O ano de 2019 parece que chegou para a alegria da ansiedade coletiva dos brasileiros. Especulamos diariamente sobre tudo, mas na prática temos a turma que torce para que tudo funcione bem com a nova dinâmica que vem de Brasília. Os últimos debates que estou acompanhando mostram a dificuldade de saber como vai funcionar o Congresso em 2019 e como o Brasil vai avançar com o pacto técnico para simplificar e ajustar as demandas do agronegócio para que as inovações tecnológicas nunca mais demorem quase uma década para serem incorporadas pelos produtores brasileiros, como aconteceu com os transgênicos em que entramos com 7 anos de atraso por questões ideológicas e uma comunicação errada no lançamento da tecnologia. Incorporando isso no período entre 1999 e 2004, o conflito entre a Lei de Biossegurança antiga e a Lei Ambiental.

Hoje, por incrível que pareça estamos falando que a tecnologia dos transgênicos está fazendo parte do passado. Entra a era da edição de Genomas.

A discussão foi superada dentro do Brasil, que já oficializou que se tratar de meio tradicional com ação moderna, esta nova tecnologia. Regulamentar se é ou não transgênico ainda está em discussão no mundo, mas nas Américas – alinhando os países que respondem por 60% da produção de soja – já colocaram a inovação como não transgênica. A Embrapa fez parceria de colaboração com a empresa Corteva Agriscience para desenvolver a edição de genoma.

A parceria é para uso da tecnologia CRISPR-Cas9 , plantas de importância econômica com genoma editado visando melhoria da qualidade nutricional e industrial e tolerância à seca. Na mesma linha, a Aprosoja – Associação Brasileira dos Produtores de Soja assinou um memorando de colaboração com a empresa para acompanhar as pesquisas e a incorporação de novas tecnologias.

O milho ceroso é o primeiro produto comercial aprovado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBIO) com a tecnologia de edição de genomas.

O melhoramento preciso aumentou a quantidade de Amilopectina de 75% para 97%. Tecnicamente, é o que o mercado industrial busca. O amido de milho ceroso (com alta concentração de Amilopectina) apresenta boa estabilidade, alta solubilidade e baixa viscosidade e é relativamente fácil de gelatinizar.

Em Brasília, no evento AGRO CENÁRIO 2019 com o slogan “Cultivando o progresso da agricultura brasileira”, os especialistas se mostraram otimistas quanto à agilidade dos processos que estão por vir para criar um campo de negócios.

O secretário de Defesa Agropecuária Luis Rangel deixou uma frase que é um mantra para o futuro do agronegócio: “Nosso papel é receber e tratar bem as inovações”. Nesse sentido, é qualificar as demandas e facilitar o acesso, a página de copiar legislações está sendo virada. O Brasil não pode ir a reboque de outros países com realidades totalmente diferentes de produção e clima.

Por falar em frases, o novo presidente da FPA – Frente Parlamentar da Agropecuária, que vai substituir Tereza Cristina (que já está como ministra da Agricultura em transição), deputado Alceu Moreira mostrou a marca digamos que gauchesca de colocar de forma direta e assertiva o cenário real do Brasil. Tem desenvoltura para fechar o raciocínio sem “dourar a pílula”, quando falou sobre colar a ferramenta nas mãos de quem sabe o que está fazendo:

“O martelo tem que estar nas mãos certas, porque tanto pode pregar um prego como também destruir a cabeça do marceneiro”.

Falou isso elogiando as escolhas que estão sendo feitas para o Ministério da Agricultura. Em outro momento, o deputado – que é candidato à presidência da Câmara e está em plena campanha – destacou a importância do país pensar o agronegócio 10 anos à frente, com previsibilidade, para não improvisar, simplificar sem precarizar. Evitar o burocrata de plantão, ainda usando palavras do deputado, a logística é um sócio oculto que leva 18% do custo do produtor, e tem que reduzir para menos de 10%. Neste novo estilo de política que vem se desenhando, ele prega começar os diálogos com os pontos de convergências para, depois, avançar nos pontos de discórdia.

A futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que recebeu carta branca do presidente Jair Bolsonaro. Com isso, a responsabilidade aumentou. Vai juntar a agricultura da pequena, da média e da grande propriedade em uma classe unida, mas com políticas públicas para cada realidade. O ponto é evitar divisões para que a sociedade veja o setor como aliado e não inimigo.

A Ministra disse que vai cobrar da FPA ajuda para atuar nesta nova política e agilizar os encaminhamentos. Quando fala em agilizar sem prejudicar a sustentabilidade com relação às licenças ambientais cita o caso de Roraima, que até hoje não conseguiu liberação para uma linha de transmissão, por isso continua dependendo de energia elétrica que vem da Venezuela.

“Agilizar os processos, mas com mitigação ou compensação de todo efeito que possa ter no meio ambiente”, disse Tereza Cristina, que ainda ressaltou que vai fortalecer a ANATER para garantir assistência técnica de qualidade e ficar cada vez mais próxima da Embrapa.

A nova tecnologia traz uma tesoura de precisão, basta saber exatamente onde cortar. Assim vai ser a nova concepção das inovações e do cenário político que vem pela frente.

Marcelo Lara, jornalista e colunista do suino.com