos ou mais translúcidos com uma corrente elétrica (dispensando o uso de cortinas), bactericidas e mesmo microesferas de vidro, que estão sendo testadas para tratamento de câncer.
 

Fonte: Agência FAPESP –