Sem contar a guerra política travada nas redes sociais, como se ainda estivéssemos em campanha eleitoral, o cotidiano não está nada fácil.

No campo, a gasolina de aviação deixou os produtores no prejuizo e na expectativa para aplicar os defensivos em um período de tratamentos importantes para lavouras como soja, cana-de-açúcar e arroz, todas altamente dependentes da aviação agrícola. O Brasil tem a segunda maior frota aeroagrícola mundial; são mais de 2000 aviões e metade voa com AVGAS ( combustível de avião sigla em inglês); outros 35% utilizam etanol e 15% são movidos a querosene de aviação.

Enquanto na Esplanada dos Ministérios o Mapa ainda está organizando as pastas internas e planejando o ano, a Ministra Tereza Cristina  participou da abertura simbólica da colheita da soja no Paraná e assumiu o compromisso de tornar o seguro rural democrático e amplo. A Ministra  abraçou o desafio de mudar regras e aperfeiçoar na prática um seguro renda. Ela também mostrou-se otimista pela mudança de foco do Governo Federal que, na prática,  colocou o setor como um dos pilares da economia. Já estão sendo anunciados investimentos em infraestrutura para escoamento da safra, visando limpar a imagem dos atoleiros que se tornaram normais durante a colheita, uma meta que vai ter como consequência a redução do custo Brasil.

Grãos

São muitas frentes para que as engrenagens políticas voltadas para a agropecuária comecem a girar e dar os resultados esperados pela sociedade. Reduzir custos é importante num ano em que as expectativas são de recuo da exportação de soja em grão brasileira; fala-se em uma redução de $ 5 Bilhões de dólares. Já para o milho os sinais confirmam um ano de recuperação, podendo passar dos 30 milhões de toneladas; em 2018 foram 23 milhões.  Isso pode preocupar o abastecimento interno para suínos e aves.

Nesta safra 2018/19, o Brasil deve colher 237,3 milhões de toneladas e, se o volume for confirmado, o crescimento em relação ao ciclo 2017/18 será de 4,2%, a segunda maior safra da história, menor apenas que a 2016/17 (237,7 milhões). Enquanto isso,  no Mato Grosso, a briga é com o novo governo após o anúncio de aumento da cobrança do Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab). Só para a soja, o valor pode triplicar de R$0,80 para R$ 2,34. PRecisamos aguardar para ver, pois com os estados buscando receita, isso pode ter efeito cascata, com consequência direta no bolso dos produtores.

Essa avalanche de acontecimentos, permeada pela discussão política de um Brasil dividido, ficou pequena diante de um “crime ambiental e humano”. A tragédia de Brumadinho vem como um pesadelo ainda maior do que em 2015. Desceram o vale em Minas Gerais, 12 milhões de metros cúbicos de lama, quantidade menor do que a da tragédia de Mariana, mas com preço alto e irreparável.  A lama deixou dezenas de vítimas ao avançar sobre os municípios banhados pelo rio Paraopeba, que incluem Brumadinho, Mario Campos, Juatuba, São Joaquim de Bicas, Igarapé e Betim, arrasando tudo pelo caminho, destruindo vidas, sonhos, ferindo de morte a natureza.

Esta pausa nos acontecimentos provocada pela tragédia deve ser usada para conscientizar a sociedade em relação ao princípio básico da humanidade e da sustentabilidade. O sentimento é de revolta, de tristeza, nos sentimos incapazes de agir. O mundo virtual se transformou em uma guerra de egos feridos pela busca de quem tem mais razão mas, na prática, todos perdem a razão quando colocam a política em meio ao sofrimento das famílias impactadas pela tragédia.

 

Marcelo Lara